Cidades

Corvida deve descartar acareação entre acusados do crime da 113 Sul

Mas não abrem mão da simulação do que ocorreu no local do crime

postado em 29/11/2010 07:52
A delegada Mabel de Faria e 14 investigadores chegaram de Montalvânia e Montes Claros, em Minas Gerais, na tarde de sábado trazendo uma certeza: o triplo homicídio ocorrido na SQS 113 está praticamente solucionado. A convicção da diretora da Coordenação de Investigação de Crimes Contra a Vida (Corvida) é tanta que ela deve descartar a acareação dos três suspeitos prevista para esta semana. Um dos detidos na nova fase da apuração, Leonardo Campos Alves, 44 anos, acusa Paulo Mota Carvalho, 23, e Francisco Mairlon Barro Aguiar, 22, de serem os executores de José Guilherme Villela, 73 anos, Maria Carvalho Mendes Villela, 69, e Francisca Nascimento da Silva, 58.

A delegada Mabel de Faria depende do esclarecimento de pontos ainda obscuros para concluir a investigaçãoO Correio obteve a informação por meio de uma fonte da Polícia Civil, uma vez que Mabel e Luiz Julião Ribeiro, esse último coordenador da Corvida, estão proibidos de dar entrevista. De acordo o policial, Mabel deve mesmo fazer a reconstituição do crime. O objetivo é esclarecer alguns pontos classificados pela policial como obscuros. Um deles seria o papel de cada um no crime, já que Francisco desmente a declaração de Leonardo, que afirmou a participação dele nas execuções. A simulação ocorrerá principalmente a partir da versão contada por Leonardo e Paulo. Ambos teriam confessado a participação nas mortes das três pessoas dentro do apartamento 601/602 do Bloco C da 113 Sul em 28 de agosto de 2009, mas mudaram os depoimentos algumas vezes desde que acabaram detidos.

O Correio teve acesso às declarações que Leonardo prestou ao delegado Luiz Julião na segunda-feira passada. O trecho mais contundente da confissão do acusado, relatada em 16 páginas, é quando ele se refere a Adriana Villela, 46 anos, filha do casal de advogados assassinado. Segundo o acusado, ela seria a mandante do triplo homicídio. A defesa de Adriana negou qualquer envolvimento dela no crime e considerou as declarações de Leonardo absurdas (leia arte).

Mabel ficou mais tempo que o necessário em Minas Gerais porque precisava tomar os depoimentos dos receptadores dos dólares e das joias supostamente roubadas do closet de Maria Carvalho. Leornardo afirmou ter vendido todas as peças para um comerciante de Montes Claros. O suspeito as repassou ao comprador em quatro lotes. O primeiro rendeu a ele R$ 800. A segunda remessa, R$ 2 mil, mesmo lucro obtido com a terceira venda. A quarta e última parte, segundo Leonardo, resultaram em R$ 4 mil.

A investigadora da Corvida não conseguiu, porém, recuperar as joias. O ourives explicou para ela, segundo informou uma fonte policial, que derreteu o ouro e fez do material correntes, colares e pingentes. Todos foram vendidos, segundo ele. Quanto aos dólares, não há mais sinal de nenhuma cédula estrangeira porque foram todas repassadas pelo comprador, que também tem um comércio em Montes Claros.

Prova
A delegada Mabel recebeu neste fim de semana uma cópia de laudo feito em parceria entre o Instituto de Identificação da Polícia Civil e a Universidade de Brasília (UnB). O exame que comparou duas impressões digitais de Adriana no apartamento dos pais fundamenta uma das linhas de investigação do caso: a que tenta comprovar a presença da filha das vítimas na cena do crime.

Os peritos foram meticulosos até com as condições climáticas encontradas no imóvel. Para se aproximar da umidade e do calor encontrados na ocasião dos assassinatos, uma equipe de meteorologistas acabou chamada. O resultado do exame revelou que existe compatibilidade entre o fragmento de digital revelado e decalcado em 2 de setembro de 2009 com outro produzido pela própria acusada em 28 de agosto de 2010 ; a arquiteta estava presa à época. O laudo é ainda a única prova material obtida pela polícia contra a filha do casal Villela.

