Cidades

Adriana Villela se diz aliviada com novos desdobramentos da morte dos pais

Indiciada por participação no triplo assassinato, a arquiteta espera ver o crime esclarecido e sua inocência reconhecida

Adriana Bernardes
postado em 17/11/2010 08:15
Indiciada por participação no triplo assassinato, a arquiteta espera ver o crime esclarecido e sua inocência reconhecidaAliviada. Essa foi a palavra usada pela arquiteta Adriana Villela, 46 anos, para resumir o que sentiu ao saber da prisão do ex-porteiro Leonardo Campos Alves, que, segundo a polícia civil, confessou a participação no crime que tirou a vida dos pais dela e da empregada da família em 28 de agosto de 2008. Mas o dia não foi apenas de alívio para a filha dos Villela. Ela reagiu com indignação ao saber que a delegada da Coordenação de Crimes contra a Vida (Corvida), Mabel de Faria, reafirmou haver provas de que ela teria estado no apartamento dos pais no dia em que eles foram mortos. ;Essa foi a única coisa que pesou no meu coração hoje;, lamentou,

A arquiteta disse ter renovado a esperança de ver o assassinato dos pais finalmente esclarecido por considerar que essa tese ; de envolvimento do porteiro ; tem mais coerência com tudo o que foi dito durante as investigações. Adriana revelou que Leonardo Campos chegou a ser ouvido pela então titular da 1; Delegacia de Polícia, Martha Vargas, mas que nenhum indício havia sido encontrado contra ele. ;O nome desse porteiro foi citado por várias testemunhas. Há cerca de 4 anos, ele e um síndico, com a ajuda de um chaveiro, entraram no apartamento dos meus pais na ausência deles por causa de um vazamento. Até chamaram um encanador para resolver o problema enquanto eles estavam viajando;, relatou.

De acordo com Adriana Villela, a atitude do síndico e do ex-porteiro foi repreendida pelos pais. A mãe dela chegou a escrever uma carta aos moradores falando da indignação de ter tido o imóvel invadido na sua ausência. Ao se referir ao novo suspeito, a arquiteta é cautelosa: ;Espero que as investigações evoluam. Não quero que outro inocente seja incriminado. Não é o papel da polícia produzir provas contra inocentes e essa não seria a resposta que a sociedade espera.;

Acusações
Adriana Villela comentou a afirmação da delegada Mabel de Faria de que há provas de que ela esteve no apartamento no dia do crime. Segundo ela, a Corvida teve acesso a um farto material mostrando sua inocência. ;Mas prefere (a Corvida) prosseguir nessa linha. Eles não reconhecem o erro para proteger a corporação. Não é admissível que uma instituição policial faça isso.;

Em 25 de setembro, o Correio publicou uma entrevista com Adriana Villela em que ela falou a respeito dos conflitos com a mãe e das acusações da polícia. A arquiteta contou que no dia da morte dos pais participou de dois cursos. Depois encontrou-se com uma amiga moradora da Vila Planalto, de onde saiu por volta das 8h30 e foi para casa, pois, planejava ir a uma festa de aniversário. Porém desistiu de sair porque estava cansada e ficou em casa. Adriana negou que extorquia os pais, conforme consta no inquérito policial. ;É o contrário. Eu recebia uma mesada generosa, que fazia inveja a qualquer funcionário público. Eu tinha algumas despesas extras garantidas sempre que eu quisesse;, afirmou.

As reviravoltas do casoIndiciada por participação no triplo assassinato, a arquiteta espera ver o crime esclarecido e sua inocência reconhecida
; Mara Puljiz

Antes das duas prisões feitas esta semana, a investigação do triplo homicídio que chocou o país já havia levado à detenção de 12 pessoas, das quais 10 foram soltas por falta de provas. Um ano e três meses depois, ontem, a Polícia Civil do DF colocou uma nova peça nesse quebra-cabeças com a prisão do ex-porteiro do prédio em que moravam as vítimas, Leonardo Campos. Ele é 12; suspeito de participação na morte do ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) José Guilherme Villela, 73 anos, da mulher dele, Maria Carvalho Mendes Villela, 69, e da empregada Francisca Nascimento da Silva, 58.

A polícia afirma ter fortes indícios de que Leonardo participou dos assassinatos. Essa, porém, não é a primeira vez que uma pessoa é apontada como autora do crime. O prende e solta de suspeitos começou em outubro do ano passado, quando dois homens foram detidos com autorização do Tribunal do Júri de Brasília. Um deles trabalhava como caseiro em uma propriedade no DF, cujo o dono supostamente mantinha relação com os Villela. À época, a 1; DP (Asa Sul) estava à frente das investigações. A unidade era chefiada pela delegada Martha Vargas. Nada foi comprovado contra eles.

