Montalvânia e Brasília ; A Coordenação de Investigação dos Crimes Contra a Vida (Corvida) prendeu ontem mais um suspeito do crime da 113 Sul. Trata-se de Francisco Naérlio, 22 anos. Ele teria executado as vítimas na companhia de Paulo Cardoso Santana, 23, e a mando de uma pessoa. Francisco é morador do Pedregal ; bairro do Novo Gama (GO), distante 36km do Plano Piloto ;, mesma região onde residiu Leonardo Campos Alves, 44, ex-porteiro do prédio onde ocorreu o triplo assassinato. Foi justamente por intermédio desse último que a Polícia Civil do DF identificou o terceiro envolvido.
O novo desdobramento no caso começou a partir do depoimento de Leonardo, ontem, em Brasília. O preso foi ouvido pela segunda vez na Corvida ; a primeira foi na sexta-feira passada ; e mudou a versão dada à 8; Delegacia de Polícia (SIA), há 10 dias, quando afirmou ser um dos executores do ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) José Guilherme Villela, 73 anos, da mulher dele, Maria Carvalho Mendes Villela, 69, e da principal empregada da família, Francisca Nascimento da Silva, 58. Porém, ontem, ao delegado Luiz Julião Ribeiro, diretor da Corvida, disse que nem sequer esteve no apartamento onde ocorreu o triplo homicídio. Afirmou ainda se tratar de um crime sob encomenda.
O ex-zelador garantiu ser o intermediário entre o possível mandante e os executores do crime, apontados por ele como sendo Paulo Santana, que é seu sobrinho, e Francisco Naérlio. Ambos, segundo o ex-funcionário do Bloco C, receberam dinheiro e joias para assassinar as três pessoas no interior do apartamento 601/602 da 113 Sul, pertencente aos Villelas. Os agentes e delegados da Corvida dizem já saber quem contratou os dois.
Antecedentes
Francisco tem antecedentes criminais no Pedregal, onde reside. Ele é acusado de tráfico de drogas, mas continuava solto. Dessa vez, o suspeito acabou preso no bairro por força de um mandado de prisão temporário expedido pelo Tribunal do Júri de Brasília, com validade de 30 dias. A prisão foi autorizada no início da noite de ontem. As equipes da Corvida que estão no Pedregal já monitoravam o suspeito. Assim que receberam a permissão da Justiça, não esperaram pelo amanhecer e cumpriram o mandado com urgência para que ele não fugisse.
A reviravolta no caso começou na última sexta-feira, quando a reportagem do Correio localizou em Montalvânia um trabalhador rural que surge como uma nova testemunha do caso. Ele disse que, em fevereiro de 2009, quando viajou até o DF para renovar a carteira de motorista, foi procurado por Leonardo. O ex-porteiro teria dito que estava interessado em contratá-lo para ;matar um homem de 70 anos a mando de uma mulher;. No fim de semana, a testemunha foi ouvida pelo delegado de Montalvânia, Renato Nunes Henriques, e repetiu o que tinha dito à reportagem.
Na última segunda-feira, o mesmo morador, num longo depoimento à delegada Mabel de Faria, da Corvida, repetiu a história. A equipe da delegacia especializada de Brasília já ouviu pelo menos 15 pessoas na cidade mineira e fez várias diligências, reunindo provas sobre a participação de Leonardo e Paulo no triplo homicídio, ocorrido em 28 de agosto de 2009.
;Abrindo caminho;
De acordo com fontes policiais, em nova versão, Leonardo disse aos investigadores da Corvida que teria auxiliado os matadores, ;abrindo o caminho; para que eles entrassem no apartamento dos Villelas. Ainda conforme apurou a reportagem, o ex-porteiro relatou que, como já conhecia o prédio, ele acompanhou os dois autores (Paulo e Francisco) até a entrada do Bloco C. Passaram pela garagem. No entanto, como era conhecido dos moradores, Leonardo não teria subido até o apartamento, localizado no sexto andar do prédio.
