Cidades

Guerra entre a 8ª Delegacia de Polícia e a Corvida agora é pública

Apesar de a 8ª DP estar fora das investigações, o mal-estar entre a titular da unidade e a delegada da Corvida teve novo capítulo. Dessa vez, testemunhas deram versões diferentes a respeito do caso

postado em 20/11/2010 08:00
Deborah Menezes, da 8ª DP, negou a acusação de que teria oferecido dinheiro a um ex-detento para ele revelar o autor dos homicídiosAs investigações do crime da 113 Sul vêm causando confusão na Polícia Civil do Distrito Federal. O informante que esteve preso na Papuda com Dantas da Conceição Alves, filho de Leonardo Campos Alves ; ex-porteiro que assumiu a autoria do triplo assassinato ;, apresentou versões distintas nos dois depoimentos que prestou. À delegada Deborah Menezes, da 8; DP (SIA), o informante disse ter ouvido Dantas afirmar que Leonardo era o autor da barbárie. Já na última quarta-feira, à delegada Mabel de Faria, da Coordenação de Investigação de Crimes contra a Vida (Corvida), ele alegou que nunca havia confirmado formalmente a versão de Dantas. O informante revelou ainda que teria recebido oferta de dinheiro da delegada da 8; DP para apresentar a narrativa a partir da qual se desenrolou toda a apuração para chegar ao ex-porteiro.

O descompasso virou troca de acusações. Deborah Menezes ; que foi ordenada pela Justiça a sair do caso ; nega a existência da oferta de dinheiro ou qualquer irregularidade. Segundo ela, o informante depôs na delegacia em 20 de outubro deste ano, quando revelou o diálogo ocorrido na prisão. O homem teria sido convocado após um delegado da 8; DP ter escutado dele, na Papuda, comentários sobre o triplo assassinato. ;Estou investigando criminosos e não policiais, em nenhum momento entrei nesse mérito. Desconheço isso. Meu pessoal viajou para Montalvânia (MG) à míngua, se eu tivesse dinheiro teria dado à minha equipe e não a qualquer informante;, disse a delegada.

Por sua vez, Mabel de Faria, da Corvida, negou que teria coagido o informante e a filha do ex-porteiro a mudarem seus testemunhosPara aumentar o imbróglio, a 8; DP teria registrado em documento uma reclamação formal do informante na qual ele afirmaria que foi coagido a mudar a versão dos fatos em seu depoimento à Corvida. Quem desmente essa informação de forma enfática é a delegada Mabel. ;Se alguém procurou a 8; DP para se queixar de que foi coagido ou qualquer coisa que seja, é obrigação da autoridade policial tomar isso a termo. O que causa estranheza é a divulgação disso na mídia porque esse documento deveria ir para o Ministério Público, o Judiciário e para a nossa Corregedoria para apuração;, disse.

A delegada Mabel considera que apenas orientou os depoentes a falarem a verdade. ;Se o dever legal de dizer a alguém que ela está sob compromisso e pode ser preso se mentir para a polícia ou para a Justiça é pressão, então essa pressão foi feita.; Um vídeo do depoimento do informante a Mabel foi divulgado ontem como forma de provar que o homem não sofreu coação.

No depoimento à 8; DP, o informante, que cumpre pena em regime semiaberto na Papuda, disse que, ;quando se falava no presídio sobre o triplo assassinato da 113 Sul, Dantas dizia saber quem tinha praticado o crime: o pai e o primo dele;. Mas, à Corvida, o homem alegou que parte expressiva das respostas ao interrogatório na 8; DP teria sido manipulada pela delegada Deborah. ;Muita coisa que tem aí é porque ela (Deborah) dizia;, contou no vídeo. Mabel de Faria perguntou a ele se o filho do ex-porteiro abertamente atribuiu o crime ao pai. ;Não;, admitiu o informante. O homem acrescentou que a delegada da 8; DP teria indagado se ele iria querer ;passar o Natal sem dinheiro; e afirmado que o depoente ganharia certa quantia.

O diretor-adjunto da Polícia Civil, Adval Cardoso, garantiu que o impasse entre as delegacias será resolvido internamente. Ele negou que haja uma crise na instituição. ;A polícia está focada na busca da verdade. Essas picuinhas serão solucionadas e não vão prejudicar as investigações do caso.;

Filha do ex-porteiro
O informante não é o único a mudar o teor das declarações à polícia. A filha do ex-porteiro Leonardo Alves, Michelle da Conceição, também o teria feito. Ela depôs na 8; DP no último dia 16. O Correio teve acesso ao depoimento, no qual Michele contou que descobriu a participação do pai no crime da 113 Sul após visitar o irmão Frankilin, em abril deste ano, em Montalvânia (MG).

Na ocasião, a filha do ex-porteiro teria comentado a respeito do crime e ouviu do irmão que, quando ele limpava a casa do pai, encontrou um buraco na parede. ;Por trás de um móvel, havia um bolão de dinheiro;, indica o documento policial. No local, também havia joias. O pai teria oferecido parte dos pertences à filha, que, no entanto, não quis ficar com nada. No depoimento à 8; DP, Michelle afirmou que, de volta a Brasília, comentou essa história com o outro irmão preso na Papuda.

Na Corvida, porém, Michelle alterou a versão. ;Em nenhum momento, ela acusou o pai de ter participação no triplo homicídio;, relatou Mabel de Faria. Pela manhã, fontes chegaram a especular que Michelle também teria sido pressionada a mudar a narrativa. ;Não teve nada disso;, reiterou a filha de Leonardo. Ainda de acordo com a delegada Mabel de Faria, a filha do assassino confesso estaria sofrendo ameaças de morte por agentes da 8; DP. Mas a chefe do inquérito não entrou em detalhes sobre essa acusação.

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