postado em 09/11/2010 08:22
Basta chover para alguns pontos do DF sofrerem com as constantes quedas de energia elétrica. No último fim de semana, moradores e comerciantes passaram horas sem luz. Regiões como Park Way, Santa Maria, Vicente Pires, Guará e Lago Oeste sofreram com os apagões. A Companhia Energética de Brasília (CEB) afirma que a greve dos servidores, iniciada na semana passada, atrapalhou o atendimento das solicitações de restabelecimento do serviço. A empresa foi alvo de 256 reclamações no Instituto de Defesa do Consumidor (Procon), de janeiro até outubro. O número já supera em 32% o registrado em 2009, quando foram registradas 194 denúncias.
Em relação às interrupções deste fim de semana, a CEB informou, por meio da assessoria de imprensa, que com a greve dos funcionários o número de equipes de eletricistas que atendem a comunidade aos sábados e aos domingos caiu de 35 para 10. Segundo a Companhia, a chuva foi mais um agravante, uma vez que 95% da rede é aérea e, quando chove, as interrupções são inevitáveis. Além disso, a empresa afirmou ter investido R$ 58 milhões em melhorias na rede e em construções de subestações.
Perecível
Produtor de sorvetes e de mistura de açaí congelada, o empresário Francisco Lerda, 63 anos, reclama das constantes falhas do sistema de energia. No último fim de semana, ele ficou sem luz praticamente o dia todo. A demora para o restabelecimento do sistema preocupou o empreendedor, que possui uma fábrica no Setor de Abastecimento Norte. Mais de 1,2 mil caixas de polpa do fruto da Amazônia que estavam estocadas em dois freezers e em uma câmara frigorífica corriam o risco de estragar. ;Se descongelar e congelar, esses produtos começam a cristalizar, o que diminui a qualidade;, explica.
Francisco afirma ter feito várias reclamações à CEB desde as 14h de sábado, quando houve a interrupção. Por volta das 13h de domingo, os eletricistas da CEB chegaram para prestar o serviço. Às 13h40, os equipamentos da pequena indústria voltaram a funcionar. Mas as frustrações não pararam por aí. Ontem, alguns funcionários precisaram descartar 750 litros de calda para fazer sorvete, que estavam em fase de maturação antes da queda de energia. ;Só em material o prejuízo chega a R$ 3, 5 mil, sem contar o trabalho humano;, calcula.
Do outro lado da cidade, na Quadra 19 do Park Way, a família do consultor Paulo Torquato, 53 anos, também sofreu com a falta de energia. As oscilações da rede elétrica, que duraram todo o domingo, queimaram o modem e o roteador do computador da casa. ;Existe o direito de greve, mas eu acho um absurdo ficarmos sem um serviço público que é essencial;, reclama. Paulo acredita que vai precisar desembolsar R$ 250 para repor os equipamentos. A mulher dele, Rosane Torquato, disse que vai pedir o ressarcimento à CEB.
Reajuste
Os funcionários da CEB entraram em greve por melhoria nos salários na última quarta-feira. Eles reivindicam um reajuste de 23% e um abono salarial de R$ 5 mil. Ontem, a empresa apresentou nova proposta aos 1,3 mil empregados. A oferta de aumento subiu de 5,7% para 9% e o valor do abono de R$ 2,4 mil saltou para R$ 4 mil. A categoria, porém, não aceitou. A CEB já acionou a Justiça do Trabalho e a expectativa é que, ainda nesta semana, o Judiciário convoque as partes para uma reunião de conciliação
CONSUMIDOR TEM DIREITOS
Os consumidores que se sentirem lesados com as interrupções de energia devem buscar o ressarcimento do prejuízo. Segundo o diretor do Procon-DF, Oswaldo Morais, o primeiro passo é comunicar o dano à Companhia Energética de Brasília (CEB). No site da empresa, é possível acessar um formulário. Nele, o requerente deve relacionar os danos e apresentar informações sobre o dia e a hora da queda de energia.
;Se não obtiver êxito, o consumidor deve procurar auxílio no Procon. Nos vamos orientá-lo sobre como proceder. Se houver a necessidade, notificamos a empresa, que terá que se pronunciar por escrito;, explica Morais. ;Se for comprovada a má prestação do serviço ou o prejuízo, a empresa terá que fazer o ressarcimento.; O Procon conta com postos de atendimento em várias cidades do DF, como Taguatinga, Ceilândia,Brazlândia, Gama, Sobradinho e Planaltina. Quando o auxílio do órgão não é suficiente, o jeito é recorrer à Justiça.
Sem água
Além de ficar sem luz durante o fim de semana, o engenheiro Caeteano Ulharuzo, 48 anos, também ficou sem água. Na Rua 19 do núcleo rural do Lago Oeste, onde mora, não há água encanada. O abastecimento é feito por meio de poços artesianos. ;Sem energia, a bomba não funciona;, explica. O jeito foi improvisar um balde amarrado a uma corda para pegar o líquido. ;Não dá para tomar banho, é só um asseio;, reclama a namorada do engenheiro, Juliana Rebelo, 28. Segundo a estudante, a energia não tinha voltado até o início da tarde de ontem.
O músico Ivan Fernandes, 21 anos, levou um susto no último sábado. Por volta das 16h, a fiação do poste em frente à casa onde mora, na QE 42 do Guará II, pegou fogo. Segundo ele, as faíscas caíram do alto da lâmpada e corroeram parte do asfalto. ;Esperamos por mais de meia hora o caminhão da CEB para que eles religassem a energia;, conta. Ivan acrescenta que o problema na região é frequente. ;É só começar a chover que falta luz. A rede elétrica da quadra precisa de manutenção;, protesta.