Luiz Ribeiro/Estado de Minas - Enviado especial
postado em 23/11/2010 07:46
Montalvânia ; A delegada Mabel de Faria, da Coordenação de Investigação de Crimes Contra a Vida (Corvida), chegou na tarde de ontem a Montalvânia para ouvir novos depoimentos relacionados às investigações das mortes do ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) José Guilherme Villela, 73 anos, da mulher dele, Maria Villela, 69, e da empregada Francisca da Silva, 58. Uma das pessoas ouvidas foi uma nova testemunha que, na última sexta-feira, disse ao Correio que, em fevereiro de 2009, foi procurada pelo ex-porteiro Leonardo Campos Alves, 44 anos, para ;fazer um serviço em Brasília a mando de uma mulher;. O triplo homicídio ocorreu em 28 de agosto do ano passado.O homem apontado como nova testemunha chegou à delegacia de Montalvânia acompanhado da esposa, que também foi ouvida pela polícia. Ambos tinham os rostos cobertos. Durante cinco horas, ele repetiu, segundo fontes policiais, a história contada ao Correio na sexta-feira passada. Ele garante ter sido procurado por Leonardo para matar um homem de 70 anos na capital do país, proposta que teria sido recusada. A testemunha já tinha sido ouvida pelo delegado Renato Nunes Henrique, em Montalvânia, no último fim de semana, e repetido a mesma história. Após o depoimento, a delegada Mabel preferiu ser cautelosa e não quis confirmar o teor das declarações, que foram acompanhadas pelo delegado mineiro. ;A investigação está indo muito bem;, limitou-se a dizer Mabel.
No último dia 15, foi preso em Montalvânia o ex-porteiro Leonardo Alves, que confessou o triplo homicídio e acrescentou ter agido com um comparsa, Paulo Cardoso Santana, 23 anos ; ele deve ser ouvido na manhã de hoje pela delegada Mabel. Paulo está preso desde 14 de julho deste ano, após ser acusado de um latrocínio (roubo com morte) na cidade. Mabel quer autorização da Justiça para trazê-lo até Brasília, onde Leonardo está detido. No total, a delegada ouviu oito pessoas ontem, durante mais de sete horas.
O Correio confirmou com fontes do Departamento de Trânsito (Detran) que, em 26 de fevereiro de 2009, a nova testemunha, ouvida ontem por Mabel, esteve em Brasília e deu entrada no processo de renovação de sua Carteira de Habilitação, exatamente conforme o homem contou à reportagem. Essa informação foi apurada pela Polícia Civil do DF. Foi nesta época que ele disse ter sido procurado por Leonardo para cometer o crime que chocou a capital do país.
A polícia candanga investiga ainda a possibilidade da existência de um terceiro envolvido no triplo assassinato, tendo em vista que os autores confessos garantem que, logo após os homicídios no apartamento, eles deixaram o local, sem se preocupar em alterar a cena do crime. Porém quando os corpos foram encontrados, três dias depois dos assassinatos, o apartamento estava limpo, segundo a polícia.
Rotina alterada
A delegada Mabel chegou nesta segunda-feira com uma equipe de 15 pessoas à cidade mineira. A presença dos policiais do DF mudou a rotina de Montalvânia, principalmente em frente à delegacia da cidade. O triplo homicídio também está provocando reações na pequena cidade localizada no norte de Minas. Os moradores acham que o fato de o ex-porteiro ser apontado como principal autor do crime está ;denegrindo a cidade;. É o que pensa o taxista Ozias Baliza. ;Isso está muito ruim. Já recebi vários telefonemas de outras cidades com pessoas perguntando o que está acontecendo em Montalvânia;, afirmou.
Segundo ele, pessoas que nasceram em Montalvânia e moram em outras cidades estão sendo ;discriminadas; por causa da repercussão na imprensa nacional. ;O pior da repercussão do crime e que até mesmo quando as pessoas daqui vão ao hospital e falam que nasceram em Montalvânia, logo perguntam se nasceram na cidade do homem que matou o ex-ministro;, reclama Ozias. Ele justifica que Montalvânia é uma cidade tranquila e tem um povo acolhedor. Leonardo Campos Alves, o acusado do crime, é natural do Maranhão, mas tem ligações com a cidade mineira há mais de 30 anos, porque suas três ex-mulheres nasceram naquele município.
Saiba mais
As investigações do crime da 113 Sul estão concentradas neste momento em Montalvânia
Onde fica a cidade: - no Norte de Minas
Distância do DF: - 640 quilômetros
População: - 16 mil habitantes
Urbana: - 9.536
Rural: - 7.788
Área: - 1.489 km;
População economicamente ativa: - 9.179
Distritos: - três (Poções, Pitarana e Capitânia)
Pedido de quebra de sigilo telefônico
;Ary Filgueira
O Ministério Público do Distrito Federal vai pedir a quebra do sigilo telefônico do ex-zelador do Bloco C da 113 Sul Leonardo Campos Alves, 44 anos, e do sobrinho dele Paulo Cardoso Santana, 23. Os dois começaram a ser investigados pela morte de José Guilherme Villela, 73 anos, de Maria Carvalho Mendes Villela, 69, e da principal empregada da família Francisca Nascimento da Silva, 58, em 28 de agosto de 2009, após a confissão de Leonardo.
