Guilherme Goulart
postado em 05/11/2010 12:39
O Hospital Regional da Asa Norte (Hran) admitiu, na manhã desta sexta-feira (5/11), falha no preenchimento do prontuário da empregada doméstica Maria do Amparo Teixeira, 52 anos, dada como morta ao receber alta da unidade de saúde. A assessoria de imprensa do Hran encaminhará uma nota de esclarecimento no início da tarde, mas adiantou ao Correio que houve "um erro de digitação".[SAIBAMAIS]O drama de Maria do Amparo começou em 23 de março deste ano, quando ela se submeteu a uma cirurgia na vesícula hospital. A operação transcorreu dentro da normalidade. Maria ficou três dias internada e, às 10h33 de 26 de março, acabou liberada pela equipe médica. O que ela não imaginava era o que seria escrito no prontuário. Segundo o documento, assinado por uma médica da rede pública de saúde, a paciente recebeu ;alta com óbito;.
Por mais estranha que a expressão pareça, revelou-se suficiente para transformar a vida de Maria do Amparo. Essas poucas palavras indicaram à burocracia pública que a piauiense radicada no Distrito Federal desde 1991 estava morta. Assim, a aposentada se viu impedida de fazer consultas e exames e conseguir receitas para medicamentos essenciais ao bem-estar.
;Já fui três vezes ao Hospital de Base (do Distrito Federal, HBDF) e não consigo ser atendida porque dizem que estou morta. Em nenhuma das vezes, os funcionários encontraram o meu nome no sistema;, lamentou.
A aposentada nem mesmo conseguiu fazer a revisão da cirurgia de vesícula, marcada para 16 de junho. A consulta caiu em um dia de jogo do Brasil na Copa do Mundo da África do Sul. Soube no local que não haveria expediente. Foi mais uma vez à unidade de saúde e nada. Maria do Amparo procurou ajuda. Encontrou na Subsecretaria de Proteção às Vítimas de Violência (Pró-Vítima), da Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania (Sejus). Ao ir em setembro ao HBDF, dessa vez acompanhada por uma servidora da Pró-Vítima, descobriu a informação do óbito no próprio prontuário.
A mulher, então, entrou em desespero. Isso porque a vesícula não é o único problema de saúde dela. Tem cistos no estômago, nos rins e no fígado, além de sofrer de hérnia de disco. Cada doença exige um tratamento, mas nem na fila de espera Maria do Amparo figura porque, para o sistema de saúde brasiliense, não vive mais.
;Para mim, parecia uma brincadeira. Quando a ficha caiu, fiquei perturbada. Eu levo a minha vida agora estressada. Às vezes, nem me reconheço mais no espelho. Às vezes, não sei mais quem eu sou. Penso se estou viva mesmo;, conta