Guilherme Goulart
postado em 19/11/2010 07:32
Contradições e coincidências marcam os depoimentos dos dois homens que confessaram à polícia envolvimento no triplo homicídio ocorrido na 113 Sul. O ex-porteiro do prédio dos Villela Leonardo Campos Alves, 44 anos, e o sobrinho Paulo Cardoso Santana, 23, prestaram esclarecimentos que se alternam entre diferenças e semelhanças a partir da comparação de cada versão. As informações apresentadas por eles, no entanto, indicam que a dupla reúne detalhes capazes de colocá-los na cena do crime cometido em 28 de agosto do ano passado.Os dois acusados conversaram com policiais civis de duas unidades da Federação ; Minas Gerais e Distrito Federal ; no mesmo dia, no último dia 17. O ex-funcionário do Bloco C depôs na 8; Delegacia de Polícia, no Setor de Indústrias e Abastecimento (SIA), após ser preso em Montalvânia, município mineiro distante 640km de Brasília. Paulo forneceu dados sobre os assassinatos do casal de advogados José Guilherme Villela, 73 anos, e Maria Carvalho Mendes Villela, 69; e da governanta da família, Francisca Nascimento da Silva, 58, na delegacia de Montalvânia ; ele cumpre pena por latrocínio na penitenciária local desde julho deste ano.
Apesar da distância, algumas partes dos depoimentos se aproximaram. Ao comparar as informações dadas por Leonardo e Paulo, o Correio listou pelo menos cinco pontos convergentes (leia arte). Tio e sobrinho concordam, por exemplo, no momento em que revelam detalhes sobre o acesso ao apartamento 601/602, a ordem dos três homicídios, a rota de fuga e o local onde trocaram de roupas depois de cometerem os crimes e fugirem do local. Nesses casos, as versões deles chamam a atenção pela semelhança.
Quanto às incongruências, a reportagem identificou quatro. O ex-porteiro e Paulo divergem em situações consideradas relevantes ao caso. Uma das principais passa pela preocupação em deixar vestígios da ação criminosa ocorrida no imóvel dos Villela. Enquanto Leonardo revelou que nenhum deles tomou cuidado em evitar contato com objetos, o sobrinho demonstrou extremo cuidado com as impressões digitais. Segundo o depoimento do segundo, eles jamais usaram diretamente as mãos para tocar em qualquer objeto do apartamento.
A ordem das mortes, no entanto, aparece como a principal polêmica na comparação dos dois esclarecimentos. Isso porque as alegações deles se contrapõem aos resultados da perícia feita pela Polícia Civil do DF no local da tragédia. Laudo apresentado há um ano pelo Instituto de Criminalística (IC) apontou que a empregada Francisca morreu antes dos patrões. Mas Leonardo e Paulo disseram que a governanta da família acabou assassinada por último, uma vez que ela chegou ao imóvel pouco antes de eles fugirem.
Falhas
A titular da 8; DP, Deborah Menezes, avaliou que os esclarecimentos apresentados pelos dois acusados são coerentes ao caso. A investigadora não tem dúvidas, por exemplo, de que a dupla participou diretamente dos assassinatos. Ainda assim, desconfia que as informações prestadas apresentam lacunas e problemas. ;Acredito em pontos falhos nos dois depoimentos. Ainda não sei se são propositais, mas é preciso esclarecer todas as dúvidas;, explicou a delegada, que ontem acabou afastada das investigações por ordem da Justiça do DF.
Para Deborah, tio e sobrinho também deixaram dúvidas quanto a disposição dos corpos das vítimas no imóvel do Bloco C. Tantas divergências reforçaram à delegada a participação de uma terceira pessoa no triplo assassinato ocorrido na 113 Sul ; é a mesma certeza da Coordenação de Investigação de Crimes Contra a Vida (Corvida), unidade responsável pelo caso. ;Essa história ainda não está completamente fechada. Diante de tudo que levantamos até agora, tenho hoje a convicção de que existe uma terceira pessoa envolvida no crime. E os indícios apontam para uma mulher;, revelou.
CONCLUSÕES
Em 6 de novembro do ano passado, a Polícia Civil do DF divulgou os resultados obtidos pelos peritos que investigaram o apartamento dos Villela. Segundo eles, ao menos dois criminosos esfaquearam cruelmente as três pessoas no imóvel na noite de 28 de agosto. Eles utilizaram duas facas, ambas diferentes daquelas encontradas com manchas de sangue na cozinha do local.