O promotor Maurício Miranda, do Tribunal do Júri de Brasília, deve pedir esta semana que a Justiça do DF conceda novamente o sigilo nas apurações do caso. A defesa de Adriana Villela, porém, se manifestou contrária a um eventual bloqueio das informações. ;Vamos entrar com um recurso caso a Justiça acate o pedido do Ministério Público;, avisou o advogado Rodrigo Alencastro, um dos defensores de Adriana.

Queda de braço
Polícia e advogados de defesa travam os primeiros embates em relação ao envolvimento ou não de Adriana Villela no triplo homicídio. Confira as principais alegações de cada parte:

IMPRESSÕES DIGITAIS
O que diz a polícia
A polícia tem um laudo que põe Adriana no local do crime entre 28 e 31 de agosto de 2009, datas dos assassinatos e da localização dos corpos. Os peritos descobriram compatibilidade entre o fragmento de digital decalcado em 2 de setembro com outro produzido pela acusada em 28 de agosto de 2010.

O que diz a defesa
Adriana Villela garante que não esteve no apartamento dos pais nesse período. Sustenta que a última visita ocorreu na manhã de 13 de agosto, quando tomou café da manhã e entregou um presente de aniversário ao pai. Em relação ao laudo, a defesa diz não ter conhecimento sobre a base científica dele.

ÁLIBI
O que diz a polícia
Relatório assinado pela delegada Mabel de Faria, presidente do inquérito, aponta para a ;extrema mobilização; de Adriana a fim de criar um álibi para a noite do crime. Para tanto, segundo a investigadora, a arquiteta se afastou da rotina.

O que diz a defesa
Adriana disse que no dia do assassinato dos pais fez um curso de economia solidária e participou de um seminário. Ela confirmou que por volta das 18h10 fez várias ligações convidando amigos para jantar. Acabou visitando uma amiga na Vila Planalto, onde ficou até as 20h30. Cansada, voltou para casa.

MOTIVAÇÃO
O que diz a polícia
Informações levantadas pela polícia apontam que Adriana Villela tinha uma relação complicada com os pais, principalmente com a mãe. O motivo das brigas era normalmente financeiro. A arquiteta recebia uma mesada dos pais no valor de R$ 8,5 mil, mas vez ou outra pedia dinheiro extra.

O que diz a defesa
Adriana reconheceu que as duas divergiam. Mas ressaltou em entrevista ao Correio em 25 de setembro que a mãe e o pai eram pessoas com quem ela podia contar para qualquer coisa. Conta o total apoio do irmão e da filha.

INTERFERÊNCIAS
O que diz a polícia
A Corvida aponta para várias interferências de Adriana na investigação. Segundo a delegada ;em todas as oportunidades em que a filha do casal Villela tentou direcionar e manipular a investigação, exauridas as diligências, era a própria Adriana Villela que ressurgia como principal suspeita;.

O que diz a defesa
Adriana Villela sempre negou que conhecesse a vidente Rosa Maria, acusada de apontar três inocentes como autores do triplo homicídio. Sobre a acusação de que ela teria plantado provas no local do crime, a defesa argumentou que trata-se de uma lâmina encontrada em um closet.

COMPORTAMENTO ESTRANHO
O que diz a polícia
Chamou a atenção da polícia o comportamento de Adriana entre o dia dos assassinatos. Consta da investigação da Corvida que a filha da arquiteta, Carolina, estranhou a ausência de notícias, mas Adriana não ligou para os pais em busca de informação.

O que diz a defesa
Segundo Adriana, Carolina não havia pedido a ela no dia 28 para que ligasse aos avós. Também negou que tenha insistido para que a filha almoçasse com ela. Segundo a defesa, Carolina não pediu à mãe que fosse atrás dos avós. Só disse que eles não haviam atendido aos telefonemas dela.

DEPOIMENTOS DOS ACUSADOS
O que diz a polícia
O promotor Maurício Miranda, do Tribunal do Júri de Brasília, apontou pela primeira vez vínculos entre Adriana Villela e as mais novas prisões realizadas por conta do crime da 113 Sul. Os dois homens que confessaram a autoria dos assassinatos citaram a arquiteta como envolvida nas mortes.

O que diz a defesa
A defesa sustentou que Adriana Villela é inocente e diz ver com reservas as versões apresentadas pelos acusados. Chamou a atenção para o fato de eles terem mudado várias informações após estarem sob a tutela da Corvida.

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