O objetivo do promotor Maurício Miranda é comprovar o roteiro que a dupla afirmou ter percorrido antes e depois de consumar o crime. ;Queremos saber se os acusados estiveram nas imediações e no lugar onde ocorreram os assassinatos;, disse Miranda. ;Vamos pedir também a quebra de sigilo da ERB (torre de estação rádio base) da 113 Sul, que vai detectar se eles passaram por lá ou não;, explicou o promotor do Tribunal do Júri de Brasília.
Em depoimento à delegada Deborah Menezes, chefe da 8; DP (SIA), Leonardo afirmou que os dois deixaram Montalvânia em 27 de outubro, uma quinta-feira, com destino a Brasília. Desembarcaram na Rodoferroviária às 5h30 do dia seguinte. Lá, pegaram um ônibus até a Rodoviária do Plano Piloto, onde chegaram por volta das 6h. Começaram a caminhar pelas quadras 100 da Asa Sul, às 7h. Na 103, estiveram em todos os blocos perguntando aos porteiros se havia vaga de trabalho. Ao meio-dia, decidiram retornar para o terminal rodoviário para almoçar, mas encontraram o advogado José Guilherme no Setor Comercial Sul. E seguiram a peregrinação.
A intenção de cometer o crime, segundo Leonardo, surgiu durante o almoço na quadra de esportes da 110/111 Sul. Por volta das 19h, entraram em ação. Leonardo e o sobrinho dizem ter deixado o apartamento às 20h em 28 de agosto. Seguiram pelo Eixinho W, com o dinheiro e as joias. Pegaram um ônibus para a Rodoviária. Lá, outro para a Rodoferroviária, que funcionava próximo ao Shopping Popular. Este foi, segundo os autores, o último ponto no território brasiliense que estiveram.
O promotor também irá investigar a informação de que o ex-porteiro teria sido torturado pela equipe de Deborah Menezes para que realizasse a confissão do crime. ;Se isso ocorreu, é grave e vamos investigar também.; A delegada Deborah Menezes não foi encontrada para prestar esclarecimento sobre a acusação de Miranda.
Registro
A ERB é uma torre com a qual os aparelhos de celulares se comunicam quando estão em uma determinada região. Mesmo desligado, o Imei (número de identificação de cada celular) do aparelho fica registrado na estação rádio base situada nas proximidades por onde o titular da conta passar.
Artigo por Pedro Gordilho
O suplício de Adriana Villela
Agentes policiais foram a Montalvânia com o diretor da Polícia Civil e trouxeram o assassino confesso do pranteado e inesquecível casal Maria e José Guilherme Villela e de sua governanta Francisca.
Indagado quanto à despropositada participação de Adriana Villela, respondeu o assassino, no Auto de Qualificação e Interrogatório realizado na 8; Delegacia de Policia ; SIA: ;O interrogando conhece Adriana Villela, filha do sr. José Guilherme, mas não tinha a menor intimidade com ela ou com os demais familiares, mas, em algumas oportunidades, chegou a conversar com o filho de nome Augusto Villela. Apesar disso, não guarda nenhuma mágoa com relação àqueles. Esse crime foi praticado somente pelo interrogando e por Paulinho, os quais não receberam o auxílio de ninguém, quer seja antes ou depois de praticá-lo. Adriana Villela não teve nenhuma participação nas condutas praticadas pelo interrogando e Paulinho. Não há mandantes no crime que o interrogando e Paulinho praticaram;.
Desnorteados com o sucesso das investigações ; formalmente autorizados, ou não, apresentaram o(s) assassino(s) e o quadro de horrores perpetrados ; agentes policiais que antes haviam desprezado a atual linha investigatória bem-sucedida, sem uma nova reflexão, sem um momento de homenagem à integridade do ser humano, insistem: Adriana continua indiciada e denunciada porque ela seria culpada.
Provas? Indícios implausíveis, uma carta da saudosa Maria Villela dirigida à filha contendo advertências e dissídios puramente conceituais, uma (desautorizada pela ciência) hipotética datação de digitais, uma melodramática cronometragem dos impulsos do celular de Adriana. Só isso.
Não se fez uma detida análise dos eventos que antecederam e culminaram com a prisão do(s) assassino (s), não se cotejaram dados, os velhos com os novos, não se confrontaram pessoas.
Apenas a fogueira das vaidades e a repulsiva cantilena: Adriana é culpada.
Ora, qualquer pessoa que não se oponha à razão e que se detenha diante do quadro presente haverá de estranhar essa bizarra insistência, que sugere, mais do que uma atividade pública que deve ter o timbre de impessoalidade, um interesse pessoal nos procedimentos contra Adriana. Mas não se chega à verdade pela injustiça.
O Estado tem, no caso, um dever a cumprir e esse dever é o de apontar, comprovadamente, culpados, para depois puni-los. E parte disso o Estado já fez, apresentando o assassino confesso. Parece odioso que agentes policiais continuem perseguindo implacavelmente Adriana, buscando dados suspeitos, novas confissões que geram desconfiança, fundados em que pelo organograma do sistema policial a eles cabem exclusivamente os procedimentos de investigação. Temos o(s) assassino(s). Dane-se o organograma. Summum jus, summa injuria.
Vivemos sob a tutela do Estado Democrático de Direito. E o Estado Democrático de Direito não pode prescindir da legitimidade e da licitude na atuação dos agentes e órgãos do Estado. Isto porque agentes e órgãos de Estado é que lhe conferirão juridicidade plena. Eles constituem a garantia do cidadão. E os cidadãos se sentem desprotegidos e desapontados diante desses movimentos erráticos e oponentes dos agentes policiais do Distrito Federal. É estarrecedor até mesmo para o senso comum.
* Ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral e amigo da família Villela