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Panetone já começa a invadir padarias e supermercados da capital

O pão de origem italiana é vendido com preços variando de R$ 4 a R$ 70 cada

postado em 20/11/2010 08:00
O dono da fábrica Bambina localizada em Ceilândia, Paulo César Soares, prevê aumento de 30% nas vendas: produção de 700 mil unidadesO panetone, item obrigatório da ceia natalina dos brasileiros, chegou às prateleiras de padarias e supermercados com preços semelhantes aos do ano passado, apesar da crise do trigo no segundo semestre. A queda do dólar barateou os ingredientes importados e balanceou o valor final do produto. A concorrência entre os fornecedores também ajudou a manter a tabela de 2009.

Como ninguém quer perder vendas, o aumento aplicado por algumas marcas, segundo informações do mercado, não passou de 5%. Em Brasília, os preços médios do panetone variam, a depender do tamanho e do recheio, de R$ 4 a R$ 20. Nas lojas especializadas em chocolate, receitas e embalagens mais sofisticadas fazem uma unidade de 500g chegar a R$ 70.

Apesar de, aos poucos, quebrar paradigmas e passar a ser consumido durante todo o ano, o pão de origem italiana ainda é item atrelado ao Natal. Na maioria dos supermercados, ele ganhou visibilidade no início de outubro. Até o momento, os compradores são basicamente os fãs de panetone. A clientela que leva o produto para presentear costuma aparecer só em dezembro.

Para atender a demanda, foram contratados mais 100 funcionáriosNas gôndolas, em meio às marcas famosas, surgem como alternativa produções locais. Em uma fábrica a cerca de 35km do centro de Brasília, no Setor de Indústrias de Ceilândia, 450 mil panetones já saíram do forno. A previsão é que, em 20 de dezembro, 700 mil unidades com o selo Bambina tenham ajudado a abastecer o atacado e o varejo do DF e de outras sete unidades da Federação.

O dono da fábrica, Paulo César Soares, há 40 anos no ramo de alimentação, precisou contratar 100 funcionários e comprar mais dois fornos ; um investimento de R$ 150 mil ; para conseguir atender a demanda. A equipe, formada por 400 pessoas, se divide em três turnos e, desde outubro, trabalha dia, noite e madrugada. ;Nossa produção é a maior do Centro-Oeste;, conta Soares.

Com o aumento dos pedidos, o industrial espera faturar com os panetones 30% a mais do que em 2009. Os compradores, porém, só querem começar a acertar as contas em janeiro. ;Virou mania no mercado: pagar só depois da farra;, brinca. Para arcar com as despesas imediatas ; matéria-prima, folha de pessoal e frete ;, o empresário tem recorrido a empréstimos bancários.

Em 2011, os panetones made in Ceilândia ganharão forma em um novo galpão de 5 mil metros quadrados, cujo custo total deverá ser de R$ 4 milhões. ;Nossa meta para o ano que vem é chegar a um milhão de unidades;, revela o empresário. No primeiro ano de atividades, em 2004, a produção parou em 60 mil e, mesmo assim, superou em três vezes a previsão inicial.

Pela quantidade produzida, Soares consegue oferecer preços competitivos e, assim, ter o produto exposto em quase todas as pequenas e médias redes de supermercado do DF. O valor médio do panetone ceilandense, para o atacado, é de R$ 2,80. ;Infelizmente, as grandes redes ainda não se atentaram para o crescimento do nosso negócio;, analisa.

O presidente do Sindicato das Indústrias de Alimentação de Brasília (Siab), José Joffre Nascimento, diz que a produção local ; seja nas fábricas ou nas padarias ; força os grandes distribuidores a não aumentarem os preços das marcas consagradas. ;Se subir, não vende;, afirma ele, antes de contar que a procura por panetones este ano tem sido maior do que ano passado.

Nos supermercados do DF, a estimativa é de que as vendas cresçam 20% em relação a 2009. ;O panetone ganhou a mesa das famílias de todas as classes sociais. As pessoas fazem questão de tê-lo na ceia de Natal;, comenta Arilton Rocha, da diretoria da Associação de Supermercados de Brasília (Asbra). Segundo ele, em janeiro, as lojas costumam fazer promoções para desovar o estoque do produto.

Para a gerente de padarias do Grupo Pão de Açúcar, Papoula Ribeiro, o panetone tem uma grande legião de fãs. ;Nos últimos 10 anos, a empresa percebeu isso e investiu muito na fabricação própria do produto;, conta ela. Além dos sabores tradicionais, há recheios de calabresa, bacalhau e a novidade deste ano: panetone de brownie. Os preços vão de R$ 3,79 a R$ 16,90.

Na Kopenhagen, o investimento em 2010 foi focado na nova embalagem. Até aqui, segundo o franqueado Giovanni Romano, dono de seis das sete lojas da marca em Brasília, as vendas estão 25% maiores, se comparado com o mesmo período do ano passado. ;Nossos clientes nos surpreendem e compram com antecedência para si e para presentear;, detalha.

20% de aumento
A crise do trigo, iniciada em junho, é considerada a mais grave dos últimos 20 anos. O preço do cereal subiu até 20% por conta, em grande parte, da seca e da forte onda de calor que quebraram 25% da safra na Rússia, um dos principais países produtores. No DF, o preço do pão francês, como mostrou o Correio em setembro, aumentou até 13% ; o quilo do produto varia de R$ 4,9 a R$ 9.

Combate à estagnação
O principal motivo para a derrocada do dólar, que vem sendo acentuada desde setembro, é o fraco desempenho da economia norte-americana. Diante de um mercado desaquecido, após o estouro da crise econômica em 2008, os Estados Unidos estão liberando mais dólares no mercado na tentativa de combater a estagnação. Com isso, há uma depreciação da moeda.

PARA SABER MAIS
Receita do século 15
Acredita-se que o panetone tenha nascido no norte da Itália, no século 15. Há várias versões, no entanto, para o surgimento da iguaria. A lenda mais conhecida diz que um padeiro da região de Lombardia apaixonou-se por uma jovem e, para impressionar o pai dela, chamado Toni, criou a receita do pão recheado com frutas cristalizadas. O ;pao di toni; teria virado, mais tarde, o panetone. Um outra versão diz que o pão tipicamente natalino foi inventado pelo primeiro duque de Milão, Gian Galeazzo Visconti, em uma festa ocorrida em 1395. A última versão também envolve uma história de amor: um homem chamado Ughetto teria bolado a delícia para conquistar uma mulher chamada Adalgisa, com quem supostamente casou-se posteriormente.

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