postado em 24/11/2010 08:00
Montalvânia ; A delegada Mabel de Faria, da Coordenação de Investigação de Crimes Contra a Vida (Corvida), ouviu ontem mais sete pessoas em Montalvânia, município de 16 mil habitantes localizado no norte de Minas Gerais. O depoimento mais demorado foi o de Paulo Cardoso Santana, 23 anos, que confessou a participação no crime da 113 Sul. No fim da tarde, a delegada evitou fornecer detalhes sobre o que ouviu, mas admitiu que no novo depoimento, que durou cinco horas, Paulo apresentou uma outra versão em relação à anterior, que havia prestado para a equipe da 8; Delegacia de Polícia (Setor de Indústria e Abastecimento). ;Ele acrescentou novos elementos, com informações mais consistentes que se aproximam da cena do crime encontrada pela perícia;, afirmou a delegada. Mabel de Faria não respondeu se Paulinho, como o suspeito é conhecido, teria falado sobre a participação de Francisco Naérlio, 22 anos, preso ontem no Pedregal, bairro do Novo Gama (GO). Mas deixou escapar que o acusado falou em um terceiro envolvido no crime que chocou a capital do país. ;Não posso divulgar nada sobre o depoimento dele para não atrapalhar as investigações;, alegou.
Paulo Santana deve ser trazido amanhã para Brasília. De acordo com informações de uma fonte policial, a transferência dele foi autorizada ontem à tarde pelo juiz mineiro Eriton José Sant;ana Magalhães, após receber pedido de um colega do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT). A transferência havia sido solicitada pela delegada Mabel de Faria, que preside o inquérito sobre o caso. Mas a Polícia Civil de Minas alegou que Paulinho só poderia ser levado para o DF mediante autorização judicial, tendo em vista que ele está preso preventivamente em Montalvânia por causa de um latrocínio (roubo com morte).
Paulinho está detido desde 14 de julho passado acusado de assassinar o homossexual Mauri José de Paula, 39 anos. A vítima foi morta a pedradas por Paulinho e outro rapaz, identificado como Joaquim Fábio Florêncio, havendo ainda a participação de um menor. Segundo a polícia, Mauri foi executado porque os autores do crime queriam roubar dinheiro e um brinco que ele estava usando. Há suspeita de que a joia também fazia parte das peças retiradas do apartamento dos Villelas e teria sido adquirida nas mãos de Leonardo Alves. O brinco até hoje não foi encontrado.
Busca
No fim da tarde de ontem, Paulo Santana levou os policiais até a beira do Rio Poçãozinho, na área urbana de Montalvânia, onde apontou o local onde ele disse ter jogado a faca usada no triplo homicídio. O acusado garantiu aos investigadores ter se livrado da arma no dia seguinte ao crime, quando retornou à cidade mineira em companhia do ex-porteiro Leonardo Alves, 44 anos. Paulo informou ter colocado a faca em uma sacola plástica antes de jogá-la no rio com uma camiseta e um tênis preto da marca Adidas.
Ele alegou que seguiu orientação do ex-funcionário do Bloco C. ;O Leonardo recomendou que era para a gente jogar fora tudo que a gente usou (no crime);, disse o homem apontado como comparsa do ex-porteiro. De agosto de 2009, quando ocorreu o crime, até agora ocorreram várias enchentes, o que pode dificultar a localização da faca. No entanto, o delegado de Montalvânia, Renato Nunes Henriques, que colabora com as investigações, disse que estuda a possibilidade de pedir o apoio de uma equipe do Corpo de Bombeiros de Janaúba (a unidade dos bombeiros mais próxima de Montalvânia, a 220 quilômetros de distância) para fazer buscas no rio.
Informação rebatida
[FOTO2]A equipe da 8; Delegacia de Polícia (Setor de Indústria e Abastecimento) que prendeu o ex-porteiro Leonardo Campos Alves, 44 anos, em Montalvânia, teria tentado evitar qualquer conotação de que o triplo homicídio foi crime encomendado. A informação foi dada por um agricultor do pequeno município que, em depoimento, disse ter sido procurado por Leonardo em fevereiro de 2009 para cometer a barbárie. Segundo ele, o ex-funcionário do Bloco C estaria interessado em contratá-lo para ;fazer um serviço; na capital federal a ;mando de uma mulher;. A testemunha, no entanto, teria recusado a proposta.
