Cidades

A melhoria da saúde será o maior desafio da futura gestão, diz pesquisa

Helena Mader
postado em 21/11/2010 08:55
Por conta de uma hérnia de disco, Maura está afastada do trabalho: sem previsão para a realização de cirurgiaFalta de remédios, de equipamentos e de médicos. Longas filas de espera por consultas, exames ou cirurgias. Infecções hospitalares, falhas no atendimento e mortes por negligência. A situação caótica da rede pública de saúde sempre foi um dos principais motivos de reclamação entre os brasilienses. Mas agora, para os eleitores da capital federal, o setor lidera a lista dos maiores problemas da cidade. Pesquisa realizada pelo Instituto FSB, a pedido do Correio Braziliense, mostra que 53,2% dos brasilienses acreditam que as melhorias na Saúde serão o principal desafio que o governador eleito Agnelo Queiroz terá que enfrentar nos quatro anos de gestão. A segurança, segunda área mais citada, preocupa 21% dos entrevistados e apenas 6,1% dos brasilienses acham que a educação é o problema mais importante a ser resolvido.

O número de cidadãos preocupados com a qualidade dos serviços prestados pela rede pública aumentou muito nos últimos meses. Na pesquisa realizada em agosto, apenas 31,6% dos entrevistados citaram a Saúde como o principal problema a ser resolvido pela nova administração. Mas como o assunto ganhou força durante a campanha e por conta do agravamento da crise na área, o percentual de brasilienses preocupados com o atendimento médico do sistema público aumentou nos últimos três meses.

O grande gargalo da rede, na opinião das pessoas ouvidas pelo instituto, é a falta de médicos, o que causa grande demora para conseguir atendimento. Entre os entrevistados, 50% citaram esse problema como o maior do sistema público de saúde. Sofrendo de trombose e com a perna direita amputada, Martinha Alves da Silva, 69 anos, passou por esse calvário e teve que aguardar por quatro horas até conseguir ser atendida no Hospital de Base, na última quinta-feira. Ela estava com fortes dores, mas ficou na porta da unidade das 7h às 11h, sentada em uma cadeira de rodas.

A filha da paciente, Valdirene Alves da Silva, 39 anos, reclama do descaso com os usuários do SUS. ;Minha mãe estava quase chorando de tanta dor e a funcionária queria mandar a gente para um posto de saúde. Tivemos que esperar muito até conseguir a consulta. Os médicos são muito gentis e atenciosos, não tenho queixas quanto a isso. O problema é que tem pouca gente para atender;, conta Valdirene, moradora de Valparaíso.

A demora para conseguir consultas ambulatoriais, exames ou cirurgias é mencionada por 13% dos pacientes como o problema mais grave da rede pública. A chefe de cozinha Maura da Cruz Carvalho, 43 anos, enfrenta a mesma dificuldade. Há três meses, ela está afastada do trabalho por conta de uma hérnia de disco na coluna e precisa usar um colar cervical. As dores são quase insuportáveis e a doença se agrava a cada dia. ;Só preciso fazer uma cirurgia para voltar a ter uma vida normal. É tudo o que eu quero, porque não consigo nem dormir de tanta dor. Mas nenhum médico sabe me dizer quando vai ter vaga. Por causa dessa bactéria (KPC), eles suspenderam várias operações e a fila aumentou ainda mais;, relata Maura.

Soluções
O resultado da pesquisa do Instituto FSB não surpreendeu o governador eleito, Agnelo Queiroz. Ele conta que, durante a campanha, a Saúde era o tema mais recorrente no corpo a corpo com os eleitores. ;Todo mundo que me abordava era para falar sobre Saúde, para reclamar do atendimento, da demora para conseguir consultas e cirurgias. A pesquisa reflete esse sentimento da população;, explica.

