Cidades

Zebrinhas estão desconfortáveis e perigosos mas ainda agradam usuários

postado em 11/11/2010 08:06
Poucas linhas do transporte público levam os passageiros à plataforma superior da Rodoviária do Plano Piloto, como os zebrinhas. Mas os pneus carecas (no detalhe) são um risco à segurançaO que nasceu como símbolo do conforto no transporte público do Distrito Federal caminha para a decadência. Concebidos para facilitar a locomoção dos moradores do Plano Piloto, os zebrinhas protagonizam acidentes (veja Memória) e deixam os passageiros receosos na hora de embarcar nos micro-ônibus listrados. A imprudência dos motoristas e os atrasos figuram entre as maiores reclamações. Em média, cinco pessoas por mês denunciaram o descumprimento de horários e a má conduta dos motoristas à Ouvidoria do Governo do DF (veja quadro) neste ano.

Mais da metade das reivindicações concentra-se no tempo que os usuários do Sistema de Serviço Especial de Transporte de Vizinhança esperam nas paradas. Segundo o Transporte Urbano do Distrito Federal (DFTrans), todo o restante dos problemas relatados se relaciona ao desrespeito por parte dos próprios operadores das linhas. Em alguns casos, os passageiros afirmam que os motoristas chegam a ouvir música em celulares ou rádios de pilha enquanto fazem os percursos. O órgão garante que todas as denúncias passam pelo avaliação da área técnica.

O estado de conservação de alguns dos carros também coloca os passageiros em alerta. Um veículo destinado à L2 Norte, por exemplo, deixou o terminal da 216/416 Sul na manhã da última terça-feira com os pneus carecas. A frota do sistema que um dia pareceu luxuoso (veja Para saber mais) chega a 95 automóveis, operados pela Lotaxi e Condor, ambas da Viplan, empresa de Wagner Canhedo Filho. O responsável pelo grupo viário, por meio da assessoria de imprensa, se recusou a comentar a situação atual dos ônibus e os recentes acidentes. No ano passado, a direção da empresa anunciou a substituição de 33 veículos da frota.

A espera no ponto da 504 Sul é comum para o universitário Michel Ribeiro, 21 anos. O estudante de direito sai da faculdade às 11h30 e segue para a empresa onde trabalha, no início da L2 Norte. ;Às vezes, fico meia hora na parada até o ônibus passar. Há ainda os casos em que a gente dá sinal e o motorista não para;, conta. Mesmo com os atrasos, Michel constata que a procura pelo veículos do sistema é grande. ;O governo deveria oferecer mais carros. Na maioria dos casos, os bancos estão todos lotados. Muita gente usa os zebrinhas;, observa.

Os episódios de imprudência se repetem com quem sempre usa o transporte de vizinhança. A professora particular Adriana de Medeiros, 24 anos, dá preferência ao serviço porque os coletivos vermelhos e brancos passam perto do bloco onde mora, no fim da Asa Norte. ;Já estive em ônibus em que o motorista avançou o sinal vermelho;, relembra. ;Alguns condutores têm o costume de parar fora do recuo das paradas. Com isso, o risco de batidas aumenta;, acrescenta. Adriana também reclama que os veículos não cobrem todas as quadras do Sudoeste.

Táxi
Os zebrinhas tiveram tempos de glória em Brasília. A servidora pública Mary Batista de Moura, 45 anos, lembra-se de quando os micro-ônibus começaram a circular pelo Plano Piloto. ;As passagens eram bem mais caras e, por dentro, era um luxo. Era quase como andar de táxi;, descreve. Mary ainda anda no transporte de vizinhança todos os dias do Setor de Autarquias Norte para a Asa Sul, bairro onde mora. ;O número de pessoas usuárias aumentou e, de certa forma, a qualidade caiu. Alguns bancos estão pichados e com lixo. Mas ainda são a melhor opção para a população;, avalia.

À frente do volante, os motoristas se defendem das acusações de imprudência no trânsito. O condutor Ricardo Araújo, 35 anos, cita a má conduta das demais pessoas que trafegam pelas ruas da cidade. ;Os passageiros reclamam, mas a culpa nem sempre está do lado de cá. Muitas vezes, levei fechadas de outros carros. Os motoqueiros também não costumam respeitar a sinalização das pistas e trocam de faixa sem pensar. Sem contar o agravante das chuvas;, enumera.

