Cidades

Meninos se destacam: um é craque nas exatas e o outro mestre com palavras

Felipe é craque nas exatas e ganhou medalha de bronze em uma olimpíada internacional de química. Pedro, que se destaca na destreza com as letras, é finalista em uma competição de português e disputa a medalha de ouro em um evento nacional

postado em 09/11/2010 08:45
Felipe Mendes dos Santos, 17 anos, já coleciona muitas medalhas, mas não se acomoda: Felipe Mendes dos Santos tem 17 anos. Durante 120 dias, foram cerca de 4 horas de estudos diários, mais de 3.600 páginas de teorias e exercícios, dois meses de experimentos em laboratório. Uma soma de esforços para garantir mais uma vitória ao jovem. Medalha de bronze na 15; Olimpíada Iberoamericana de Química, Felipe foi um entre os três brasileiros que representaram o país no campeonato, realizado entre 22 e 29 de outubro na Cidade do México. Ele é o primeiro brasiliense classificado para um campeonato internacional em química. O evento contou com equipes de 13 países, cada uma formada por quatro estudantes do ensino médio.

Membro da Seleção Brasileira de Química, o jovem foi selecionado para a Olimpíada Iberoamericana após as seis etapas da nacional, em que obteve a medalha de prata, classificado como o quarto melhor do país. No México, ele passou por dois dias de provas teóricas e práticas. O segredo para encarar o desafio? Calma e muito estudo. ;Em todas as etapas, eu me mantive tranquilo. Estudei na escola e aproveitada as aulas do curso pré-vestibular que vinha fazendo. Isso foi o bastante para garantir meu bom desempenho nas etapas nacionais. Acho que a confiança foi o que mais me ajudou;, conta. Ao ser classificado para o campeonato internacional, ele intensificou seu ritmo. ;Passei a estudar conteúdos em livros universitários, coisa que já vinha fazendo por vontade própria, mas que nesse momento, foi essencial.;

O bom desempenho na competição não é novidade para Felipe. ;Desde a quinta série, quando passei no concurso de vagas do Colégio Militar de Brasília, disputo títulos em olimpíadas de matemática, física, astronomia e química;, lembra o jovem. Ao todo, são três medalhas de ouro e três de prata, conquistadas em campeonatos nacionais, e a mais nova medalha de bronze, recebida no México. Tímido e reservado, Felipe é reconhecido na família e entre os professores pela dedicação aos estudos. No Colégio Militar, suas notas mais baixas não estão abaixo de 9. O capitão Elias de Carvalho, professor de química de Felipe, acredita que o forte preparo para desafios na área de exatas fez com que o aluno se destacasse, sempre acima da média, entre os colegas na escola militar. ;Ele é um excelente aluno. Além de inteligente, destaca-se pela humildade, pela disponibilidade em ajudar os amigos e pela dedicação;, resume.

Fascinado por números, o jovem já escolheu a futura profissão: vai ser engenheiro. Desde que voltou do México, Felipe retomou a rotina pesada estudos para garantir a entrada no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). ;Minha prioridade agora é passar para a universidade e me dedicar aos estudos. Nada de concurso ; como meu irmão mais velho decidiu ; ou novas olimpíadas. Esta provavelmente é minha última medalha;, afirma, decidido. Quando questionado se sentirá falta das competições, ele abre um sorriso: ;Que nada, agora está na hora de começar um futuro diferente;.

OS NÚMEROS DE FELIPE

Matemática
Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (Obmep): ouro (2009)

Astronomia
Olimpíada Brasileira de Astronomia (OBA): ouro (2009) e prata (2010)

Física
Olimpíada Brasileira de Física (OBF): prata em (2008 e 2009)

Química
Olimpíada Brasileira de Química (OBQ): ouro (2009) e prata (2010)
Olimpíada Iberoamericana de Química: bronze (2010)


