Adriana Bernardes, Guilherme Goulart
postado em 25/11/2010 08:01
O defensor da arquiteta Adriana Villela vê com ;extrema reserva; o depoimento do ex-porteiro Leonardo Campos Alves, prestado na terça-feira à Coordenação de Investigação de Crimes Contra a Vida (Corvida). O ex-funcionário do Bloco C da 113 Sul acusou a arquiteta de ter encomendado a morte dos pais, o casal de advogados José Guilherme e Maria Villela, e da empregada da família, Francisca Nascimento da Silva. ;É uma testemunha sob a custódia dessa autoridade policial (Corvida) que, coincidentemente, diz o que eles têm interesse em ouvir para sustentar essa linha de investigação;, avalia o advogado Rodrigo Alencastro, um dos defensores da filha do casal Villela.Alencastro destacou ainda que a cliente chamou a atenção da polícia há um ano para a necessidade de que fosse aprofundadas as investigações sobre os ex-porteiros do prédio, entre eles Leonardo. Segundo o advogado, Adriana não teria sido atendida. ;Além disso, não é possível dar credibilidade a uma pessoa que, em várias outras oportunidades, deu versões diferentes para o caso;, reforça.
Para o advogado, as autoridades policiais envolvidas na apuração do caso têm agido para chancelar conclusões precipitadas sobre a suposta participação da filha do casal na trama criminosa. ;Esses fatos novos só corroboram o nosso pedido de suspeição da autoridade policial (delegada Mabel de Faria, da Corvida) que agora tenta, novamente, incluir a Adriana na cena do crime.; Na última segunda-feira, os defensores da arquiteta pediram na Justiça do DF o afastamento da delegada que preside o inquérito sob o argumento que ela não apura o caso com imparcialidade.
Os advogados rebatem a única prova material que existe contra ela: o laudo que, segundo a polícia, atesta que Adriana Villela esteve no apartamento dos pais entre 28 e 31 de agosto. A defesa considera normal a existência de digitais da filha na casa dos pais e assegura que todas as declarações dadas por ela sobre os locais em que esteve no dia do crime podem ser comprovadas por meio de depoimento ou da quebra do sigilo telefônico. ;Tudo o que tem acontecido só reforça as nossas preocupações em relação à conduta dos policiais na investigação desse crime. Tanto que denunciamos as irregularidades no memorial entregue em maio a OAB-DF;, destaca Alencastro.
Relatório
Do lado da acusação, o relatório da Corvida assinado pela delegada Mabel de Faria narra com detalhes os indícios e as provas levantadas pela polícia ao longo da investigação (leia fac-símile). O documento aponta sete dos oitos elementos listados pelo Correio e reunidos pela polícia contra Adriana (veja arte). Os investigadores apontam dados que reforçam a suspeita da participação da filha dos Villela no crime. ;(;) Adriana tinha a motivação para a prática do crime, bem como havia sido frustrada, mais uma vez, em seu desejo de receber dinheiro extra da mãe, quando se falaram em 24/8/2009;, escreveu Mabel.
O documento, encaminhado ao Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT) em 14 de setembro de 2010, descreve o comportamento da arquiteta nos dias em que ocorreram as mortes das três vítimas e a localização dos corpos. Entre 28 e 31 de agosto de 2009, Adriana levantou, segundo o relatório policial, várias suspeitas sobre o envolvimento dela no triplo homicídio. Algumas passam pela ansiedade em obter um álibi para a noite de 28 de agosto, pela despreocupação com a falta de notícias dos pais e pela tentativa de retardar a chegada da filha dela, Carolina, ao Bloco C da 113 Sul na segunda-feira em que os corpos foram encontrados pela polícia.
Um dos pontos mais aprofundados pela apuração da Corvida, no entanto, é a suposta interferência de Adriana no caso. Segundo os investigadores, ela agiria nos bastidores para tentar direcionar o trabalho policial. ;Desde o início da investigação, Adriana Villela tudo tem feito para imputar a terceiros a prática desses crimes, buscando o auxílio de uma vidente, quando as cartas de dona Maria Villela foram descobertas, a partir de que se imputou o crime a três inocentes;, concluiu a delegada da Corvida no mesmo relatório enviado à Justiça.
Mais tarde, a apuração da Corvida identificou vínculos entre Adriana e a vidente Rosa Maria Jaques. Essa última procurou a delegada Martha Vargas, a primeira delegada à frente do caso, e disse que poderia apontar os responsáveis pela tragédia. Foi assim que policiais da 1; Delegacia de Polícia, na Asa Sul, prenderam três moradores de Vicente Pires. No local, os investigadores disseram ter encontrado uma chave que abriria o imóvel dos Villelas. O episódio acabou com a delegada afastada do caso por suspeita de arbitrariedade. O trio não tinha nenhuma ligação com o crime.
;Conclusões inverossímeis;
O memorial dos filhos de José Guilherme Villela e Maria Carvalho Mendes Villela foi entregue à OAB-DF dois meses antes de a Justiça decretar a prisão preventiva de Adriana Villela por supostamente atrapalhar as investigações. No documento, os advogados narram o que consideram ;equívocos; da investigação e ;fragilidade das provas colhidas;, segundo eles, por meio de métodos classificados como ;questionáveis;. Segundo a defesa, tais provas serviram apenas para que a autoridade policial tirasse conclusões inverossímeis.