Brasília e Montes Claros ; A próxima semana pode ser decisiva para a Coordenação de Investigação de Crimes Contra a Vida (Corvida). O momento mais aguardado é a acareação entre os três homens suspeitos de envolvimento no triplo assassinato ocorrido na 113 Sul em 28 de agosto de 2009. Com a chegada a Brasília de Paulo Cardoso Santana, 23 anos, na quinta-feira última, o trio deve ser colocado frente a frente nos próximos dias. À disposição dos delegados que investigam o caso ; Luiz Julião Ribeiro e Mabel de Faria ; estão, além de Paulo, o ex-porteiro Leonardo Campos Alves, 44 anos, e Francisco Mairlon Barros Aguiar, 22. Esse último é acusado por Paulinho de ser um dos executores das vítimas.
Um dos pontos de divergência do depoimento deles é sobre a existência ou não de um mandante do crime. Apenas Leonardo confirmou isso até o momento. Para ajudar a esclarecer todas as dúvidas, a polícia também pretende fazer uma reconstituição das mortes de José Guilherme Villela, 73 anos, Maria Carvalho Mendes Villela, 69, e da empregada Francisca Nascimento da Silva, 58. A base da simulação, que também pode ocorrer na semana que vem, deve ser o depoimento dos três acusados, que são conflitantes. Ontem, Paulo prestou novas declarações na Corvida ao diretor da delegacia especializada, Luiz Julião Ribeiro. O teor, porém, não foi revelado.
Tanto a acareação quanto a reconstituição terão como objetivo esclarecer alguns pontos obscuros da investigação. Entre os quais, o real motivo do triplo homicídio. O que intriga é o fato de não haver rastros dos prováveis culpados dentro do imóvel onde ocorreram os assassinatos. Embora eles garantem não ter usado luvas, não havia impressão digital deles no imóvel.
Sem dúvida
Uma fonte policial contou ao Correio que a polícia não tem mais dúvida do envolvimento da filha do casal assassinado, Adriana Villela, 46 anos, no caso. Segundo o depoimento de Leonardo, cujo o Correio teve acesso, ela o teria contratado para realizar um furto no apartamento dos pais. Porém, estando lá dentro, a filha teria ordenado que os outros dois suspeitos ; Paulo e Francisco ; executassem as três vítimas. Em troca, eles teriam recebido US$ 27 mil e joias. A defesa de Adriana nega qualquer envolvimento dela no crime e considera as declarações de Leonardo como sendo ;absurdas;.
O Ministério Púbico do DF avisou que deve pedir novo segredo de Justiça para o processo e sobre as investigações. O promotor Maurício Miranda, do Tribunal do Júri de Brasília, explicou que está preocupado com a exposição exagerada do caso nessa nova fase. Mas fontes policias disseram ao Correio que a decisão se deu após uma reunião entre Miranda e o diretor da Polícia Civil, Pedro Cardoso. Esse último teria se queixado sobre a ;publicidade; que o caso ganhou nestas duas semanas.
As investigações tiveram uma mudança. O delegado Luiz Julião Ribeiro, que apenas acompanhava o desdobramento do caso, agora passa a presidir o inquérito. A decisão teria partido da própria direção da Polícia Civil. O papel de Julião já havia ficado claro nesta semana, quando ele ouviu Leonardo Alves. Na ocasião, o ex-porteiro apresentou uma nova versão para o triplo homicídio. Agora, os depoimentos estão concentrados nas mãos do diretor da Corvida.
Trabalho encerrado
A delegada Mabel de Faria, da mesma delegacia especializada, encerrou ontem as investigações do caso da 113 em Minas Gerais. Ela colheu depoimentos ontem em Montes Claros do comerciante e do ourives que compraram joias e dólares levados dos Villelas (leia reportagem na página 43). Ela disse que não poderia falar nada sobre as investigações, evitando também fazer um balanço sobre o trabalho em Minas, onde esteve acompanhada de um outro delegado, dois escrivães e 13 agentes da Corvida desde a última segunda-feira.
Em relação aos futuros passos das investigações, limitou-se a dizer: ;Vai depender do que eu encontrar em Brasília;. A reportagem apurou que houve um acordo das autoridades envolvidas na elucidação do triplo assassinato para somente dar declarações à imprensa quando houver uma conclusão do caso. Anteontem, em Montalvânia, a delegada disse que, com os depoimentos colhidos naquela cidade, as investigações tiveram grande avanço, indicando crime de mando.
Mas, também nesta quarta-feira, ao deixar a cadeia de Montalvânia, pouco antes de ser transferido para Brasília, o homem apontado como comparsa do ex-porteiro, Paulo Cardoso Santana, negou que houvesse um mandante do triplo homicídio. Ele sustentou que somente ele e Leonardo cometeram o crime.
Diferentes versões
Leonardo Campos Alves, 44 anos, ex-porteiro do Bloco C da 113 Sul
; No último dia 14, o ex-funcionário do Bloco C confirmou na 8; DP e para a imprensa que é um dos executores do casal Villela e da empregada da família. Ele disse que veio de Montalvânia para Brasília em busca de emprego. Depois de percorrer várias quadras da Asa Sul, ele e Paulo Cardoso Santana, 23 anos, que é seu sobrinho, teriam se encontrado por acaso com o ex-ministro do TSE José Guilherme Villela no Setor Comercial Sul. Ele teria pedido emprego ao advogado e, diante da negativa, teria se sentido humilhado. A ideia de roubar o apartamento do ex-ministro do TSE teria partido de Paulo. A intenção, segundo eles, era apenas praticar o assalto. Na ocasião, ele não admitiu crime de mando.
