Helena Mader
postado em 13/11/2010 07:02
Para controlar a disseminação de bactérias e evitar um novo surto de infecção hospitalar entre bebês, as equipes do Hospital Regional da Asa Sul terão que enfrentar dois desafios: reduzir a superlotação da unidade e aumentar a rigidez no cumprimento de normas técnicas, como a higienização das mãos antes do contato com os pacientes. A primeira medida foi restringir o atendimento a gestantes até que o problema das contaminações esteja controlado. Mas o Hras esbarra em outro problema crônico da rede pública do DF: a falta de material hospitalar e de insumos básicos, como recipientes de álcool em gel, sondas, cateteres, bolsas coletoras e esparadrapos especiais para bebês.Diante do surto de infecções hospitalares entre recém-nascidos, causadas pelas bactérias Serratia, Estafilococos e Klebsiella Pneumonia, o diretor do Hospital da Asa Sul, Alberto Henrique Barbosa, explica que os funcionários da unidade de saúde vão reforçar as medidas de higiene recomendadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). ;A higienização das mãos é um fator determinante na contaminação e também um dos mais fáceis de ser implementados;, afirma Alberto.
O diretor garante que, uma vez que o controle de infecção hospitalar do Hras detectar a diminuição do número de mortes associadas à contaminação pelas bactérias, o atendimento da maternidade será normalizado. ;Nosso objetivo principal agora é reforçar as medidas de higiene recomendadas pela Anvisa mas, para isso, aguardamos a liberação de insumos como os dispensadores de álcool em gel;, afirma o diretor do hospital. De acordo com a Secretaria de Saúde, esse material deve ser entregue até terça-feira.
Manual
Em 2005, a Sociedade Brasileira de Pediatria lançou um manual de prevenção e controle de infecção hospitalar em unidades pediátricas. De acordo com o documento, os principais fatores de risco para contaminação de recém-nascidos internados são a desproporção entre o número de bebês e a quantidade de profissionais; além do número de recém-nascidos acima da capacidade do local. Quanto menor o peso e quanto mais prematuro é o paciente, menor é a imunidade e maior é o risco de infecção hospitalar. Procedimentos como coletas de sangue, intubações e uso de cateteres podem ser portas de entrada de bactérias para os bebês.
O infectologista e pediatra Bruno Vaz, que integra a Sociedade Brasileira de Pediatria, explica que a única forma eficiente de prevenir as infecções hospitalares entre as crianças recém-nascidas é o respeito às normas técnicas. Ele conta que o surgimento desse problema é um reflexo da lotação da UTI e do berçário. ;É preciso haver um equilíbrio entre a quantidade de servidores e de pacientes. Um profissional não pode tomar conta de um número muito grande de bebês;, acrescenta o especialista.
Combate
Como prevenir infecções hospitalares em bebês e crianças
- A principal recomendação éa higienização constante das mãos, com lavagem e desinfecção com álcool em gel a 70%;
- O uso de luvas é importante, principalmente para procedimentos como coleta de sangue. Mas ele não substitui a higienização das mãos;
- Pacientes com micro-organismos altamente transmissíveis devem ser acomodados separadamente
- Os profissionais devem usar máscaras e proteção na realização de procedimentos de risco de contaminação de mucosas, como boca, olhos ou nariz;
- Aventais, sapatos fechados e protetores de sapatos são importantes para proteger os profissionais;
- A lavagem das roupas e dos lençóis de maneira adequada reduz bastante os riscos de infecção nos hospitais.
Salários em dia no HRSM
O atraso no pagamento dos salários dos funcionários do Hospital de Santa Maria (HRSM) ocasionou, por aproximadamente uma hora na tarde de ontem, a paralisação do trabalho de 10% do quadro de servidores. O interventor da unidade de saúde, Cláudio Bernardo Pedrosa de Freitas, disse que problemas como esse foram um dos motivos que levaram o GDF a decretar a intervenção no hospital. Há dois dias no comando do HRSM, ele destaca que a unidade está sendo subutilizada entre 30% e 50% do seu potencial. Com a experiência de quem administrava o Hospital Regional de Samambaia, Freitas afirmou que há alas de internação sem pacientes.
Sem receber os salários de novembro, que deveria ter sido creditado no quinto dia útil do mês, cerca de 170 funcionários ; de um quadro de 1,7 mil ; decidiram cruzar os braços. Em menos de uma hora, a equipe de transição reuniu-se com os funcionários e assegurou que o pagamento sairia ontem. Às 15h30, o dinheiro entrou na conta dos funcionários correntistas do Banco de Brasília. Os que recebem por outra instituição financeira terão que aguardar pelo pagamento até a próxima terça-feira. Com o acordo cumprido, os servidores retomaram as atividades.
