postado em 22/11/2010 08:00
O Distrito Federal tem pelo menos quatro pontos onde a frequente ocorrência de acidentes independe da habilidade e da cautela do condutor. Nessas pistas, especialistas apontam erros de projeto, que contribuem para o aumento do risco de colisões. Os motoristas precisam redobrar a atenção ao trafegar em pontos como a Ponte JK, que liga o Lago Sul à Esplanada dos Ministérios, e o viaduto de Taguatinga Centro -onde um carro despencou no último dia 13, na via que liga ao Pistão Sul, causando a morte de três adolescentes. Os problemas que transformam os locais em ímãs do perigo são antigos. As soluções, embora simples, parecem distantes.Desde que foi inaugurada, em 2002, a Ponte JK é condecorada pela beleza, mas marcada por acidentes. Ainda que toda a estrutura da terceira ligação entre o Lago Sul e o Plano Piloto tenha custado cerca de R$ 186 milhões - quase cinco vezes a estimativa inicial, de R$ 40 milhões -, ela tem, segundo especialistas, erros de engenharia nos acessos dos dois lados da ponte. Basta observar as paredes do viaduto que divide a L4 e a JK: os guard rails estão amassados, há marcas de pneus e derrapagens até uma altura considerável das paredes da passagem e são muitos os restos de peças quebradas em batidas.
Segundo Dickran Berberian, especialista em patologia de estruturas e professor de engenharia civil da Universidade de Brasília (UnB), alguns dos fatores que contribuem para o risco são o raio de curvatura inadequado, a inexistência de superelevação - inclinação no extremo da pista que direciona o carro para dentro - e a impermeabilidade do asfalto do local, que não absorve o óleo e deixa a pista mais escorregadia quando chove. "Essas pistas são criminosas, assassinas", critica.
As soluções são possíveis, simples e podem ser executadas em pouco tempo. "Uma obra rápida poderia consertar a elevação e há espaço para avançar as pistas em até quatro metros, o que suavizaria muito a curvatura", garante Berberian. "O que não pode acontecer mais é continuarmos pagando o preço com vidas", afirma. A Secretaria de Obras do DF, responsável pelo trecho, garante que não há falhas técnicas na pista e que os acidentes costumam acontecer no período chuvoso. Para Berberian, no entanto, a explicação não basta. "Não deveriam acontecer nunca. Mas a quantidade de marcas no local é prova de que esse não é o único problema."
A Estrada Parque Taguatinga (EPTG) também está longe de ter apenas uma falha. As obras que resolveriam os problemas dos mais de 150 mil motoristas que trafegam pela via todos os dias ainda estão em curso, e os acidentes em decorrência da construção não são raros. O perigo também ronda pontos não contemplados pela reforma, como o antigo viaduto da entrada de Taguatinga. O local foi recentemente o marco do fim da vida de três adolescentes e real ameaça ao único passageiro que sobreviveu após o acidente no último dia 12. Todos eram menores de idade e, portanto, não tinham permissão para dirigir.
Trampolim
Um rapaz de 17 anos conduzia um Corsa e perdeu o controle do carro em cima do viaduto. A proteção do trecho elevado é baixa e não impediu a queda de 12 metros, que atingiu um Corolla seguindo na pista de baixo, cujos passageiros tiveram ferimentos leves. O motorista e um passageiro do Corsa morreram na hora. Os outros dois adolescentes foram internados com ferimentos graves. No último sábado, a garota de 14 anos, que estava internada no Hospital de Base, não resistiu. Ela foi enterrada ontem.
"As normas para a construção dos muros de proteção dizem que a estrutura deve ser grande o suficiente para que o carro bata na contenção e volte para a pista, e não para servir de trampolim", diz o especialista em engenharia Dickran Berberian. O Departamento de Estradas de Rodagem do DF (DER-DF) foi procurado pelo Correio para explicar as condições do viaduto, mas não retornou as ligações e os recados deixados.