Jornal Correio Braziliense

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Comparsa descarta que triplo assassinato tenha mandante

Trazido a Brasília, Paulo Santana, que estava preso no norte de Minas, diz que agiu somente com Leonardo Alves. Delegada da Corvida reforça que tem elementos que incriminam filha do casal Villela

Montalvânia ; A delegada Mabel de Faria, da Coordenação de Investigação de Crimes Contra a Vida (Corvida), encerrou, ontem, em Montalvânia, município localizado no norte de Minas, as investigações sobre o triplo homicídio da 113 Sul. Ela afirma que, com os depoimentos colhidos na cidade mineira, o trabalho ;avançou bastante;, indicando crime de mando. Mabel citou novamente a arquiteta Adriana Villela, contra quem, segundo diz, surgiram novos ;elementos comprobatórios; da participação dela no crime. Porém, um dos envolvidos, Paulo Cardoso Santana, 23 anos, apontado como comparsa do ex-porteiro Leonardo Campos Alves, 44, voltou a negar ontem que o triplo assassinato tenha sido encomendado. A defesa de Adriana também contesta as argumentações da delegada (leia reportagem na página 27).

O acusado estava preso em Montalvânia e foi trazido em avião da Polícia Civil para o Distrito Federal
;Não teve mandante. Foi (sic) nós dois mesmo;, afirmou Paulo, referindo-se também a Leonardo. A frase foi dita logo após o acusado deixar a cadeia de Montalvânia, ontem à tarde. Ele foi transferido num avião da Polícia Civil do Distrito Federal para Brasília. Na mesma aeronave, viajaram o diretor-geral da corporação, Pedro Cardoso, e o delegado Acimar Loli, da Corvida. Paulinho, como é conhecido, está na carceragem do Departamento de Polícia Especializada, ao lado do Parque da Cidade. Os investigadores candangos devem fazer uma acareação entre ele, Leonardo e Francisco Mairlon Aguiar, 22 anos, que estão presos em Brasília sob acusação de participação no crime da 113. A reconstituição do triplo homicídio também é prevista pelos investigadores.

O promotor Maurício Miranda, do Tribunal do Júri de Brasília, disse que a acareação é um passo importante para a investigação. ;Para eliminar falsos depoimentos e se chegar a uma verdade final;, ressaltou. O avião que trouxe Paulo Santana pousou e decolou no aeroporto da cidade baiana de Cocos, distante a 40 quilômetros de Montalvânia. Para o transporte do preso no trecho por terra, a polícia do DF contou com o apoio dos colegas da Bahia. ;Contamos tanto com o apoio da polícia da Bahia como da de Minas;, afirmou Pedro Cardoso.

Encontro
A delegada Mabel de Faria iniciou os trabalhos em Montalvânia na segunda-feira última, acompanhada de mais um delegado, dois escrivães e 13 agentes da delegacia especializada. Antes de deixar a cadeia de Montalvânia, Paulo teve um rápido encontro com sua mãe, a lavadeira Deusa Júnia Santana, 43 anos, que chorou muito ao se despedir do filho. A transferência dele foi autorizada pelo juiz da comarca local, Eriton José Sant;ana Magalhães, atendendo ao pedido de um outro magistrado do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT).

O ex-porteiro Leonardo Alves havia sido preso na mesma cidade no último dia 15, por uma equipe da 8; DP e confessou a participação nas mortes do ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) José Guilherme Villela, 73 anos; da mulher dele, Maria Carvalho Villela, 69; e da empregada da família, Francisca Nascimento Silva, 58. Ele apontou Paulo como comparsa, que também confessou envolvimento no crime ocorrido em 28 de agosto de 2009. Francisco foi preso no Pedregal no começo desta semana. Ele, porém, afirma não ter participado diretamente do triplo homicídio.

Diligências
Hoje, Mabel de Faria viaja para Montes Claros, onde vai ouvir os depoimentos de um ourives e de um comerciante que declararam ter adquirido nas mãos de Leonardo dólares e joias que foram retirados do apartamento dos Villela. Em quatro dias de trabalhos em Montalvânia, a equipe da Corvida colheu pelo menos 25 depoimentos de testemunhas ; sendo que algumas pessoas foram ouvidas mais de uma vez ; e fez várias diligências em imóveis que eram frequentados pelo ex-porteiro. Também foram apreendidas duas motos que pertenciam a Leonardo e Paulinho e que teriam sido compradas a partir do crime ocorrido em Brasília.

Ontem à tarde, a delegada Mabel de Faria não quis adiantar nada em relação ao teor dos depoimentos que ouviu em Montalvânia. Mas admitiu que Paulo Santana apresentou uma nova versão, que, segundo ela, ;é mais verossímel em relação à cena do crime que foi encontrada pela perícia;. Embora a delegada não confirme, uma nova informação dada pelo comparsa do ex-porteiro é que as vítimas teriam sido amarradas antes de serem executadas com uma corda ;achada no lixo;, que depois seria levada pelos próprios executores.

Colaborou Saulo Araújo


DESDOBRAMENTOS

Paulinho já estava preso em Montalvânia desde 14 de julho, acusado de um latrocínio na cidade. Já o ex-porteiro foi transferido para a capital federal no último dia 16 e, esta semana, prestou novo depoimento na Corvida, apresentando nova versão para o crime. Ele apontou um terceiro envolvido: Francisco Mairlon.


Três perguntas para Paulo Santana, 23 anos, um dos acusados pelo triplo homicídio da 113 Sul

Adriana Villela estava no apartamento no momento do assassinato?
Não.

Adriana Villela é a mandante do crime?

Ninguém mandou não.

O que aconteceu?
Nós foi (sic) para roubar.


Intenção seria apenas roubar

Roberta Machado

Paulo Cardoso Santana, 23 anos, foi trazido de Montalvânia (MG), cidade localizada a 460 km de Brasília, na tarde de ontem. Ele estava desacompanhado da delegada Mabel de Faria, da Coordenação de Investigação de Crimes Contra a Vida (Corvida), que seguiu para Montes Claros. O avião que trouxe o suspeito de ter participado do triplo homicídio da 113 Sul chegou à capital federal às 18h30, quando pousou no hangar do Corpo de Bombeiros do Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek. Assim que Paulo desceu algemado, foi rapidamente levado para uma viatura da Corvida e partiu para o Instituto Médico Legal (IML), no complexo do Departamento de Polícia Especializada (DPE), onde passou por exames de corpo de delito.

As palavras ditas por Paulo Cardoso no curto trajeto entre a viatura e o IML foram poucas, mas decisivas. O suspeito negou rapidamente os pontos mais importantes dos últimos depoimentos de Leonardo Campos Alves, 44, ex-porteiro do prédio onde ocorreu o crime, que colocavam a possível participação de Adriana Villela novamente na linha de investigação. Paulo negou a presença da filha do casal Villela no momento do triplo homicídio e ainda afirmou que não desferiu as facadas a mando de arquiteta ou de qualquer pessoa. Antes de ser levado pelos agentes da Polícia Civil, o suspeito disse que o objetivo da invasão ao apartamento dos Villelas não era matar os moradores, e sim praticar um roubo.

Após alguns minutos no IML, Paulo Santana foi levado para a Corvida, onde entrou por uma porta de acesso restrito. Policiais que estavam no local afirmaram que, apesar de Paulo ter chegado de viagem há menos de uma hora, ele passaria imediatamente por um interrogatório. Ele teria sido ouvido pelo diretor da Corvida, Luiz Julião Ribeiro.