A preocupação com o tema aumenta conforme a idade. Entre os brasilienses de 51 a 81 anos, 51% disseram que a Saúde representa um problema. Já para as pessoas de 16 a 25 anos, 48,4% se preocupam com o assunto, percentual um pouco menor. Com relação à renda, o comportamento é o oposto: quanto maiores os salários, menor a preocupação com o assunto. Entre os entrevistados que ganham mais de R$ 15,3 mil, apenas 26,3% veem a saúde como um problema. A explicação é que a maioria deles é cliente de convênios e não depende diretamente da rede pública. Já os brasilienses com salário inferior a R$ 1.020 perdem o sono por depender do SUS: 57,3% disseram se preocupar com a gestão do sistema. O Instituto FSB entrevistou 1.005 pessoas em todo o Distrito Federal. Os dados foram coletados entre 4 e 7 de novembro e o plano amostral foi feito pela empresa ZN Estatística.

Para o coordenador da pesquisa, Wladimir Gramacho, o crescimento do percentual de brasilienses que citam a Saúde como maior desafio a ser enfrentado pelo governador eleito é um reflexo da disputa pelo Buriti, dominada por esse tema. ;Além disso, houve crises recentes, como as mortes por infecção pela superbactéria. Se compararmos com outros estados, o fato de a Saúde ser o principal foco de reclamações não é surpresa. O que chama a atenção é o percentual de entrevistados que citaram esse como o principal problema da cidade cresceu;, explica Wladimir. Ao todo, 63% dos consultados são usuários do SUS e apenas 37% não dependem da rede pública.

O futuro governador explica que, assim que assumir o cargo, em 1; de janeiro, vai tomar medidas emergenciais para melhorar a saúde pública e também vai começar a implantar medidas que tragam uma mudança a médio prazo. ;A situação está muito ruim, é preciso fazer uma mudança completa e estrutural. Vamos fortalecer a atenção básica, valorizar os servidores e contratar pessoal. Acredito que depois de um ano e meio, essa mudança de gestão já terá um grande impacto positivo no atendimento;, explica Agnelo Queiroz..

Críticas ao transporte

A Saúde lidera o ranking dos problemas que mais incomodam os brasilienses, mas não será o único desafio de Agnelo Queiroz . Dos 1.005 entrevistados, 79% usaram os transportes públicos da cidade alguma vez nos últimos 12 meses. Os participantes deram nota média de 3,8 ao serviço prestado no DF, em uma escala de zero a 10.

Entre eles, 68% dependem dos ônibus para ir e vir, 17% são passageiros constantes do metrô e 3% disseram usar mais vans ou micro-ônibus. Apenas 45% dos entrevistados circulam de carro ou táxi. Ainda assim, a frota de veículos da cidade não para de crescer e já superou a marca de 1,2 milhão de carros em circulação nas ruas da cidade.

O Instituto FSB perguntou aos proprietários de carro ou usuários de táxis se eles passariam a usar o sistema público de transporte, caso houvesse uma melhoria no serviço prestado. Mas a maioria afirmou que prefere os meios de transporte individuais: 54% responderam que dificilmente deixariam o veículo em casa, 24% declararam que provavelmente aceitariam a substituição e somente 21% disseram que certamente deixariam de usar o carro particular para circular em ônibus, metrôs ou micro-ônibus.

Insegurança
Quando o assunto é segurança pública, os brasilienses demonstraram estar insatisfeitos com o trabalho das polícias militar e civil. O Instituto FSB perguntou aos entrevistados como eles se sentem ao andar a pé, sozinhos, a partir das 22h, e 75% disseram sentir-se inseguros ou muito inseguros. Quanto aos crimes que mais assustam os moradores da capital federal destaca-se o assalto à mão armada: 76% disseram estar muito preocupados com esse tipo de violência.

O petista Agnelo Queiroz afirma que a meta da sua gestão será melhorar o policiamento e o aparato repressivo, sem abrir mão de uma forte ação social. Dessa forma, ele pretende reduzir a criminalidade na capital. ;A população vive constantemente preocupada, quem tem filhos fica com medo sempre que eles saem. Mas com um trabalho de combate ao tráfico, aliado ao policiamento comunitário e a ações sociais, vamos conseguir melhorar esse quadro;, garante. (HM)

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