Renato Alves
postado em 02/12/2010 08:19
Apesar de os advogados de defesa de Adriana Villela pedirem o afastamento da delegada Mabel de Faria da apuração do crime da 113 Sul, a chefe da Coordenação de Investigação de Crimes Contra a Vida (Corvida) está prestigiada na Polícia Civil. Tanto que ela foi escolhida para substituir Luiz Julião Ribeiro, que se aposentou na última sexta-feira depois de ficar 14 anos à frente da delegacia especializada (leia perfil). ;Não estou feliz porque gosto muito do delegado Luiz Julião, com quem aprendi a trabalhar;, frisou Mabel.A nova chefe da Corvida tem 23 anos de Polícia Civil e trabalha há 13 com Julião. Começou na unidade quando esta ainda se chamava Delegacia de Homicídio (DH). Mabel promete continuar o trabalho do mestre ; como se refere a Julião. ;Ele é uma rocha de moralidade. Pretendo fazer com que a Corvida continue a ser uma das delegacias mais respeitadas da corporação;, afirmou.
Mabel está há um ano à frente das investigações de um dos casos mais importantes de sua carreira ;o triplo homicídio dos Villela e da empregada Francisca. Durante esse período, enfrentou crises na corporação, como o episódio em que a 1; Delegacia de Polícia (que apurou o crime por três meses, antes da Corvida) foi destituída do trabalho. Na transição da apuração do caso de uma unidade para outra, a delegada chegou a discutir com a ex-chefe da 1; DP Martha Vargas. O último desgaste ocorreu com a prisão de Leonardo Campos Alves, em Montalvânia (MG). Dessa vez, a protagonista foi a titular da 8; Delegacia de Polícia (SIA), Deborah Menezes, que não avisou à Corvida sobre o serviço paralelo que fez. ;Não sou inimiga de nenhuma das duas. Nunca foi minha intenção ser chefe da 1; DP e muito menos da 8; DP;, defendeu-se Mabel.
Em 22 de novembro, os advogados de defesa de Adriana protocolaram o pedido de afastamento da delegada do caso da 113 Sul com o argumento de que Mabel agia sem imparcialidade e isenção. Mas o magistrado Fábio Esteves indeferiu a saída de Mabel de Faria, alegando que não havia motivo para isso.
Câmara dos Deputados
Essas idas e vindas nas investigações do crime da 113 Sul despertaram a atenção da Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado da Câmara dos Deputados. O grupo pretende realizar uma audiência pública para discutir o caso. Deverão ser chamados a participar do debate o secretário de Segurança Pública do DF, João Monteiro Neto; e as delegadas Mabel de Faria e Deborah Menezes. O presidente regional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-DF), Francisco Caputo, e o promotor de Justiça Maurício Miranda também serão convidados a integrar a mesa de discussões.
O requerimento foi protocolado no último dia 24 pelo deputado federal Domingos Dutra (PT-MA) e aprovado ontem. A expectativa é que a audiência ocorra dentro de 15 dias. Apesar de nenhum dos citados ter obrigação de comparecer, Dutra avalia que a investigação não pode continuar da forma como está. ;É um caso que já completou mais de um ano, e a Polícia Civil do DF até hoje não o esclareceu. Está havendo uma série de acusações entre delegados, o que mostra uma guerra de vaidades. Chaves foram plantadas, pessoas inocentes foram presas, e outros acusados foram detidos com depoimentos conflitantes, ora negando ora afirmando que houve mandante;, destacou o deputado.
O parlamentar pretende apurar se os detidos sofreram tortura, se há direcionamento das investigações para atender um resultado pré-concebido ou se há algum tipo de interesse para que o crime não seja elucidado.
Perfil
Trajetória do especialista
O delegado Luiz Julião Ribeiro ingressou na Polícia Civil do Distrito Federal em 1990. Deixou a instituição na última sexta-feira reconhecido como o maior especialista em investigação de crimes contra a vida da história de Brasília. Entre idas e vindas, Julião permaneceu 14 anos à frente da antiga Delegacia de Homicídios, atual Coordenação de Investigação de Crimes Contra a Vida (Corvida). Nos outros seis anos, ele trabalhou em delegacias das regiões administrativas.
No período em que foi chefe da unidade especializada em investigar os assassinatos que as delegacias circunscricionais não deram conta, Julião e sua equipe atuaram em mais de mil casos. Destaque para os sequestros do garoto Pedrinho ; o recém-nascido raptado em 1986 em uma maternidade de Brasília e reencontrado 17 anos depois, em Goiânia ; e da estudante Isabela Tainara, ocorrido em 2007, cujo desfecho foi trágico. A menina foi morta.
Suas técnicas de apuração estão descritas em Investigação criminal ; homicídio, livro de sua autoria, que se tornou referência entre os policiais que investigam assassinatos.