Em 3 de novembro de 2009, a polícia conseguiu autorização para deter por um período de 30 dias outros dois suspeitos: Alex Peterson Soares, 23 anos, e Rami Jalau Kaloult, 28. Na residência deles, na localizada em Vicente Pires, Martha Vargas afirmou ter encontrado a chave original do apartamento das vítimas. O terceiro suspeito, Cláudio José de Azevedo Brandão, 38, era vizinho da dupla e também acabou preso. A princípio, a linha de investigação era de latrocínio.

Em três meses, cinco prisões foram feitas e nenhuma prova do envolvimento deles no crime na 113 Sul foi encontrada. Acabaram soltos. A delegada acabou afastada do caso e, em dezembro, a Coordenação de Crimes Contra a Vida assumiu a investigação. Dias depois, a direção da Polícia Civil admitiu erros na primeira fase da apuração. A chave encontrada na casa dos suspeitos, na verdade, fora plantada. Um laudo do Instituto de Criminalística constatou que ela havia sido fotografada pela perícia no apartamento das vítimas no dia em que os corpos foram encontrados. O erro provocou a exoneração de Martha Vargas da chefia da 1; DP, em 29 de abril.

A versão de latrocínio acabou desmontada e a Corvida passou investigar as mortes a partir da hipótese de que a motivação poderia ser o interesse na herança das vítimas. A principal suspeita passou a ser Adriana Villela, que acabou presa em 16 de agosto. O encarregado de plantar a chave seria o policial civil José Augusto Alves, braço direito de Martha Vargas. Ele acabou preso em 17 de agosto deste ano, no mesmo dia que a paranormal Rosa Maria Jacques,61 anos; o marido dela, João Tocchetto,49; e a ex-empregada dos Villela, Guiomar Barbosa da Cunha, 71 anos, foram detidos. Adriana foi apontada como mentora do crime e acusada de ter contratado uma vidente para indicar a localização da chave na casa de Vicente Pires. A paranormal veio a Brasília e teria inocentado Adriana. Para Mabel de Faria, ela e o marido, assim como o policial e Guiomar, agiram em conluio com Adriana Villela.

Na mesma semana, a Corvida resolveu quebrar parte do silêncio que ronda a investigação. Mabel de Faria reafirmou que Adriana, além de possível mentora do crime, pode ter ajudado a esfaquear os próprios pais. Entre as provas reunidas estavam depoimentos de testemunhas, impressões digitais e escutas telefônicas. ;As provas não são frágeis. Estamos caminhando de forma adequada e com elementos de convicção;, garantiu Mabel, à época.

18 dias presa
Adriana Villela deixou o Presídio Feminino do Gama (Colmeia) em 3 de setembro deste ano, após passar 18 dias detida. O Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT) concedeu habeas corpus parcial e determinou que ela cumprisse os últimos 12 dias da prisão temporária em casa, no Lago Sul.

Reação cautelosa
A notícia das novas prisões deixou os advogados de defesa dos acusados um pouco mais aliviados. Para Cléber Lopes, que defende o policial civil Luiz Augusto Alves, a acusação contra o ex-porteiro aponta novamente para um latrocínio. ;Naturalmente exclui a participação de Adriana e consequentemente a do meu cliente e dos demais acusados de estarem envolvidos. Não sabemos se é mais uma história entre as inúmeras reviravoltas que o caso já teve, mas espero que seja a última;, disse ele ao Correio. Para Afonso Assis, advogado da ex-empregada dos Villela, Guiomar Barbosa da Cunha, ainda é cedo para falar em conclusão da investigação. ;Prefiro aguardar o desenrolar dos fatos antes de dizer qualquer coisa;, disse, cauteloso.

A notícia das novas prisões e a suposta localização das joias roubadas no apartamento dos Villela não animaram a balconista Maria Nascimento da Silva, 52 anos, irmã de Francisca, a empregada do casal que também foi morta. ;Depois de tudo o que aconteceu e de tantas declarações de que agora está resolvido, fica difícil acreditar em qualquer coisa.;

A passadeira Willia Oliveira Matos, 59 anos, trabalhou por 18 anos com o casal Villela. Ela demonstrou surpresa com o novo rumo das investigações. ;A dona Maria fazia as compras do mês e, de vez em quando, ele carregava;, comentou.

Colaborou Adriana Bernardes

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