Cidades

Número de UTIs nos hospitais públicos não acompanha aumento populacional

Naira Trindade
postado em 20/11/2010 08:00
Mesmo com a capacidade abaixo do ideal, o DF tem a maior taxa do paísA sensação de desamparo de quem precisa de atendimento médico no DF ganhou comprovação científica. Uma pesquisa da Assistência Médico Sanitária (AMS), divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revela que os brasilienses têm menos vagas em unidades de terapia intensiva (UTI) hoje do que em 2005. Os números mostram que, há cinco anos, havia 2,13 leitos para cada mil habitantes e, no ano passado, o índice caiu para 2,03. A realidade pode ser ainda pior se nos cálculos for incluída a grande procura pelas unidades por moradores do Entorno e até mesmo de outros estados nas redes de saúde pública e privada do DF. O ideal, segundo o Ministério da Saúde, seriam 3 leitos por cada grupo de mil habitantes. De 2005 a 2009, foram criadas 325 unidades.


Os doentes mais graves que recorrem a tratamentos no Distrito Federal contavam, em 2005, com 475 vagas de terapia intensiva. À época, o DF era habitado por 2,2 milhões de pessoas, segundo o IBGE. Quatro anos depois, a capital federal passou a abrigar 2,4 milhões de moradores. As unidades de terapia intensiva, no entanto, não conseguiram acompanhar o ritmo. ;O aumento de 325 unidades não foi suficiente para incrementar a oferta;, destaca o gerente da pesquisa, Marco Antônio Andreazzi. Se a quantidade de leitos é insuficiente para atender a demanda da capital, o quadro fica ainda mais grave quando é somada à equação a população de municípios goianos.

Das 800 vagas de terapia intensiva oferecidas à população brasiliense, segundo o estudo, apenas 234 são direcionadas ao atendimento do Sistema Único de Saúde (SUS), incluindo as contratadas pelo governo na rede privada. O número não inclui as unidades garantidas a doentes por meio de decisões judiciais, que somam, em média, 50 liminares mensais, segundo a Defensoria Pública do Distrito Federal. As 566 unidades restantes estão nos hospitais particulares e são voltadas a atender quem possui plano de saúde ou é capaz de arcar com o alto valor das despesas médicas. Em períodos de crise, como o da superbactéria, no mês passado, e o das mortes de 11 bebês por infecção hospitalar na unidade neonatal do Hospital Regional da Asa Sul (Hras), o atendimento fica ainda mais comprometido.

Destaque
Abaixo do ideal, a capital candanga ainda consegue destacar-se por ser a melhor unidade da Federação a oferecer atendimento intensivo. ;O DF tem a maior taxa do país;. São 2,03 vagas para cada grupo de mil habitantes contra, por exemplo, 1,6 leito no Maranhão. Atrás do Distrito Federal estão Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul, em segundo, terceiro e quarto lugares, respectivamente. Andreazzi analisa, porém, que as reduções na quantidade de UTIs são uma tendência brasileira. ;Há de se considerar que o fenômeno é nacional. Mas apesar de parecer comum, essa queda deve ser avaliada para não afetar o atendimento dos doentes.;

Problema crônico
Lorrany contraiu uma infecção hospitalar em 1998, no Hras, e precisou ser operada: paralisia cerebral por falta de oxigênioLorrany Nunes nasceu no Hospital Regional da Asa Sul em 1998. Prematura de sete meses, a menina ficou internada até que o corpinho frágil ganhasse força. Ela pesava 1,2kg e media apenas 38cm. Necessitava de cuidados especiais e, por isso, assim que nasceu foi internada na unidade de terapia intensiva. O pai dela, Wesley Nunes, 31 anos, conta que a recuperação da filha seguia tranquila até o 16; dia de nascimento. ;Lorrany estava saudável, mas se contaminou com uma bactéria. A infecção atingiu o estômago e os médicos resolveram operá-la;, recorda-se o vigilante.

A menina carrega até hoje, 11 anos depois, as consequências do procedimento . ;Durante a cirurgia, ela ficou sem oxigênio por duas vezes e, por isso, teve parte do cérebro paralisada;, conta. ;O que está acontecendo agora não é novidade. Minha filha é vítima do descaso. Se não fosse isso, talvez ela conseguisse hoje pronunciar a palavra papai. Hoje, ela não fala e não anda.

Levantamento do Hras, ao qual o Correio teve acesso, mostra que casos de infecções hospitalar no centro médico são crônicos. A cada 100 bebês internados na UTI da maternidade em 2008, 21,5% acabaram contaminadas com alguma bactéria. Em 2009, os números foram ainda maiores: 22% das crianças internadas na UTI foram infectadas. Este ano, a média de infectados até setembro ficou em torno de 20%. Nos números, porém, não estão incluídos os casos de outubro e novembro, quando 11 recém-nascidos morreram vítimas de bactérias. ;Infecções são comuns. O que assustou agora foi o ritmo em que as crianças morreram num curto intervalo;, diz o diretor do Hras, Alberto Barbosa.

Para investigar as mortes, o promotor Jairo Bisol visitou ontem pela manhã o centro médico. No hospital, Bisol colheu depoimentos de médicos e especialistas sobre a qualidade do atendimento neonatal. Ele se dispôs a apurar se houve algum erro médico ou negligência.

478 vagas para residência médica
; A Secretaria de Saúde do DF realizará duas seleções para o preenchimento de 478 vagas em programas de formação de médicos. São 404 vagas para o Programa de Residência Médica, das quais 46 vagas são bloqueadas para o serviço militar, e 74 vagas para Residência em Área Profissional da Saúde. As inscrições podem ser feitas pelo site www.cespe.unb.br, de 25 de novembro a 5 de dezembro. A taxa é de R$ 97,00. Como requisito para participar dos processos, os candidatos devem apresentar diploma, certificado ou declaração de conclusão de curso de medicina ou da área profissional para a qual pretendem concorrer.

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