O agricultor de 30 anos relatou a proposta, pela primeira vez, à reportagem do Correio Braziliense, na sexta-feira última. Ele foi ouvido pelos policiais da
8; DP, no início da semana passada. Porém, na ocasião, não contou nada para a polícia. Na segunda-feira, o homem foi ouvido pela delegada Mabel de Faria, da Corvida, e repetiu a história.
O agricultor disse que recebeu de Leonardo uma proposta para ;matar um homem de 70 anos; em Brasília a pedido de uma mulher ;por causa de herança;. Questionado sobre o motivo pelo qual não relatou a oferta na primeira vez que foi ouvido pelos policiais candangos, o morador de Montalvânia alegou que ficou calado porque tem medo de morrer e também teme pela sua família.
Mas ele também contou que, logo que começou a ser interrogado sobre o que sabia sobre Leonardo e o crescimento patrimonial do ex-porteiro, alertou o policial que o interrogou sobre a possibilidade do triplo homicídio ter sido crime por encomenda. ;Falei com ele: Estou no risco (sic) de o mandante vir aqui e fazer alguma coisa comigo e com a minha família. Aí o policial falou: ;Não tem mandante. Não existe mandante. O Leonardo já confessou (o crime);;, assegura a testemunha.
Ele continua o relato ao investigador da 8; DP: ;Eu falei assim: O Leonardo pode estar encobrindo alguma coisa. Aí ele (o policial) falou: ;Ele não está encobrindo (nada). Ele já confessou;;. A testemunha disse ainda que, por mais de uma vez, manifestou sua preocupação em relação ;à pessoa que possa ter mandado fazer esse crime;. Mas que sempre recebeu a informação de que não existia mandante. (LR)
Processo segue trâmite normal
; Adriana Bernardes
Em meio à atribulada investigação do triplo homicídio da 113 Sul, o processo contra a arquiteta Adriana Villela, 46 anos, denunciada por participação na morte dos pais e da governanta da família, segue o rito normal. Na última sexta-feira, o juiz Fábio Francisco Esteves, do Tribunal do Júri de Brasília, expediu um ;mandado de intimação e condução coercitiva; para o informante da 8; Delegacia de Polícia (SIA). E, nessa segunda-feira, o magistrado encaminhou um ofício dando 24h para que o diretor do Instituto de Criminalística (IC) encaminhasse ao Tribunal do Júri ou à Coordenação de Crimes contra a Vida (Corvida) o exame da palmar de Adriana Villela, coletada em um objeto do apartamento das vítimas.
O prazo para que o IC entregasse o exame venceu ontem e não consta do andamento processual no site do Tribunal de Justiça o recebimento do laudo. Procurada, a Polícia Civil não confirmou se o pedido do Judiciário foi atendido dentro do prazo estabelecido. No ofício, consta que a não entrega do laudo no tempo pedido poderia acarretar crime de desobediência e que tal pedido tem como objetivo instruir a ação penal em que a arquiteta é denunciada por participação na morte dos pais.
Andamento
Pelo que consta do andamento processual do Tribunal de Justiça, o informante de Deborah Menezes foi ouvido na tarde da última sexta-feira pelo juiz Fábio Esteves, dois dias depois de ter dito à Corvida que fora coagido a mentir pela delegada-chefe da 8; DP. Segundo versão dos investigadores do SIA, o homem teria dito que ouviu na prisão o filho de Leonardo Alves dizer que o pai estaria envolvido no crime. Na Corvida, porém, ele afirmou que a delegada Deborah teria lhe oferecido dinheiro para passar o Natal se ele assinasse tal declaração. A Corregedoria da Polícia Civil abriu procedimento administrativo disciplinar para investigar o caso.
A equipe de Deborah Menezes prendeu o ex-porteiro em Montalvânia (MG), que confessou o crime o apontou o sobrinho Paulo Cardoso, 23 anos, como coautor. Preso, Leonardo deu nomes de quem teria comprado as joias e onde teria gasto os dólares retirados do apartamento das vítimas. Adriana Villela reconheceu um pingente em forma de folha e banhado a ouro, que pertencia à mãe, a advogada Maria Carvalho Villela. A polícia apura o envolvimento de uma quarta pessoa no crime, possivelmente uma mulher.