Cidades

Imagens mostram reunião apreensiva e suspeita entre Guerner e Bandarra

postado em 18/11/2010 08:36

As imagens gravadas pelas câmeras instaladas da casa de Deborah Guerner revelam encontro da promotora com o então procurador-geral de Justiça do DF, Leonardo Bandarra, dois dias depois da Operação Caixa de Pandora. Num domingo, a partir das 19h01, os dois mantiveram uma conversa sigilosa e demonstraram preocupação com o vazamento do conteúdo do diálogo. O momento era de perplexidade em todo o país. Na sexta-feira anterior, 27 de novembro, policiais federais, promotores de Justiça do DF e procuradores da República haviam realizado buscas e apreensões em gabinetes e casas de integrantes do primeiro escalão do Executivo e de deputados distritais. Bandarra chega à residência da colega horas depois de desembarcar de uma viagem a Florianópolis, onde participara de Congresso Nacional do Ministério Público. Como era alvo da investigação, Bandarra não participou da operação coordenada pela subprocuradora-geral da República Raquel Dodge.

Antes de começar a conversa no escritório de sua casa, Deborah fecha as janelas e as cortinas. Bandarra desliga os celulares. Tira as baterias ; segundo o Ministério Público Federal (MPF), para evitar que o telefone agisse como uma escuta ambiental. Os dois cochicham. O teor desse diálogo não foi captado pelo circuito interno da mansão de Deborah. Uma outra conversa mantida pelos donos da casa, Deborah e Jorge Guerner, ocorrida no mesmo 29 de novembro, é registrada. A promotora de Justiça e o marido, Jorge Guerner, discutem a possibilidade de uma eventual ação de busca e apreensão na casa deles, diante de um provável desdobramento da Operação Caixa de Pandora.

O temor era de que os investigadores encontrassem documentos, gravações e dinheiro de origem ilícita. A essa altura, os Guerner sabiam que eram alvo do Inquérito n; 650 em curso no Superior Tribunal de Justiça (STJ), graças a uma delação premiada feita pelo então secretário de Relações Institucionais, Durval Barbosa. O relator do processo no STJ, Fernando Gonçalves, autorizou a quebra do sigilo e as informações do inquérito circulavam na internet desde sexta-feira. Num dos depoimentos, Durval havia citado denúncias de que prestadoras de serviço no ramo de coleta de lixo eram beneficiadas pelo MPDFT, em um suposto lobby de Deborah e do marido, com a ajuda de Bandarra.

Nas gravações apreendidas pelo MPF, num bunker no jardim da casa dos Guerner, o lobista Jorge Guerner fala com a mulher, a promotora Deborah Guerner, sobre como despistar os investigadores da Operação Caixa de Pandora. ;Esses dois são dinheiros quentes, da conta do Banco do Brasil. Esse pode ficar aqui no cofre para chamar a atenção, pros ;cara; pensar que tem dinheiro e levarem;, afirmou Jorge.

Surpresa e irritação
Até a Operação Caixa de Pandora, Leonardo Bandarra não sabia que dois promotores de Justiça do Núcleo de Combate às Organizações Criminosas (NCOC) do Ministério Público do DF, Sérgio Bruno Fernandes e Clayton Germano, haviam registrado depoimento de Durval Barbosa e encaminhado as denúncias diretamente ao procurador-geral da República, Roberto Gurgel. No primeiro dia de trabalho, depois da operação, Bandarra reuniu sua assessoria e os promotores de Justiça que atuam na área de investigação para pedir explicações sobre o que estava acontecendo. O clima foi tenso, mas todos evitaram dar detalhes sobre o Inquérito n; 650, do Superior Tribunal de Justiça (STJ).

O advogado de Bandarra, Cezar Bitencourt, sustenta a inocência do ex-procurador-geral de Justiça. Ele garante não haver provas de que Bandarra cometeu os crimes de concussão, violação do sigilo funcional e formação de quadrilha conforme consta de denúncias protocoladas contra ele e a promotora Deborah Guerner pelo procurador regional da República Ronaldo Albo. Segundo Bitencourt, Bandarra esteve na casa da colega apenas ;quatro ou cinco vezes; e nunca tratou de dinheiro. ;Ele combateu o crime organizado e agora sofre perseguições. Está segurando a barra sozinho;, disse. Deborah Guerner não comenta as denúncias que correm em segredo de justiça.

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