Segundo um dos integrantes da equipe de intervenção, Eduardo Koatz, o grupo abriu na última quarta-feira uma conta no BRB para fazer os pagamentos dos servidores e fornecedores. ;Na quinta-feira, demos um cheque avulso para o banco fazer os pagamentos, mas a gestora ainda não havia passado a folha de pagamento, o que só aconteceu ontem.; Os fornecedores também estavam com o pagamento atrasado, mas o interventor garantiu que a situação foi regularizada.
Além da instabilidade financeira, a preocupação de quem trabalha no HRSM é a demissão, prevista para 21 de janeiro, data em que o contrato com a Real Sociedade de Beneficência será encerrarado. Esse é o caso da técnica em enfermagem Zilda Veiga, que trabalha há um ano no local. ;Gostaria que o contrato fosse prorrogado;, disse. O decreto que prevê a intervenção determina que todos os funcionários do hospital sejam escolhidos por meio de concurso público.
Subutilização
A equipe de intervenção conta com uma verba que poucas instituições públicas têm à disposição: R$ 11,4 milhões mensais. Para Cláudio Bernardo, como a demanda da área é grande, se for viável, os recursos serão usados para aumentar a oferta de serviços. ;A estrutura do hospital, que é excelente, permite esse aumento. Hoje, ela não é usada em sua plenitude;, diz. Ele acredita ainda que para enfrentar a subutilização, uma das soluções possíveis seria a contratação de pessoal. ;Estamos tendo dificuldades na pediatria. A intervenção não é apenas legalista. O hospital corria o risco de entrar em colapso. Os pediatras, por exemplo, que eram 20, agora são apenas 13.; O interventor atribui à insegurança financeira um dos motivos para a saída dos médicos, já que os atrasos nos pagamentos dos salários eram recorrentes.
[SAIBAMAIS]O interventor garantiu ainda que, a partir de agora, a mantenedora do HRSM não pode mais movimentar as contas do hospital. ;Não tenho motivos para pensar que eles estão agindo de maneira errada, mas o banco já está avisado de que a gestão das contas será feita pelo interventor.;
Corregedoria da Saúde
; Foi publicado no Diário Oficial do Distrito Federal na última terça-feira um decreto que cria a Corregedoria da Saúde, com o objetivo de abrir um canal com o usuários para agilizar as ações de análise e averiguação de denúncias, assim como a abertura de sindicâncias ou procedimentos administrativos. Para tanto, foram extintos da estrutura administrativa da Secretaria de Saúde a Auditoria e a Coordenação Central de Procedimento Disciplinar. A corregedoria terá status de subsecretaria, mas, segundo o GDF, a sua criação não resultará em aumento de despesa. O delegado da Polícia Civil Marco Antônio de Souza Silva foi nomeado corregedor.
Três perguntas
Para Cláudio Bernardo Pedrosa de Freitas, médico e chefe da equipe de intervenção do Hospital Regional de Santa Maria nomeado pelo Governo do distrito federal
Como foram esses primeiros dias de trabalho?
O que mais me impressionou foi a excelente estrutura do hospital, que tem um corpo de servidores bem selecionado. São pessoas sérias, entusiasmadas como o trabalho, percebemos a competência. O aspecto negativo é que está sendo subutilizado. Numa rede com sérios problemas de demanda, a gente não percebe aquele burburinho de hospital funcionando plenamente. Tem muitas alas de internação sem pacientes.
Quais os próximos passos da intervenção?
O grupo (de interventores) já se encaminhou para verificar a questão do patrimônio e dos recursos financeiros. A minha preocupação maior, já que eu sou médico e não auditor, é que o atendimento médico à população não seja muito prejudicado. Tenho procurado me aproximar da equipe do hospital para que eles trabalhem com a mesma garra.
O Sr. já tomou alguma providência concreta?
Até agora não troquei nenhuma chefia, todos estão trabalhando normalmente. O atendimento continua. A área que tem crise, a dos médicos da pediatria ; que são apenas 13 ; nós estamos tentando resolver. Já levei o problema para a Secretaria de Saúde e nós estamos tentando contratar pelo menos mais dois, ainda que para trabalhar até 21 de janeiro. Essa é a liberdade que o decreto me deu.