Cidades

Desdobramento do crime da 113 Sul causa surpresa na Polícia Civil

Nem mesmo o diretor da PCDF e o MP sabiam da prisão do ex-porteiro em Minas. Ação revela disputa na corporação

Guilherme Goulart
postado em 17/11/2010 08:00
Martha Vargas: As novidades em torno do triplo homicídio ocorrido na 113 Sul deixaram em evidência uma disputa de poder na Polícia Civil do Distrito Federal. A prisão em Minas Gerais de um ex-porteiro do Bloco C, local onde ocorreram as mortes, revelou uma investigação paralela na corporação. O caso segue oficialmente por conta da Coordenação de Investigação de Crimes Contra a Vida (Corvida), mas só ontem a direção soube da participação de outra delegacia no caso.

O mal-estar acabou provocado porque nenhum dos principais órgãos envolvidos na elucidação do triplo homicídio sabia da ida de uma equipe da 8; Delegacia de Polícia (SIA) a Minas Gerais. O diretor geral da Polícia Civil do DF, Pedro Cardoso, só descobriu ontem pela manhã que agentes da unidade chefiada pela delegada Deborah Menezes tinham viajado a Montalvânia (MG) para prender Leonardo Campos Alves.

Ao ser informado da operação, Cardoso viajou a bordo de um bimotor em direção ao estado vizinho ao Distrito Federal ; estava acompanhado da delegada Deborah. Nesse momento, quase não tinha informações sobre a investigação. ;Vamos aguardar. Estou me dirigindo para Montes Claros (MG). Ainda não tenho nada de concreto para passar para vocês;, disse.

Enquanto isso, a revelação também surpreendia o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT). O promotor Maurício Miranda, do Tribunal do Júri de Brasília, disse ao Correio que não foi consultado por Deborah sobre a operação montada para prender o ex-porteiro. ;A prisão é ilegal;, ressaltou.

Segundo um servidor do cartório do Tribunal do Júri de Brasília, o juiz Sandoval Gomes de Oliveira deferiu apenas um mandado de prisão até o início da noite de ontem: o do ex-porteiro Leonardo Alves. O mesmo funcionário acrescentou que um delegado da 8; DP entregou pessoalmente o embasamento da solicitação ao magistrado. Ou seja: o policial não havia seguido o trâmite normal, que seria passar pelo MPDFT. A decisão deixou Miranda contrariado. ;É no mínimo estranho isso;, avaliou.

A delegada Deborah Menezes atendeu à noite a um telefonema do Correio ainda em Minas Gerais. A titular da 8; DP explicou que não interferiu no trabalho da delegada Mabel de Faria. Disse ainda que a prisão do suposto envolvido seria um complemento da investigação realizada pela Corvida. Mesmo assim, teceu comentários sobre as conclusões da unidade especializada em investigação de homicídios. Ela descartou a participação de Adriana Villela no crime. ;Não temos nada que a envolva no triplo homicídio;, defendeu.

Sobre a falta de comunicação com o MPDFT, a delegada da 8; DP explicou que, por se tratar de uma segunda-feira de feriado, o MP estava de recesso e o promotor Maurício Miranda não havia atendido ao telefone. ;Tentamos estabelecer contato, mas ele não atendeu;, argumentou Deborah.

Versões distintasO ex-porteiro trabalhou por 15 anos no Edifício Leme, onde o casal Villela morava e foi assassinado. Demitido há cerca de dois anos, ele era conhecido como Leo
A interferência da 8; DP no caso é mais um capítulo da complicada relação entre alguns grupos de delegados da Polícia Civil do Distrito Federal. Só a investigação do crime da 113 Sul mudou pelo menos duas vezes de rumo. Começou com a 1; Delegacia de Polícia, na Asa Sul, e passou por uma mal-sucedida força-tarefa até alcançar a Corvida. À frente do inquérito, a delegada Mabel de Faria preferiu não fazer comentários sobre a intervenção da 8; DP. Ela disse que torce para que o trabalho de Deborah esteja correto. ;Vamos confrontar as informações com a nossa apuração aqui. Se bater, ótimo.;

A delegada Martha Vargas conversou ontem com o Correio por meio de mensagens de texto enviadas pelo celular. Disse que nada tem a ver com a prisão do ex-porteiro. Mas não deixou de comentar o caso. ;A Guiomar (Barbosa, outra empregada dos Villela) lembrou disso (de ter visto o ex-porteiro no local do crime) na fase da Mabel. Todas as prisões que a Mabel fez estavam erradas e, por isso, o caso está com a Deborah;, alegou. Questionada se a história tinha virado uma briga pessoal, a delegada Martha respondeu: ;Eu diria que é a verdade contra a mentira;. Martha já trabalhou com Deborah Menezes na Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam) na década de 1990.

O advogado Eduardo Toledo, conselheiro da Ordem dos Advogados do Brasil no Distrito Federal (OAB-DF) nomeado para acompanhar o caso, admitiu desconhecer a participação da 8; DP na investigação. ;A OAB tomou conhecimento pela imprensa e aguarda com cautela as informações oficiais para saber se haverá a necessidade de novas deliberações;, anunciou.

Troca de unidade
A 1; DP ficou à frente do caso por três meses. A pedido do Ministério Público do DF, porém, a Justiça brasiliense determinou em novembro a mudança de unidade policial responsável pela investigação. A força-tarefa composta por policiais da Corvida, da Divisão de Repressão a Roubos (DRR) e da própria 1; DP (Asa Sul) assumiu o inquérito, mas por apenas um mês. Acabou implodida por problemas de comunicação e de convivência.

Exoneração
Martha, ex-chefe da 1; DP, acabou afastada das investigações em 29 de abril. A decisão ocorreu após um laudo do Instituto de Criminalística apontar que uma chave da casa dos Villela, encontrada em uma casa de Vicentes Pires, era a mesma que estava no local do crime no dia em que os corpos dos advogados e da empregada, Francisca Nascimento da Silva, foram encontrados. O objeto foi usado para incriminar três suspeitos.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação