Cidades

Defensoria Pública recebe de 10 a 15 solicitações por vagas em UTI por dia

Mas, mensalmente, apenas 50 conseguem

postado em 30/11/2010 07:54
A Defensoria Pública do Distrito Federal recebe, diariamente, de 10 a 15 pedidos de pessoas que recorrem à Justiça para conseguir uma vaga em UTI, mas com a procura maior que a oferta, mensalmente, apenas cerca de 50 conseguem atendimento nos hospitais particulares. Na fila de espera para ter um tratamento adequado, muitos pacientes graves acabam não resistindo e morrem antes mesmo de conseguir um leito. Após três meses de internação no Hospital Regional de Taguatinga (HRT), o pai da comerciante Andreia Velasco, 39 anos, foi encaminhado à UTI de um hospital particular. ;Não tinha vaga e eu esperei mais dois dias até ele ir para um hospital particular. Quatro dias depois, meu pai morreu;, contou.

O pai dela se chamava Teófilo Velasco e morreu aos 73 anos, vítima de um câncer. ;Com certeza, se tivéssemos conseguido um leito antes, ele teria sobrevivido. Acontece que a saúde está totalmente esquecida e muita gente vive o mesmo problema todos os dias;, reclamou. Outra que não se conforma com a falta de vagas na UTI é a técnica em contabilidade Rosângela da Costa Albuquerque, 31 anos. Há três meses, ela precisou internar a mãe que tinha 62 anos, mas precisou recorrer à Justiça em uma tentativa de salvá-la. ;Foi negligência do Estado. Minha mãe pegou infecção no hospital e, quando precisou, o Hospital de Taguatinga estava em reforma e não tinha nem UTI nem centro cirúrgico;, reclamou.

Segundo a gerente executiva do Sindicato Brasiliense de Hospitais (SBH), Danielle Feitosa, a dívida do GDF com as unidades de saúde privadas corresponde à prestação de serviços aos pacientes de UTIs encaminhados pela Secretaria de Saúde, que engloba o pagamento de médicos especialistas, intensivistas, enfermeiros, medicamentos, materiais, exames complementares, entre outros. ;Essa situação afeta toda a população. A rede pública está toda sucateada e, daqui a pouco, essa falta de gestão vai acabar inviabilizando o serviço privado também;, disse Danielle.

Apenas até as 19h de ontem, 10 pessoas procuraram a Defensoria Pública pedindo vaga em UTI nos hospitais públicos ou privados do DF. De acordo com o defensor público Celestino Chupel, a situação pode se agravar, caso a Secretaria de Saúde não pague a dívida com os hospitais particulares. ;Eles estabeleceram um preço em 2004 e a secretaria concordou. Os hospitais prestaram serviço durante muito tempo, mas não estão recebendo por ele. Foi feito um contrato e não é agora, que mudou a administração, que esse contrato pode ser descumprido. Concordo que o convênio foi feito de maneira equivocada e de preço elevado, mas a população não pode ficar à mercê de mudanças de opinião de administradores públicos a todo tempo;, destacou Celestino. Para o defensor, não se pode obrigar o hospital particular a receber um paciente do Sistema Único de Saúde, sem o respectivo pagamento.


BUSQUE AJUDA
A Defensoria Pública fica no Setor Comercial Sul, Edifício Zarife, no segundo andar. O atendimento vai das 7h às 19h. Quem quiser pode entrar em contato pelo telefone 3905-6691.


ANÁLISE DA NOTÍCIA
Quem perde é a população

>> Marcelo Tokarski

Nessa burocrática briga entre a Secretaria de Saúde e os hospitais particulares do Distrito Federal, o que menos interessa é quem está com a razão. Se as empresas estiverem certas, cabe ao GDF pagar o que lhes é devido. Caso a razão esteja do lado do governo, que alega ser o preço pago muito acima do cobrado pelo mercado, os contratos precisam ser revistos. O que não é aceitável é essa situação que se repete ano após ano: o cidadão brasiliense ; notadamente os mais carentes, totalmente dependentes da saúde pública ; fica refém dos interesses e das disputas travadas nos gabinetes.

Quando alguém precisa ser internado em uma UTI é porque precisa de atendimento urgente e especializado para conseguir sobreviver, é porque não há tempo de esperar por uma solução para o impasse entre governo e hospitais. Espera-se que as autoridades, com a devida intervenção do Ministério Público, encontrem uma solução. O DF já sofre com a falta de leitos de UTI, e esse boicote dos hospitais particulares tem potencial para agravar ainda mais o quadro. Infelizmente, a capital do país, que deveria ser referência em saúde pública, vem sendo referência no descaso com a vida das pessoas.

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