Helena Mader
postado em 18/11/2010 08:08
Depois de mais de uma semana de interdição, motivada por um surto de infecção hospitalar, a UTI neonatal do Hospital Regional da Asa Sul pode reabrir as portas na próxima semana. A previsão da Secretaria de Saúde é que o material hospitalar em falta, como catéteres, sondas e álcool em gel, chegue à unidade amanhã. Depois disso, o diretor do Hras, Alberto Barbosa, vai solicitar uma nova visita da Vigilância Sanitária. A expectativa do administrador é que o hospital volte a funcionar normalmente após a inspeção. Esta semana, nenhum bebê morreu de infecção hospitalar. Dos seis recém-nascidos que estavam em isolamento, dois já estão livres das bactérias e quatro continuam em observação.Para Alberto Barbosa, as medidas adotadas até agora foram suficientes para controlar o surto. Ele acredita que a situação voltará à normalidade com a liberação da UTI neonatal. ;Os procedimentos que adotamos já surtiram efeito. Todas as equipes estão mobilizadas para acabar com o problema e os funcionários ficarão em alerta;, explica o diretor do Hras. ;Com isso, conseguimos evitar novas mortes. Não houve mais nenhum caso desde o fim de semana, o que é muito positivo;, acrescenta Alberto Barbosa.
Os funcionários do hospital também trabalham com a hipótese da liberação da UTI na semana que vem. No nono mês de gestação, Daniele Araújo de Souza, 21 anos, foi ao Hras no início da tarde de ontem para tentar uma vaga na internação. Os médicos previam o parto para ontem ou hoje, mas a orientação foi para que a jovem voltasse para casa e esperasse até a próxima segunda-feira. ;Eles me disseram que até lá a UTI deve estar liberada e, assim, poderão fazer meu parto aqui mesmo, com mais segurança;, explica Daniele, grávida de Victor Hugo, seu primeiro filho.
Com quadro de trombose desde setembro, o que representa um risco à gravidez, ela precisa dar à luz em um hospital que tenha UTI neonatal, caso haja alguma complicação com o bebê no momento do parto. A família de Daniele está com medo dos casos de infecção. ;Nós moramos em Luziânia, então o Hras é muito melhor do que o hospital de lá. Ainda assim, estamos muito inseguros com esse problema das bactérias. Espero que resolvam até a semana que vem para que ela possa ter o bebê aqui mesmo, sem riscos;, afirmou a professora Gislene Moreira Mezet, 42 anos, sogra de Daniele.
O surto de infecção hospitalar no Hospital da Asa Sul, que matou 11 bebês desde o início de outubro, também será investigado pela Corregedoria da Secretaria de Saúde (leia matéria abaixo) e pela Comissão de Saúde da Câmara Legislativa. Criada na semana passada para apurar irregularidades na rede pública, a Corregedoria abriu procedimento administrativo para investigar se falhas cometidas pelos servidores levaram ao surto de bactérias e à morte dos recém-nascidos.
Na manhã de ontem, a deputada distrital Eliana Pedrosa (DEM), presidente da Comissão de Saúde da Câmara Legislativa, visitou o Hras, onde conversou com o diretor da unidade e com representantes da enfermagem e da neonatologia. À tarde, estava prevista uma apresentação sobre a visita aos outros deputados da comissão, mas a reunião não teve quorum e deve acontecer hoje.
O contrato entre a Secretaria de Saúde e os hospitais particulares para o aluguel de leitos de UTI também inclui as unidades de tratamento intensivo neonatais. Assim, quando não há vagas nos hospitais públicos, o governo pode internar recém-nascidos nos centros de saúde privados. Por conta desse grande intercâmbio de pacientes, os hospitais particulares estão atentos aos casos de infecção hospitalar para evitar que o surto de bactérias chegue às suas UTIs neonatais.
A gerente do Sindicato dos Donos de Hospitais Particulares, Daniele Feitosa, explica que os pacientes oriundos do SUS têm o mesmo atendimento, mas passam por exames e ficam temporariamente em isolamento para saber se colocam em risco ou não os outros internados. O mesmo ocorre com os bebês. ;Temos um procedimento especial para receber esses pacientes. Os protocolos para evitar casos de infecção hospitalar são rígidos e, diante de um caso como esse surto, é feito o controle de todos os que chegam;, explica Daniele.