Ainda de acordo com a versão de Leonardo, Paulo e outro comparsa entraram pela área de serviço. Antes de ser morta, a mulher do ex-ministro teria levado os dois invasores até o closet do apartamento, onde estavam as joias. Logo em seguida, com as joias e os dólares que retiraram do imóvel, a dupla desceu. Lá embaixo, Leonardo já estava esperando pelos outros dois comparsas, com uma bolsa de cor escura (seria preta). Ele orientou que todos os bens retirados do apartamento, assim como as facas usadas no crime, fossem colocados na bolsa encostada na parede.
Logo depois, Paulo e Francisco teriam saído com as mãos vazias, andando normalmente, como se nada tivesse acontecido. Mais tarde, Paulo ; já sem a companhia de Francisco ; se encontrou com Leonardo na Rodoferroviária. Eles teriam entrado em um ônibus e iniciado a viagem de volta para Montalvânia, passando pela Bahia. Ainda de acordo com uma fonte policial, Leonardo disse que acabou ficando com uma das facas usadas no crime. O objeto teria sido escondido dentro de uma caixa de ferramentas, que foi encontrada, mas sem a faca. Ontem, uma menor, parente de Leonardo, revelou que policiais que estiveram na cidade, na semana passada, teriam levado as ferramentas do ex-porteiro. O promotor Maurício Miranda, do Tribunal do Júri de Brasília, disse que a prisão de um terceiro suspeito pode ajudar a elucidar o crime.
CRONOLOGIA
15 de novembro
O ex-porteiro do Bloco C da 113 Sul Leonardo Campos Alves é preso em Montalvânia (MG) por agentes da 8; Delegacia de Polícia (SIA) e confessa participação nas mortes dos Villelas e da empregada Francisca da Silva. Um segundo homem ; Paulo Cardoso Santana, que já estava detido por outro crime na cidade mineira ; é acusado de ser o comparsa de Leonardo nas mortes da SQS 113.
16 de novembro
A prisão vem a público. O diretor-geral da Polícia Civil do DF, Pedro Cardoso, e a titular da 8; DP, Deborah Menezes, viajam para Montes Claros (MG), onde Leonardo permanece detido. A chefe do inquérito do crime da 113, delegada Mabel de Faria, da Corvida, afirma não ter sido previamente informada da prisão e reitera que tem provas periciais contra Adriana Villela.
17 de novembro
Leonardo Alves chega a Brasília e concede entrevista coletiva. Ele conta que, em 28 de agosto de 2009, veio à capital com Paulo Cardoso, em princípio, para pedir emprego. Os dois, porém, decidiram roubar os Villelas. Leonardo conta que atacou José Guilherme primeiro e fugiu do apartamento da 113 Sul deixando para trás as duas facas do crime ; que a polícia nunca encontrou. A filha do casal assassinado reconhece um pingente folheado a ouro apreendido com um ourives de Montes Claros como sendo da mãe. O homem afirmou ter comprado a peça de Leonardo Alves. O promotor Maurício Miranda, do Tribunal do Júri de Brasília, pede à Justiça que impeça que a 8; DP faça investigações sobre o crime da 113 Sul e o caso fique novamente concentrado na Corvida.
18 de novembro
A Justiça determina que o caso fique com a Corvida.
19 de novembro
As delegadas da Corvida, Mabel de Faria, e da 8; DP, Deborah Menezes, se desentendem quanto ao depoimento do informante que teria ouvido o filho de Leonardo revelar a autoria do crime na cadeia.
21 de novembro
Delegada da Corvida, Mabel de Faria viaja para Montalvânia para ouvir depoimentos. A seccional do Distrito Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-DF) afirma que vai pedir ao Ministério Público do DF que apure a conduta de integrantes da Polícia Civil envolvidos na investigação do crime.
22 de novembro
A Polícia Civil do DF anuncia que a Corregedoria da corporação vai investigar a conduta dos policiais que trabalham para esclarecer o crime da 113 Sul. No mesmo dia, a delegada Mabel de Faria chega a Montalvânia para ouvir novos depoimentos relacionados às investigações. Uma das pessoas ouvidas foi a nova testemunha que revelou ao Correio ter sido procurada pelo ex-porteiro Leonardo Campos para matar os Villelas.