postado em 18/11/2010 08:13
A administração do Shopping Popular, a Coordenadoria de Cidades e a Secretaria de Ordem Pública e Social começaram ontem a fazer o levantamento da situação dos 1.784 boxes do local e descobriram que pelo menos 95 se enquadram no perfil de esquema ilegal de venda de pontos descrito pela investigação policial batizada de Operação Fafnir II, que já levou à prisão de cinco pessoas ; incluindo o presidente da associação dos feirantes e dois ex-servidores do GDF (veja quadro).O levantamento é preliminar e compreende apenas um dia de trabalho dos agentes. As irregularidades, no entanto, são fartas. ;Uma empresa de lingerie de Fortaleza comprou 20 boxes por
R$ 300 mil, mas até agora ninguém apareceu;, contou o administrador do shopping, Jorge de Oliveira Braga. O primeiro dia de fiscalização durou toda a manhã e a tarde, mas até o fechamento desta edição não havia sido fechado o número de estabelecimentos visitados. Braga explicou que os donos dos boxes abertos foram entrevistados e deles foi exigida a apresentação da documentação que comprove a posse. ;Os boxes fechados foram lacrados e notificados, tendo os responsáveis 48 horas para apresentar a documentação necessária à Coordenadoria de Cidades.;
A investigação também apurou o número de pedidos de reintegração negados feitos à Coordenadoria de Serviços Públicos por donos de boxes que teriam tido os pontos tomados. A Ala D, uma das menos visadas inicialmente,tem 40 recursos. Entre os casos, sete boxes foram repassados a outras pessoas, sete estão fechados e 24 não têm a situação averiguada. ;A situação é mais grave do que pensávamos;, confirmou Braga. Ele afirma que cada dia mais boxes estão sendo abertos, o que avalia como sinal de má-fé. ;Muita gente vendeu o espaço ciente do que estava fazendo. E agora, quer pegar de volta;, criticou. Até caixas vazias e roupas usadas foram colocadas dentro dos boxes para tentar driblar a fiscalização.
Fraude
A administração e a coordenadoria instalados no shopping receberam feirantes durante todo o dia, muitos dos quais foram diretamente prejudicados pelo esquema de venda ilegal e coação. Dinair Jesus da Paixão é um desses casos. Baiana de 45 anos, 23 dos quais vividos em Brasília, ela foi lesada duas vezes pela quadrilha. Primeiro roubaram a estrutura do box que ela havia mandado fazer. ;Me ligaram dizendo que estavam roubando meu box e, quando cheguei, ele já estava instalado no espaço de outra pessoa;, conta, indignada. Dinair diz que pretendia vender a estrutura do boxe para pagar a dívida que havia contraído justamente para montar o negócio no Shopping Popular. Em queixa registrada, a feirante atribui a ação ilegal a Marialva Rocha da Silva, vice-presidente da Associação dos Shopping Popular (Asshop). ;A polícia veio aqui, mas nem eles conseguiram que ela me devolvesse a estrutura.;
Pouco tempo depois, o próprio espaço dela foi invadido. ;Colocaram outra banca no lugar e disseram que eu perdi o ponto. Quando falei que eu queria um espaço da lanchonete para montar o meu acarajé, o Caio (Donato, presidente da Asshop) me disse que eu teria que pagar R$ 40 mil.; Agora, Dinair está confiante na devolução do espaço. ;Tenho que acreditar que vou ter meu box de volta. Muita gente foi ameaçada e perdeu tudo o que tinha lá dentro, mas a justiça um dia chega.;
Segundo o delegado adjunto da Divisão Especial de Crimes contra a Administração Pública (Decap) , Henri Teles, foram ouvidas oito testemunhas que corroboram a versão de fraude por parte de associações de feirantes e ex-funcionários do GDF pelo esquema ilícito. Até ontem, estavam detidos o presidente da Associação do Shopping Popular (Asshop), Caio Donato; a vice-presidente, Marialva Rocha da Silva; a presidente da Associação dos Feirantes, Ambulantes e Comerciantes do DF, Edmárcia de Albuquerque Cardoso; e os ex-servidores do GDF Elizabete Guilherme Raimundo e o ex-subordinado dela, Francisco das Chagas. Ambos estavam lotados na Coordenadoria de Serviços Públicos, extinta em maio.
Panorama
Situação atual dos boxes que tiveram os recursos negados
Ala A
15 boxes, dentre os quais 6 foram passados para outros donos
Ala B
24 boxes, sendo que 8 estão entregues aos donos originais
Ala C
37 boxes, sendo 6 entregues a outros feirantes
Ala D
40 boxes, sendo que em 26 ainda não há confirmação da situação