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Pesquisadores prometem espalhar 2 mil orquídeas em pontos de todo o DF

postado em 24/11/2010 08:00
Quando projetou a nova capital do país, Lucio Costa decidiu, entre vários outros desafios, emoldurar o concreto armado com um cinturão de árvores. Se depender do Jardim Botânico de Brasília (JBB), o verde do urbanista ganhará pinceladas em tons púrpuras. Os pesquisadores do espaço prometem espalhar pelo menos 2 mil orquídeas em pontos de todo o Distrito Federal.

A segunda fase do projeto começou ontem, no antigo Espaço Pedalinho do Parque da Cidade. As flores também integrarão o Parque Olhos d;Água, a 315 Norte e o Park Way. ;Vamos colocar orquídeas em todo o DF;, empolga-se a engenheira florestal Lílian Breda, gerente de Manejo de Recursos Naturais do JBB. Em junho, a primeira fase da iniciativa levou mais de mil exemplares ao fim da Asa Sul. Frequentadora do Parque da Cidade, a servidora pública Daniella Silveira, 37 anos, acredita que o plantio vai trazer vida nova ao espaço. ;As flores deixam qualquer lugar mais agradável;, observa.

O projeto não para por aí. Lílian conta que, no início do ano que vem, representantes dos jardins botânicos do Chile e da Nicarágua desembarcarão no Planalto Central para conhecer as técnicas brasilienses de cultivo de orquídeas. Além disso, flores produzidas no DF foram enviadas para Recife.

Mas o desabrochar de pétalas roxas por toda a cidade vai demorar. Por enquanto, elas permanecem quase imperceptíveis. Ficam amarradas em barbantes nos galhos das árvores e se resumem a brotos de folhas verdes. ;Daqui a três anos, as orquídeas vão atingir a fase adulta e ficarão visíveis;, explica Lílian.

A escolha dos locais não ocorre de forma aleatória. A Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap) indica quais pontos são adequados para receber as mudas. ;A ideia inicial de Brasília era que cada quadra tivesse uma espécie predominante para caracterizá-la. Mas os moradores agiram como se o Plano Piloto fosse o próprio quintal de casa e plantaram por todos os cantos. É preciso ter critérios;, atenta Rômulo Ervilha, chefe do Departamento de Parques e Jardins (DPJ) da Novacap.

Extinção
Nos primeiros dias de trabalho no Jardim Botânico, em 2007, Lílian encontrou orquídeas nativas do cerrado e decidiu devolvê-las à natureza. Além de entregá-las aos olhos brasilienses, passou a contribuir para livrá-las do risco de sumir do mapa. ;Existem quatro espécies em extinção. Elas precisam voltar ao ecossistema;, alerta a engenheira florestal.

O diretor do Jardim Botânico, Jeanitto Gentilini, teme que as mudas cresçam em ambientes particulares, e não nas ruas da cidade. ;Muita gente tem paixão por orquídeas e pode não resistir em levá-las para casa. O projeto depende da educação da comunidade;, explica Gentilini. O chefe do DPJ, no entanto, conta que a conscientização dos moradores tem aumentado. ;Houve uma mudança de comportamento. Os roubos nos canteiros da cidade ficaram quase irrisórios;, tranquiliza Ervilha.

O projeto de cultivo das orquídeas só se concretizou depois que Lílian saiu à procura de apoio. A gerente perdeu as contas de quantos políticos visitou até conseguir, com a ajuda do deputado federal Jofran Frejat (PR-DF), a verba que financiou a ideia. Hoje, o Jardim Botânico guarda 100 mil mudas de orquídeas in vitro e outras 20 mil aclimatadas em estufas.

Para saber mais
Resistência à seca

O botânico inglês George Gardner colheu, em 1840, plantas que viviam em árvores às margens de afluentes do Rio São Francisco, no norte de Minas Gerais. Três anos depois, o pesquisador batizou a flor de Cattleya walkeriana e publicou suas primeiras características em um jornal londrino. A espécie só existe no centro do Brasil e é encontrada em cima de árvores e arbustos de mata seca. Orquídeas desse tipo foram plantadas no Parque da Cidade e sobrevivem com facilidade a períodos de estiagem. Depois que atinge a idade adulta, a floração ocorre em abril e pode se prolongar até julho. A cor das pétalas varia em tons de lilás. As hastes têm capacidade para gerar até três flores com média de 8cm a 12cm de diâmetro.

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