Cidades

Estudantes que ficarão de recuperação devem adotar medidas de emergência

E nada de jogar a toalha: a hora é de se esforçar e vencer as dificuldades

postado em 13/11/2010 07:12

Com os olhos baixos, a voz vacilante, Lorena Cristina Farias, estudante da 7; série do ensino fundamental, diz que pela primeira vez vai ficar em recuperação na escola. Para passar direto, seu boletim do quarto bimestre tem que trazer notas 10 em três matérias: geografia, português e ciências. ;Espero que eu não precise repetir o ano. Deve ser horrível fazer tudo de novo. Mas os professores explicam, explicam e eu não entendo;. Apesar da preocupação, a garota de 13 anos continua esquiva aos livros. ;Preciso estudar mais, mas não consigo parar para ler. Nunca tive costume de estudar em casa.;

O ano letivo está chegando ao fim, e muitos alunos se esforçam para ser aprovados sem precisar de aulas e provas extras para somar os pontos necessários. Alguns estão tão perdidos quanto Lorena, sem saber direito o que fazer para aprender tudo o que precisam a tempo. Mas, com força de vontade e organização, é possível vencer as dificuldades.

;Agora, as soluções são de emergência. As medidas deveriam ter sido tomadas ao longo do ano;, avalia o diretor pedagógico do Sigma, Ronaldo Mendes. ;O aluno tem que dobrar o ritmo de estudo e se concentrar nas matérias em que está mais fraco;, aconselha o diretor pedagógico do ensino fundamental do colégio Galois, Ney Vieira. O ideal é que o estudante não recorra a aulas particulares. ;Se ele tiver dificuldades, pode consultar o professor da própria escola, que tem que se comprometer a recuperar o aluno;, avalia Vieira (veja quadro).

Para se prevenir contra apertos no fim de ano, vale a pena desenvolver uma rotina de estudos. ;Mas, se o aluno não consegue ter essa disciplina, a aula particular acaba sendo um recurso válido;, ressalva Mendes. Essa é a saída procurada por Pedro Victor Pereira, 16 anos, estudante do 1; ano do ensino médio, sempre que recebe o último boletim escolar. Sem timidez, ele diz que desde a 6; série do fundamental é assim: o período de aulas invade parte das férias. ;Eu só estudo mesmo na recuperação.;

Da esquerda para a direita, Luana Moraes, Henrique Leal, Clara Viana, Pedro Victor, Samantha Faleiro e Vinicius Rodrigues, todos com medo da recuperação: reforço nos estudos para passar de anoPedro, que está ;pendurado; em oito matérias, nunca se serviu da monitoria oferecida pelo colégio onde estuda, o Objetivo. ;É falta de interesse, preguiça, sei lá;, reconhece. Na escola, os estudantes podem tirar suas dúvidas com universitários que ficam à disposição no turno contrário ao das aulas. ;É importante criar o hábito de ir à monitoria. Em casa, o aluno se distrai, vai para o computador, fica na frente da TV;, aconselha a diretora pedagógica do Objetivo, Zuleide Caldeiron.

A exemplo de Pedro, seu colega Henrique Leal, 15 anos, também do 1; ano, e os estudantes do 2; ano Samantha Faleiro, 16, Clara Viana, 16, Luana Morais, 16, e Vinícius Rodrigues, 16, não costumam ir à monitoria. Samantha diz que falta disposição para sair de casa. ;Ela fala que vai estudar, mas dorme ou fica no computador;, entrega a colega Luana, que deve enfrentar sua primeira recuperação, em química. Já Samantha revela que desde a 4; série acaba o ano letivo devendo alguns pontos. Dessa vez, a dívida será com química, matemática, física e biologia. ;Só estudo sob pressão, quando chega a véspera da prova;, admite. Clara, que está tropeçando nas mesmas disciplinas, diz que não se sente estimulada a estudar porque as provas só exigem ;decoreba;. ;A gente não aprende de verdade. Eu mesma esqueço logo o conteúdo;, reclama.

No Centro Educacional 5 (CED 5) de Taguatinga, os alunos são estimulados a frequentar os plantões de dúvidas, nos quais podem ter o auxílio de professores. Há também atividades extras, como trabalhos em grupo e listas de exercício. ;Essas atividades dependem da disciplina e da carência do aluno. Pode ser que apenas a leitura orientada de um texto seja suficiente;, comenta o supervisor pedagógico do CED 5, Jaílson Queiroz. Os professores também devem buscar realizar atendimento individualizado em sala de aula.

;Há professores compromissados e outros sem compromisso algum. Alguns passam exercício sem nem explicar o assunto;, critica Queiroz. A reclamação é reforçada pelo estudante do CED 5 Lucas Soares, 14 anos, da 8; série. ;Tem professor que até explica de novo quando a gente pede, mas faz cara feia. Parece até que quer reprovar.; Lucas está com receio de ficar em recuperação em cinco matérias.

Última hora
;A palavra recuperação é muito infeliz. Se a aprendizagem não existiu ainda, recuperar o quê?; A pergunta é da professora da Universidade de Brasília (UnB) Benigna Villas-Boas, especialista em avaliação escolar. Para ela, o tradicional processo de aulas e provas adicionais para que atingir a média de aprovação deveria ser extinto. ;A escola deve ser comprometida com intervenções pedagógicas o ano inteiro, para que dê ao aluno a oportunidade de satisfazer suas necessidades de aprendizagem.;

O professor Vitor Henrique Paro, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), concorda com Benigna. ;Escola não existe para passar ou reprovar, mas para ensinar. Reprovar é uma maneira de deixar de ensinar, porque você culpa o aluno pela incompetência da escola;, argumenta. Segundo a professora da UnB, a escola deve se responsabilizar pelo não aprendizado dos estudantes.

O colégio deve dar atendimento individualizado aos alunos que apresentem dificuldades, inclusive os que ficarem na habitual recuperação de fim de ano. Mas é preciso cobrar compromisso por parte dos jovens, ressalta Benigna. ;O aluno tem que se perceber corresponsável pelo seu processo de aprendizagem. Se isso não acontecer, no ano seguinte, tudo vai acontecer da mesma forma.;

DICAS

Confira o papel de cada um para o estudante conquistar os pontos necessários para passar de ano:

Escola

; Estimular os alunos a frequentar o plantão de dúvidas com professores e as monitorias com estudantes universitários.

; Oferecer aulas extras de apoio a turmas compostas por alunos com dificuldades comuns em determinada matéria

Família
; Cobrar o aluno sem pressioná-lo. ;A família tem que transmitir confiança e seriedade ao jovem e ajudá-lo a estabelecer regularidade no estudo e metas a serem atingidas;, analisa o diretor pedagógico do colégio Sigma, Ronaldo Mendes.

Aluno

; Aumentar a carga diária de estudos. Se for necessário, largar temporariamente atividades extracurriculares.

;Não adianta querer que o filho faça futsal, judô, inglês ou outro curso qualquer se vai faltar tempo para ele estudar. A escola é prioridade;, defende o diretor pedagógico do ensino fundamental do colégio Galois, Ney Vieira.

; Consultar professores da escola sempre que tiver dúvidas. ;Não pode deixar um probleminha virar um problemão;, explica Vieira.

; Refazer as provas em que não foi bem e solicitar ao professor listas extras de exercícios.

; Frequentar plantões de dúvidas e monitorias.

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