Cidades

Mais feiras estão na mira da polícia

Duas listas encontradas nas residências de suspeitos apontam para um possível esquema de repasse ilegal de bancas em outros centros do Distrito Federal

postado em 16/11/2010 08:19
Os feirantes do Shopping Popular foram proibidos pelo administrador do espaço, Jorge de Oliveira Braga, de abrir suas bancas ontemA polícia tem fortes indícios de que a quadrilha que operava o esquema irregular de venda e repasse de boxes no Shopping Popular ; que fica ao lado da antiga Rodoferroviária ; também agia em outros centros de bancas do mesmo porte no Distrito Federal. A nova fase da investigação, que teve início com a prisão de cinco pessoas, no último sábado, surgiu a partir de duas listas apreendidas nas residências dos suspeitos. Em uma das relações constavam nomes de futuros comerciantes contemplados com bancas. Noutra, pedido de feirantes que requeriam a mudança para um ponto melhor.

A cada depoimento à polícia ou verificação de documentos apreendidos com os suspeitos, o presidente da Associação dos Vendedores Ambulantes do Shopping Popular (Asshop), Caio Alves Donato, se complica mais. Caio foi preso com outras quatro pessoas e é apontado como responsável por expulsar os verdadeiros donos dos boxes e revendê-los a pequenos e grandes empresários. Ele agia com o ex-servidor público Francisco das Chagas Gomes, 43 anos. ;Para tomar os boxes não era necessário que eles estivessem fechados. Chaguinha e Caio expulsavam até mesmo as pessoas que estavam na banca, só para tomar o ponto delas, que era bem localizado, e vendê-lo para outros comerciantes;, disse o delegado-adjunto da Divisão Especial de Repressão aos Crimes Contra a Administração Pública (Decap), Henri Teles. ;Eles obrigavam a pessoa a ir para outra loja, geralmente a dos fundos;, emendou Teles.

Intimidação
As investigações da Decap começaram há quatro meses. Os comerciantes denunciaram à polícia que alguns ambulantes usavam o Shopping Popular como um empreendimento particular. Eles venderam os boxes para outros comerciantes mediante propina, quando o certo seriam que entregassem para os ambulantes que nunca tiveram condições de se estabelecer em endereço fixo, como os retirados do Gran Circular e da plataforma superior da Rodoviária do Plano Piloto.

Uma dia antes de detonar a Operação Fafnir ; como foi batizada ; no Shopping Popular, a polícia contou com a colaboração de uma testemunha. Ela explicou tudo o que se passava na feira, inclusive os detalhes do esquema de propina no centro de lojas. O informante, porém, chegou a ser intimidado por Caio. ;Ele perguntou para a pessoa o que havia dito para a gente;, disse o delegado Teles.

Enquanto as investigações da polícia prosseguem, o atual administrador do espaço, Jorge de Oliveira Braga, nomeado interventor na última terça-feira, faz a análise dos documentos relativos às bancas do Shopping Popular para saber quem se beneficiou com o esquema. O ideal é, a partir da checagem dos dados, saber quantas bancas Caio e Chaguinha tomaram. Para chegar a esse número, ele vai cruzar as informações fornecidas pelos feirantes com os processos de reintegração de posse ingressados pelos ex-proprietários.

Mas a principal evidência que o levantamento feito por Braga pode atingir é a lista de pessoas que ganharam o direito de reaver seu boxe. A relação foi entregue pelo próprio presidente da Asshop, Caio Alves, que, segundo a Assessoria de Imprensa do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT), continua preso. ;Não posso dizer quantas estão sob suspeita, pois o serviço é sigiloso;, explicou Jorge de Oliveira.

No domingo, os advogados de três suspeitos de integrarem o esquema haviam entrado com pedido de relaxamento da prisão de seus clientes no TJDFT, mas o desembargador Otávio Augusto Barbosa negou. Segundo o magistrado, o pedido foi recusado por falta de argumentos. Hoje, a polícia deve ouvir feirantes do Shopping Popular.

Chineses vendem mesmo sem boxe Diante de box lacrado, chinesa continua a comercializar seus produtos
Mesmo em pleno escândalo provocado pela venda e repasse de boxes, houve comerciante de outras feiras que se dirigiu ontem ao Shopping Popular em busca de lojas para comprar. Mirtes Ferreira, 52 anos, saiu do Guará, onde tem um banca na Feira Permanente, na esperança de encontrar um boxe. ;Você sabe se ainda tem boxe vazio, que pode ser vendido?;, perguntou ela à equipe de reportagem do Correio, que esteve lá à tarde.

Os clientes que iam ao Shopping Popular eram orientados a procurar a Feira dos Importados, situada no Setor de Indústrias e Abastecimento (SIA). Lá, o dia foi de movimento intenso. Muita gente aproveitou o feriado para fazer compras antecipadas do Natal. As pessoas, porém, encontraram alguns boxes fechados. Na quinta-feira, policiais civis do Distrito Federal detiveram 30 chineses e interditaram 24 pontos e apreenderam 40 mil produtos piratas.

Nossa equipe retornou à Feira dos Importados ontem para conferir se as 24 bancas continuavam lacradas. Apesar da situação permanecer inalterada, a proibição foi burlada. Alguns chineses aproveitaram a calçada na frente dos boxes e expuseram seus produtos ali mesmo. É o que fez uma vendedora de um brinquedo conhecido como pião luminoso, que comercializava o produto na porta da banca 434/436 do Bloco D. A irregularidade era feita à vista dos fiscais, que estavam mais preocupados em orientar jornalistas a pedir autorização à associação dos feirantes para poder trabalhar no local.

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