... e o arquiteto das palavrasPedro Kennedy Oliveira, 16, anos, tem o dom da escrita e inspira-se no dia a dia: uma volta de ônibus rendeu crônica elogiada pela professora
Um olhar delicado sobre os detalhes da vida que a maioria das pessoas deixa passar. Um senhor que canta as felicidades do dia entre os passageiros de um ônibus lotado. O sonho daquele casal que se beija no parque. O joão-de-barro que constrói a casinha em plena cidade, sem ser notado, no topo do poste de luz. Foi inspirado por esses símbolos e personagens que o estudante Pedro Kennedy Oliveira, 16 anos, transformou em prosa e prêmio aquilo que viu nas ruas de Samambaia, no caminho para o Centro de Ensino Médio 1 do Núcleo Bandeirante. Finalista da Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro, na categoria Crônicas, Pedro está se preparando para disputar com outros cinco estudantes, também do primeiro ano do ensino médio, a medalha de ouro da competição. A final será realizada em Brasília, no dia 29 deste mês.

Pedro, que nunca tinha produzido uma crônica, contou com a orientação da professora de português Jane dos Santos. Juntos, eles passaram por seleções da Regional de Ensino do Núcleo Bandeirante, do Distrito Federal e do Centro-Oeste e agora caminham para a seleção nacional. ;Desde maio estamos nos preparando em oficinas de redação. Tive o azar de perder uma das aulas em que produziríamos crônicas, para testar nossas habilidades. A redação que fiz durante todo o semestre foi a definitiva, inscrita no concurso;, conta. ;Pedro chegou no dia seguinte com uma folha de caderno dobrada no bolso, um pouco cansado porque tinha ficado até mais tarde escrevendo. Mas ele estava feliz, otimista, sorrisão no rosto. Sabia que o texto lhe renderia um prêmio. Só não sabíamos que chegaríamos tão longe;, lembra a professora.

O jovem escritor estava confiante porque acreditou que seu maior objetivo havia sido atingido. ;Eu queria contar uma história sobre o dia a dia das pessoas que muitas vezes não têm tempo para mais nada, a não ser pensar nos próprios problemas. Antes de escrever, passei dias com uma imagem na mente que havia me emocionado muito. Decidi que deveria começar por ali.; Pedro anda de ônibus, todos os dias. ;Tudo é sempre muito igual. Naquele dia, porém, um senhor, com seus mais de 50 anos, começou a tocar pandeiro, tão alegre e brincalhão. Todas as pessoas no ônibus começaram a acompanhar, cantando e rindo alto. Fiquei curioso, pois, de onde eu estava, só conseguia ouvir o som, mas não de onde vinha. Só ao descer foi que vi uma cena que me emocionou: era um cego quem trouxe alegria ao dia normal de tanta gente normal.;

Da lembrança de Pedro nasceu a crônica Beleza cega. ;A emoção e a sutileza que Pedro consegue trazer ao texto, para mim, são dignas dos melhores escritores;, destaca a professora Jane. Na etapa semifinal, realizada em Curitiba (PR), Pedro fez uma nova crônica. ;Pediram que todos dessem um passeio pelo Jardim Botânico da cidade e que lá buscássemos a inspiração para o novo texto. Vi um casal se beijando, fotografei. (...) Eu era ele, o jovem apaixonado, dando a ela seu primeiro beijo;, revela Pedro, sobre a nova obra, Seu primeiro beijo, ainda em fase de avaliação para a etapa final da olimpíada. ;Nessa etapa, os candidatos escrevem sozinhos e sem nossa correção;, explica a professora. ;Mas estou confiante no desempenho dele. É como ele me disse, emocionado, ao chegarmos a Brasília: ;Já está valendo a pena;;.

TRECHO DE BELEZA CEGA

;O ônibus para. As pessoas descem, olho para frente e me deparo com um cego tocando pandeiro, passando toda a sua alegria ao instrumento. É hora de descer. Estampo um belo sorriso em meu rosto, admirando aquele talento. Desço do ônibus com a certeza de que a verdadeira beleza de Brasília não está apenas nas curvas de Niemeyer, e sim, nas pessoas que dão vida à nossa cidade.;

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