As ramificações do esquema de corrupção e venda ilegal de bancas no Shopping Popular podem ser ainda maiores. A Divisão Especial de Combate aos Crimes contra a Administração Pública (Decap) da Polícia Civil investiga a utilização de ;laranjas; para confundir os investigadores. Um documento ao qual o Correio teve acesso prevê o pagamento de propina a quem ;emprestasse o nome;. Na íntegra, o texto informa: ;Conforme o combinado, cada pessoa que emprestou o seu nome receberá 10% do valor da banca que está no seu nome e for vendida;. Para o chefe da Decap, delegado Flamarion Vidal, essa seria uma estratégia para dificultar a identificação de servidores públicos compradores de boxes no Shopping Popular, o que é proibido por lei, e ainda de encaixar comerciantes de interesse da associação. ;O que percebemos é que foi feito um jogo de cartas marcadas;, disse Vidal.
Outro documento exibe uma lista com nomes de concessionários. Nele, consta: ;Excluir (nome) e trocar por (nome), substituindo ainda por novo Cadastro de Pessoa Física (CPF);. A polícia também apreendeu dois controles de pagamento dos boxes de alimentação do Shopping Popular, de R$ 510.366,99 e de
R$ 697.057,00. A soma foi considerada muito alta pelo delegado para ser repassada a uma associação representativa. Os comprovantes indicam que os valores seriam pagos a uma empresa responsável pela montagem da estrutura de ferro dos boxes. Para não perder o direito à banca, o vendedor ainda emitia uma declaração, informando os motivos pelos quais eles se ausentavam.
A documentação apreendida ontem pelos agentes que participaram da Operação Fafnir II mostra ainda o grande interesse de particulares em expandir o negócio dentro da feira. Com empresas fortes de diversos ramos instaladas no shopping, seria esperado um boom no comércio, atraindo diversos públicos.
Uma pilha de ofícios com solicitações de empresas para ter um box no local foi encontrada nas gavetas da Associação dos Vendedores Ambulantes do Shopping Popular de Brasília (Asshop), presidida por Caio Donato, um dos presos ontem. Em um dos pedidos, uma firma requisitava cinco bancas para o ;desenvolvimento de atividades nos ramos de eletroeletrônicos, manutenção de portáteis em geral, perfumaria, vestuário e artigos pessoais;. ;Acredito que o insucesso da feira foi proposital. Eles queriam forçar as pessoas a abandonarem o shopping para dar lugar às empresas maiores;, disse Flamarion Vidal.
Feirantes vão depor
A Polícia Civil ainda não sabe de quanto foi o golpe aplicado nos donos de concessões de boxes e empresas fixadas no Shopping Popular e quanto de propina cada um dos cinco acusados teria recebido. Todos os feirantes das 1.784 lojas, estejam elas abertas ou não, serão convocados a partir da próxima semana para prestar depoimento. Os investigadores também têm provas de que as bancas eram repassadas a comerciantes que não preenchiam os requisitos para receber licitamente a permissão de uso das bancas. Até agora, a polícia garante que a quadrilha chegou a arrombar alguns boxes que estavam fechados. As mercadorias então eram retiradas.
Por contar com facilidade dentro da Coordenadoria de Serviços Públicos, do GDF , o ex-servidor Francisco das Chagas seria braço direito de Caio Donato na administração da feira e o encarregado de expedir um Auto de Retomada dos Boxes, para que a banca pudesse ser vendida a terceiros. Ainda de acordo com a polícia, as ações incluíam desde a retomada à força dos boxes a ameaças de morte aos feirantes que denunciassem o esquema (veja arte). ;A quadrilha agia de maneira orquestrada, inclusive para publicação no Diário Oficial do DF, feita por uma servidora pública;, disse o diretor adjunto da Polícia Civil, Adval Cardoso. Segundo a Secretaria de Governo, todas as denúncias serão apuradas. Se comprovada a ilegalidade na feira, os feirantes podem perder a permissão de uso da banca. (MP)