Renato Alves, Guilherme Goulart
postado em 18/11/2010 07:57
Os constrangimentos provocados pela prisão do ex-porteiro Leonardo Campos Alves ficam cada dia mais evidentes na Polícia Civil do DF. Apesar de as investigações seguirem oficialmente por conta da Coordenação de Investigação de Crimes Contra a Vida (Corvida), os responsáveis pelo inquérito não tiveram acesso ao acusado pelo menos até as 23h de ontem. Depois de apresentado à imprensa, à tarde, Leonardo deixou o complexo da Polícia Civil direto para a 8; Delegacia de Polícia, no Setor de Indústria e Abastecimento (SIA) ; a unidade fez uma apuração paralela do caso sem o conhecimento dos principais envolvidos.Com isso, a delegada presidente do inquérito, Mabel de Faria, passou a tarde sem acesso ao homem que pode mudar o rumo das apurações. A delegada reúne provas de que a arquiteta Adriana Villela, filha do casal assassinado, esteve na cena do crime cometido em 28 de agosto de 2009. Mas faltam informações sobre a presença de outras duas pessoas no local. ;Pode até ser o Leonardo. Ainda não tive a oportunidade de trabalhar com ele;, disse Mabel ao Correio (leia Quatro perguntas para). O advogado de Adriana, Rodrigo de Alencastro, trata as acusações contra Adriana como ;absurdas;.
A delegada Mabel reservou parte da tarde para ouvir o depoimento de um dos filhos do ex-porteiro. Ele está preso na Papuda por assalto a banco e, segundo investigadores da 8; DP, falou a um colega de cela sobre a participação do pai no crime da 113 Sul. A versão, porém, não confere com os esclarecimentos do detento. Segundo Mabel, ele confirmou que jamais fez comentários do caso no presídio. Leonardo disse em entrevista que não conversa com o filho há dois anos.
Atritos
O diretor da Polícia Civil do DF, delegado Pedro Cardoso, minimizou a possível crise interna na corporação, mesmo sem fazer comentários específicos sobre o mal-estar. Segundo ele, o encaminhamento de Leonardo para a 8; DP ocorreu porque parte dos agentes da unidade do SIA precisava tirar dúvidas com o acusado.
A disputa interna de poder ficou evidente na última terça, quando a direção da corporação, o Ministério Público e a Ordem dos Advogados do Brasil no DF (OAB-DF) souberam pela imprensa do envolvimento da 8; DP no caso. A chefe da unidade do SIA, Deborah Menezes, disse ontem que não pretendia criar atritos. ;O importante é prender e descobrir a autoria. Vou juntar tudo que levantamos e encaminhar para a direção. Ela vai definir o rumo das investigações;, disse. Deborah disse que chegou ao nome do acusado ao investigar uma chacina na Estrutural. Confirmou que presos da Papuda é que o indicaram como autor do crime.
Ela começou a ouvir Leonardo por volta das 16h e, até o fechamento desta edição, ainda colhia o depoimento dele. Deborah não descartou a participação de uma terceira pessoa no triplo homicídio, possivelmente uma mulher, que estaria sendo procurada. ;Eles (os assassinos) podem ter voltado ao apartamento para limpá-lo;, disse, sem ter dúvida, porém, do envolvimento de Leonardo no crime. A delegada apontou 30 pontos obscuros no depoimento dele, como a posição em que os corpos foram deixados, a localização das roupas usadas pelos acusados no dia do crime e o fato de as facas não terem sido achadas no apartamento, como Leonardo alega. Além disso, ele diz que deixou a porta do apartamento aberta, mas foi encontrada fechada pela polícia.
As três linhas de investigação
Chave plantada
A delegada Martha Vargas, então chefe da 1; DP (Asa Sul), ficou à frente das investigações do crime entre 31 de agosto de 2009 e dezembro, após sua saída ser determinada pela Justiça. Ela chegou a trabalhar com as hipóteses de latrocínio simples (roubo com morte) e morte por encomenda. Prendeu cinco homens. A detenção dos três últimos, em Vicente Pires, se tornou um escândalo. A chave da casa dos Villela que teria sido encontrada na residência dos suspeitos havia sido plantada no local para incriminá-los. A falha foi revelada em abril deste ano pelo Correio e resultou na exoneração de Martha da chefia da 1; DP.
Filha envolvida
A Corvida, unidade da Polícia Civil, assumiu as investigações em dezembro, após a Justiça acatar pedido do Ministério Público do DF, que citava irregularidades na apuração do caso pela 1; DP. A delegada Mabel de Faria tornou-se a chefe do inquérito. Ela apontou a arquiteta Adriana Villela, filha do casal assassinado, como participante da tragédia ; supostamente como mandante ; e já a denunciou à Justiça pelo triplo assassinato. Para tanto, baseou-se em provas materiais, como impressões digitais. As investigações continuam para a identificação de outros envolvidos no crime.
Prisão em Minas
A terceira versão para os homicídios na 113 Sul surgiu com a prisão, em Minas Gerais, do ex-porteiro do prédio dos Villela Leonardo Campos Alves. A detenção ocorreu por conta de uma investigação paralela feita pela 8; Delegacia (SIA). Equipes de policiais chefiados pela delegada Deborah Menezes entraram no caso sem o conhecimento dos principais órgãos envolvidos na elucidação do triplo homicídio ; nem mesmo a direção da Polícia Civil sabia do trabalho. Pela primeira vez, no entanto, alguém acabou preso pelo crime e confessou envolvimento nos assassinados praticados em 28 de agosto de 2009.
Quatro perguntas para Mabel de Faria, delegada da Corvida e chefe do inquérito do crime da 113 Sul
Apesar da prisão do assassino confesso dos Villela, a senhora continua a afirmar que Adriana Villela é a principal suspeita de ser a mandante do crime. O que há de concreto contra ela?
Além de todas as provas, que levaram ao indiciamento e à denúncia dela, a motivação está muito clara, o álibi que ela tentou criar, as provas testemunhais quanto ao relacionamento com a mãe e a conduta muita estranha dela no dia do crime e quando os corpos foram encontrados. Existe um laudo que determina a idade de uma impressão digital da Adriana, ou seja, mostra quando o fragmento foi produzido. Esse fragmento da Adriana foi produzido entre 28 e 30 de agosto de 2009.
Na prática, o que diz esse resultado?
Que a Adriana esteve na cena do crime.
Quando será divulgado esse laudo?
Só faltam os ajustes de formatação. Está pronto. É um laudo do Instituto de Identificação (II), órgão de excelência para a análise de impressão digital.
Que dizer, então, que a Adriana é a terceira pessoa no local do crime?
Ela (Adriana) foi ao local do crime? Certamente foi. Isso é incontestável. Tem mais uma mulher? As provas demonstram que tem uma mulher e que não seria a Adriana em razão do álibi que ela tem e se manteve. Ela (Adriana) chegou lá depois. Existe mais uma terceira pessoa. Pode até ter uma quarta. Mas a gente sabe que pelo menos mais uma pessoa tem, que pode ser um homem ou uma mulher. Pode até ser o Leonardo (Campos Alves, ex-porteiro do Bloco C da 113 Sul que confessou ser o autor das mortes). Eu ainda não tive a oportunidade de falar com ele. O certo é que Adriana está envolvida, de acordo com os elementos probatórios.