O governador eleito do DF, Agnelo Queiroz, prometeu resolver os imbróglios do transporte público quando assumir o comando da cidade. Apesar de, segundo a assessoria de imprensa, não ter desenvolvido planos específicos para a questão dos zebrinhas, o plano apresentado pelo petista durante a campanha envolve o incentivo ao deslocamento de pedestres. Além disso, Agnelo afirmou intenções de restaurar o planejamento de tráfego e de resgatar as medidas de segurança e educação contra a violência no trânsito.

MEMÓRIA

Dois acidentes em oito dias
Na última segunda-feira, um zebrinha bateu em um Peugeot 206 e invadiu o Maristão, no fim da L2 Sul. Ficou pendurado na cerca da escola, mas ninguém se feriu. Houve duas versões sobre o acidente. O motorista do carro particular, o publicitário Ricardo Menezes, 22 anos, disse que saía do retorno para entrar na pista, quando o micro-ônibus teria avançado o sinal vermelho e atingido a traseira do veículo que guiava. O condutor do coletivo, Júlio César Santos de Carvalho, 28, no entanto, afirmou que o semáforo havia acabado de abrir e que o automóvel invadiu a via em sua frente.

Em 1; de novembro, outro veículo do sistema de vizinhança se envolveu em uma batida inusitada. O motorista, José Menezes, perdeu o controle da direção, na altura da 214 Norte, derrubou a cerca, passou entre as árvores e bateu no prédio da administração do Parque Olhos D;Água. José teve escoriações leves, mas passa bem.

PARA SABER MAIS

Luxuoso começo
Em julho de 1980, o então secretário de Serviços Públicos, José Geraldo Maciel, criou o sistema dos Zebrinhas.O ex-governador Aimé Lamaison assinou o decreto e os micro-ônibus começaram a rodar no ano seguinte. Na época, os bilhetes custavam 40 cruzeiros, enquanto a tarifa dos coletivos convencionais era de 25 cruzeiros. Por conta do preço, o transporte era considerado de luxo.

Até hoje, os zebrinhas só trafegam no Plano Piloto, no Aeroporto, no Sudoeste e na Octogonal de segunda a sexta-feira. O nome se deve às listras da lataria dos carros, pintadas em branco e vermelho. Os moradores de Brasília deram o apelido carinhoso à frota, por meio de uma pesquisa realizada com a população na época do lançamento do novo serviço de transporte público. Segundo o DFTrans, a tarifa cheia é de R$ 3,20 e a de passe estudantil é de R$ 1,06.

Listras em xeque
Reclamações contra os zebrinhas de janeiro a outubro deste ano:
Descumprir horário - 28
Conduzir de foma inadequada - 10
Parar fora do ponto - 5
Utilizar som mecânico - 5
Não aguardar o embarque - 2
Parar afastado do ponto - 1
Problema de troco - 1

Fonte: DFTrans


Claúdia Passos, 33 anos, secretária, moradora de Planaltina
;Nos horários de pico, a viagem demora muito. Quando o zebrinha passa por dentro de lugares movimentados, como o Setor Comercial Sul ou o Setor de Autarquias Sul, o percurso parece que não vai mais acabar. Já demorei mais de uma hora para ir da Esplanada dos Ministérios à 704 Norte.;

Cleonice das Neves, 38 anos, contabilista, moradora da Asa Norte
;O tempo de espera é grande. O intervalo entre um ônibus e outro deveria ser menor. Ainda assim, dou preferência aos zebrinhas por conta da comodidade. Quem conhece os ônibus comuns sente a diferença. No transporte de vizinhança, os bancos são mais confortáveis.;

Joice Gomes, 26 anos, secretária, moradora de Ceilândia
;Por dentro do ônibus, o espaço é muito pequeno. Os mais gordinhos têm dificuldades para ultrapassar a roleta. Há ainda a falta de assentos preferenciais. Além disso, acho um absurdo os zebrinhas não darem gratuidade aos deficientes físicos e aos idosos.;

Luiz Carlos da Silva, 48 anos, construtor, morador do Gama
;Sempre pego o zebrinha da área central para a W3 Sul. Os motoristas correm muito, mas é bem mais rápido para chegar ao destino final. E eles passam em lugares mais acessíveis. Se estiver chovendo, posso pegar o zebrinha do Conjunto Nacional e não preciso me molhar até chegar à Rodoviária do Plano Piloto.;

Lídia Freire, 22 anos, universitária, moradora do Cruzeiro
;O zebrinha é um bom transporte. Com ele, o tumulto é menor e a limpeza é maior. Deveriam existir mais carros para atender toda a demanda. A empresa também deveria renovar com mais frequência a frota e fazer com que os motoristas cumprissem os horários. Às vezes, tenho que esperar meia hora na parada.;

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