Roberta Machado
postado em 09/11/2010 08:39
As oito passagens subterrâneas que ligam as quadras ímpares e pares da Asa Norte deveriam ser uma opção segura para os pedestres que precisam atravessar o Eixo Rodoviário Norte, mas a realidade é bastante diferente: a travessia entre os eixos W e L é marcada pelo descaso, que pode ser visto nos buracos no chão, pichações, acúmulo de lixo e lâmpadas danificadas. A situação fica ainda mais difícil na época das chuvas, quando os canos de escoamento entopem e favorecem o acúmulo de água, deixando os pedestres com a escolha de enfrentar as poças fundas ou se aventurarem entre os carros que passam a 80 quilômetros por hora na pista.Há duas semanas, Tânia Emediato, 58 anos, moradora da Asa Norte, espantou-se quando caminhava para o Clube da Vizinhança. A dona de casa percorreu metade da passagem subterrânea que sempre usa no trajeto para a aula de hidroginástica, mas foi obrigada a subir na grama e terminar a travessia sobre a pista ; o acesso à escada estava bloqueado pelo acúmulo de água causado pela chuva que caíra no dia anterior. Segundo Tânia, a saída de escoamento estava entupida por lixo, terra e plantas há alguns dias. ;Estava tudo tampado, está tudo sempre sujo e muito escuro;, criticou.
Após dois dias de ligações para diferentes órgãos, a dona de casa conseguiu transmitir a denúncia para o Serviço de Limpeza Urbana (SLU), que desobstruiu as bocas de lobo, liberando a saída da água suja acumulada. ;Espero que ao menos assim saibam da reclamação do povo;, disse. Questionado sobre o episódio, Expedito Apolinário, superintendente de Orientação, Controle e Fiscalização do SLU, informou que a limpeza das passagens subterrâneas é realizada à noite, de segunda-feira a sábado. ;O problema é que, se ficamos um dia sem fazer o serviço, dá a impressão de que há semanas ele não é feito;, justificou, lembrando que moradores de rua costumam ocupar os locais.
;A população pode ajudar não jogando lixo, não pichando. Caso encontrem qualquer problema que seja da alçada do SLU, também podem ligar na ouvidoria e nos avisar;, pediu. Segundo Apolinário, ao menos um problema será amenizado em breve: o SLU planeja começar em duas semanas um mutirão para retirar as pichações dos azulejos das passagens subterrâneas.
Perigo
O aspecto de abandono é um convite ao descuido e ao crime, que se multiplica na escuridão das passarelas sem iluminação. Cristiane Fagundes da Costa, 33 anos, caixa, moradora de Samambaia, conta que já foi assaltada quando ia para o trabalho e, desde então, não confia na segurança do local. ;À noite eu nunca atravesso. Prefiro arriscar a vida na rua ou pagar outra passagem.;
Por sorte, no dia do incidente, ela não estava acompanhada da filha Anna Carolina, 7 anos, que sempre caminha com a mãe em direção ao colégio. O cuidado é redobrado quando a criança está presente. ;Eu sempre paro antes e vejo se tem alguém passando. Não desço se estiver vazio.; Segundo Anna Carolina, um dos maiores motivos para a apreensão é a falta de iluminação nas passagens subterrâneas. Ela aponta as lâmpadas danificadas que, em sua opinião, deveriam funcionar mesmo durante o dia. Mas a escuridão é apenas o problema mais aparente das passagens subterrâneas da Asa Norte: ela ainda esconde o piso rachado, a falta de grades de proteção nas bocas de lobo e as paredes danificadas.
Obras
Embora a situação seja urgente, segundo o diretor do Departamento de Estradas de Rodagem (DER), Genésio Tolentino, a revitalização das passagens subterrâneas ainda deve demorar. O diretor explica que o departamento apresentou em 2009 um projeto para a reforma geral das 18 passarelas do Plano Piloto, mas a verba para a obra ainda não foi liberada. Seriam necessários R$ 20 milhões para a realização do projeto, cuja liberação está nas mãos da próxima gestão do DF. ;O próximo governo é que vai decidir. O que eu posso adiantar é que este ano não há recursos para executá-lo;, explica.
Entre as modificações previstas, estão uma nova pintura, a adaptação para a travessia de portadores de necessidades especiais e a instalação de novo piso, sinalização e iluminação mais resistente. O plano também conta com a construção de uma ciclovia ao lado do Eixo Rodoviário, obra que custaria mais R$ 10 milhões, totalizando uma verba de R$ 30 milhões, além da necessidade da autorização do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do DF (Iphan) para a intervenção. O diretor do DER ainda estima que a obra deva levar cerca de oito meses para ser concluída, a contar do início dos trabalhos. Como nenhuma intervenção deve ser feita antes do término da época de chuvas, Gervásio Tolentino alerta: os pedestres provavelmente não poderão desfrutar das novas passagens antes de 2012. ;O provável é que a obra seja executada em dois anos. Mas vai depender justamente do próximo governo.;
EU ACHO...
;Passo por aqui todo dia, e é muito sujo. Já vi fezes humanas, gente deitada no chão e rato por aqui. De bicicleta é mais tranquilo, prendo a respiração e vou no embalo. Às vezes passa o caminhão pipa e lava as passagens com água, mas eu acho que essa operação deveria ser mais frequente. Eles limpam às 18h, 19h, quando as pessoas ainda estão passando.;
Victor Santos, 30 anos, programador, morador da Asa Norte
;Às 19h30 você não consegue mais passar aqui por causa do medo. Não tem horário para assalto. Parece que o lugar foi feito para apoiar os assaltantes. Ninguém tem confiança, às vezes você vê até calcinha nessas passagens. Sempre tem água no chão, junta até inseto. É ridículo isso. O desprezo é horrível, você não vê policiamento. Eu acho que deveria ter uma reforma geral.;
Maria Nunes Leitão, 59 anos, dona de casa, moradora da Asa Norte
Victor Santos, 30 anos, programador, morador da Asa Norte
;Às 19h30 você não consegue mais passar aqui por causa do medo. Não tem horário para assalto. Parece que o lugar foi feito para apoiar os assaltantes. Ninguém tem confiança, às vezes você vê até calcinha nessas passagens. Sempre tem água no chão, junta até inseto. É ridículo isso. O desprezo é horrível, você não vê policiamento. Eu acho que deveria ter uma reforma geral.;
Maria Nunes Leitão, 59 anos, dona de casa, moradora da Asa Norte