; Dez dias depois, Leonardo mudou a versão no segundo depoimento que prestou na Coordenação de Investigação de Crimes Contra a Vida (Corvida). Ao delegado Luiz Julião Ribeiro, diretor da unidade especializada da Policia Civil do DF, ele disse que nem sequer entrou no apartamento 601/602 do Bloco C, onde o casal residia. E garantiu que agiu a mando da filha dos Villela, Adriana. A defesa dela nega e, inclusive, mostra o mapeamento das torres que captaram as ligações de Adriana no dia do crime ; todas elas distantes da 113. Além disso, a família alega que a arquiteta sempre sugeriu a necessidade de se aprofundar a investigação sobre o ex-porteiro.
Paulo Cardoso Santana, 23 anos, sobrinho de Leonardo
; No dia 23 último, o morador de Montalvânia deu novo depoimento sobre o crime e admitiu o envolvimento de uma terceira pessoa na tragédia que ainda desafia as autoridades policiais.
; Ao chegar a Brasília, na última quinta-feira, ele disse que agiu apenas com Leonardo. Ao contrário do tio, ele nega crime de mando. ;Não teve mandante. Foi (sic)nós dois mesmo ;,
garantiu.
Michelle da Conceição Alves, 26 anos, filha de Leonardo
; Ela disse na 8; DP que soube do envolvimento do pai no crime da 113 Sul ao viajar para Montalvânia em abril deste ano. Na ocasião, ela se encontrou com o irmão, Franklin, com quem comentou sobre o crime da 113 Sul e que Leonardo virou notícia ao depor na 1; Delegacia de Polícia (Asa Sul) por ter trabalhado no Bloco C daquela quadra. Franklin, que é trabalhador rural, teria dito a ela do envolvimento do pai no triplo homicídio. O filho teria encontrado na casa do ex-porteiro um ;bolo de dinheiro; na parede, além de joias. A mulher teria comentado a história com o outro irmão, que está preso na Papuda.
; Na Corvida, ela teria mudado o depoimento e dito que jamais acusou o pai de ter participado do crime.
MEMÓRIA
Novos rumos para o caso
A investigação sobre o triplo homicídio da 113 Sul tomou novo rumo no último dia 15, quando o ex-porteiro do Bloco C da 113 Sul Leonardo Campos Alves, 44 anos, foi preso em Montalvânia (MG), cidade mineira localizada 640km do Distrito Federal, por agentes da 8; Delegacia de Polícia (SIA). À delegada Deborah Menezes, chefe da unidade policial, ele confessou participação nos homicídios dos Villelas e da empregada Francisca da Silva. Um segundo homem ; Paulo Cardoso Santana, que já estava detido por outro crime na cidade mineira ; também foi acusado de ser o comparsa de Leonardo nas mortes da SQS 113.
No dia seguinte, veio a público a prisão de Leonardo, que trabalhou por 15 anos no Bloco C da 113, onde ocorreram os assassinatos. O diretor-geral da Polícia Civil do DF, Pedro Cardoso, e a titular da 8; DP, Deborah Menezes, viajaram para Montes Claros (MG), onde Leonardo já estava detido. A chefe do inquérito do crime da 113, delegada Mabel de Faria, da Corvida, afirmou não ter sido previamente informada da prisão.
No último dia 17, Leonardo Alves chegou a Brasília. Em entrevista coletiva, ele contou que, em 28 de agosto de 2009, veio a capital com Paulo Cardoso, em princípio, para pedir emprego. Os dois, porém, decidem roubar os Villelas. Leonardo disse que atacou José Guilherme primeiro e fugiu do apartamento da 113 Sul deixando para trás as duas facas do crime ; que a polícia ainda não encontrou. A filha do casal assassinado reconheceu um pingente folheado a ouro apreendido com um ourives de Montes Claros como sendo da mãe. O homem afirmou ter comprado a peça de Leonardo Alves. No mesmo dia, o promotor Maurício Miranda, do Tribunal do Júri de Brasília, pediu à Justiça que impedisse que a 8; DP ficasse no comando das investigações sobre o crime da 113 Sul. O Judiciário acatou o pedido no último dia 18 e o caso continuou com a Coordenação de Investigação de Crimes Contra a Vida (Corvida).
No dia 19, veio a público um desentendimento entre as delegadas da Corvida, Mabel de Faria, e da 8; DP, Deborah Menezes. O motivo foi o depoimento de um informante que teria ouvido o filho de Leonardo revelar autoria do crime na cadeia. Diante disso, a Corregedoria da Polícia Civil abriu um procedimento administrativo disciplinar para apurar a conduta dos investigadores no caso da 113.
Em busca de mais respostas para o crime que chocou a capital do país, Mabel de Faria viajou para Montalvânia. Durante a última semana, ela colheu dezenas de depoimentos. Paulo Cardoso Santana, 23 anos, que estava preso na cidade mineira, foi trazido a Brasília na última quinta-feira. Antes, ele mostrou aos policiais o rio onde teria jogado uma das facas utilizadas no triplo homicídio. Com a ajuda do Corpo de Bombeiros, os policiais candangos conseguiram localizar uma lâmina às margens do Rio Poçãozinho, mas o objeto não foi reconhecido por Paulo como sendo o usado para matar o ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) José Guilherme Villela, 73 anos, a sua esposa Maria Carvalho Villela, 69, e a governanta da família, Francisca da Silva, 58.