Manual
Em 2005, a Sociedade Brasileira de Pediatria lançou um manual de prevenção e controle de infecção hospitalar em unidades pediátricas. De acordo com o documento, os principais fatores de risco para contaminação de recém-nascidos internados são a desproporção entre o número de bebês e a quantidade de profissionais para atendê-los.
AGNELO CRITICA ABERTURA DE UPA
A inauguração da Unidade de Pronto Atendimento de Samambaia, anunciada desde o início do ano, será realizada na próxima semana. A Secretaria de Saúde divulgou ontem a abertura da primeira UPA e informou que vai deslocar funcionários que atualmente trabalham no hospital regional da cidade para a nova estrutura. Ao saber da novidade, o governador eleito Agnelo Queirozcriticou a decisão. Para ele, a inauguração não pode ser feita ;às pressas;. Ele disse que vai procurar o atual governador, Rogério Rosso, para tratar do assunto.
Implantadas pela primeira vez no Rio de Janeiro, as UPAs foram criadas para desafogar os hospitais e melhorar o atendimento na rede pública. A ideia é prestar atendimento de média complexidade, com funcionamento 24 horas e realização de exames mais simples, como raios X. A Secretaria de Saúde anunciou a abertura de oito UPAs, com a inauguração das duas primeiras unidades ainda este ano, no Recanto das Emas e em Samambaia.
Inicialmente, o governo contrataria uma organização social para gerir essas unidades. A Cruz Vermelha de Petrópolis foi a instituição escolhida, mas a secretária de Saúde, Fabíola Nunes, decidiu romper o acordo para evitar mais uma terceirização, já que o modelo fracassou no Hospital de Santa Maria. A pasta decidiu então gerir as UPAs com recursos do governo e funcionários do próprio quadro de pessoal. A estrutura física das duas primeiras unidades, de Samambaia e do Recanto das Emas, já está pronta. Mas diante da demora em abrir as portas, paredes foram pichadas e vidros, quebrados.
Para Agnelo Queiroz, a inauguração da UPA de Samambaia não deveria ser feita sem a realização prévia de um planejamento para todas as unidades. ;Isso não pode ser feito de um jeito ;meia boca;, apenas para dar satisfação. Se tivesse recursos humanos para colocar nessas UPAs, o governo deveria deslocá-los para o hospital da L2 Sul (Hras) e evitar essa tragédia (a morte dos bebês);, criticou. ;Queremos que as UPAs comecem a funcionar com um modelo viável.;
CORREGEDORIA VAI ANALISAR FALHAS NA ÁREA
Alvo frequente de denúncias de irregularidades, a Secretaria de Saúde ganhou uma Corregedoria especializada para investigar falhas na compra de materiais, no comportamento dos funcionários e no atendimento prestado à população. A criação do órgão foi anunciada no último dia 9 e, esta semana, o titular da área tomou posse. O delegado de polícia Marco Antônio de Souza Silva vai acompanhar os 249 processos que estão em andamento atualmente.
O objetivo da Corregedoria é instaurar sindicâncias e procedimentos administrativos para apurar problemas como faltas ao serviço, troca irregular de plantões, acumulação ilícita de cargos e denúncias de supostos erros médicos. Ao todo, a equipe é formada por 12 auditores das áreas administrativa, contábil e assistencial.
Unificação
Antes da criação da Corregedoria, cada regional de saúde tinha uma equipe para cuidar de sindicâncias em caso de eventuais denúncias. Agora, a ideia é unificar o trabalho com um comando único e dar mais celeridade à análise dos processos. Todo o trabalho dos auditores será feito de acordo com as regras do Departamento Nacional de Auditoria do SUS (Denasus).
O novo corregedor explica que, com a Corregedoria, foi criado também um Comitê de Ética no Serviço Público de Saúde. ;Com isso, a Secretaria de Saúde vai buscar qualidade no atendimento, o reconhecimento dos servidores e uma maior interação com a sociedade;, afirma Marco Antônio de Souza Silva.
Os auditores administrativos vão analisar as questões relativas aos servidores, como faltas. Os da área contábil cuidarão de assuntos relacionados a compras, estoques, convênios e gastos com recursos do SUS. Os auditores assistenciais vão avaliar os casos que tenham relação com a qualidade dos serviços prestados à população.