Cidades

Polo industrial de Ceilândia está emperrado

O primeiro setor fora do Plano Piloto, inaugurado em 1983, tem áreas ociosas e infraestrutura inadequada, o que o torna pouco atraente para novos investimentos

postado em 02/12/2010 08:20
O industrial Renê Lima diz que a proposta de criação do parque foi ótima e sedutora, mas lamenta que Criado há 27 anos para ser um polo de referência da atividade econômica no Distrito Federal, o Setor de Indústrias de Ceilândia (SIC) demora a emplacar. Apesar da proximidade com uma rodovia federal, da mão de obra acessível nos arredores e dos preços de terreno muito abaixo do mercado, mais da metade da área destinada às fábricas está ociosa. A carência de infraestrutura no local afasta os empresários: falta iluminação pública, asfalto e, em algumas quadras, até água e esgoto. Pelo menos oito empresas deixaram o setor nos últimos 10 anos. Quem ficou reclama ainda de insegurança.

O chamado SIC reúne atualmente cerca de 230 indústrias de alimentos, calçados, materiais de construção, móveis, embalagens, reciclagem, além de uma montadora de bicicletas e transportadoras. Juntas, elas são responsáveis pela criação de 5 mil empregos. As fábricas estão espalhadas pelas 20 quadras que saíram do papel desde a inauguração do setor, em 1983. Na época, o DF era governado pelo militar José Ornellas de Souza Filho. Outras 11 quadras foram previstas no projeto original, mas onde deveria existir mais empresas há muito mato e pequenas invasões.

Em todo o DF, acumulam-se ao menos 10 polos industriais, em cidades como Taguatinga, Sobradinho, Santa Maria, Núcleo Bandeirante e Recanto das Emas. O SIC foi o primeiro a surgir fora do Plano Piloto. Até então, as fábricas se concentravam basicamente nos setores de Indústrias Gráficas (SIG) e de Abastecimento (SIA). Com a lotação desses espaços, era preciso expandir a atividade industrial para lugares mais distantes do centro urbano. Ceilândia saiu na frente por ser a região administrativa mais populosa do DF ; hoje são mais de 360 mil habitantes.

A maioria dos trabalhadores do SIC mora nos setores QNR, QNQ ou na Expansão do Setor O, que circundam o polo industrial, localizado às margens da BR-070. Entre os contratados, também há muitos moradores de Águas Lindas, cidade do Entorno goiano. A mão de obra por perto, mesmo que não seja qualificada, reduz o gasto das empresas com o transporte dos funcionários. Boa parte deles vai ao trabalho de bicicleta. Alguns conseguem ir almoçar em casa.

Infraestrutura
Industriais como Renê Fernando Lima, proprietário da Bsb Alimentos, foram seduzidos pelas vantagens vislumbradas no parque industrial de Ceilândia. A empresa dele, especializada na confecção de cestas básicas e natalinas, saiu de Taguatinga Norte e se instalou no local no início da década de 1980, em um espaço 15 vezes maior. ;A proposta era ótima. Mas de lá para cá, a infraestrutura não acompanhou o crescimento do setor. O governo não tem feito a parte dele;, protesta Lima.

Em 2004, os empresários de Ceilândia se uniram e criaram uma associação para cobrar melhorias e impedir a descaraterização da área. ;Se o espaço não for preservado, há um grande risco de ele deixar de ser um polo industrial e passar a abrigar residências e outras atividades;, preocupa-se o presidente da Federação das Indústrias do Distrito Federal (Fibra), Antônio Rocha. Um cemitério está previsto para ser construído em terrenos ociosos do SIC.

Na semana passada, empresários de diversos segmentos da indústria se reuniram com o governador eleito, Agnelo Queiroz (PT). Pediram a ele, entre outras coisas, a consolidação dos polos já existentes. O petista prometeu atender todas as reivindicações. Algumas empresas têm adquirido lotes no setor de Ceilândia, mas o local está longe de se tornar um ponto de atração. ;Em geral, ninguém quer vir para cá;, conta Lima, um dos diretores da associação.

Há 24 anos no SIC, Hilton Pinheiro se cansou dos transtornos provocados pela falta de infraestrutura no setor e planeja transferir a fábrica de embalagens Papel Art Caixas para o Entorno, muito provavelmente para Luziânia (GO). ;Há um clima de orfandade. Somos órfãos do governo. Não temos quem defenda a indústria brasiliense;, desabafa Pinheiro, sem esperança de que o cenário melhore. ;A gente simplesmente não enxerga horizonte;, completa o proprietário da empresa.

Uma das primeiras fábricas a abrir as portas no SIC foi a Premoldado Brasil, que ocupa uma área de 20 mil metros quadrados e conta com cerca de 100 funcionários. Ao enaltecer os pontos positivos do setor ; como a distância do centro urbano, que ;facilita o tráfego das carretas; ;, o proprietário Marcos Antônio Batista lamenta que outras empresas tenham desistido de Ceilândia. ;Quanto mais indústrias se consolidarem aqui, melhor será para todos nós;, diz.

Custo
O metro quadrado no Setor de Indústrias de Ceilândia varia entre R$ 170 e R$ 200. Em polos industriais como o de Taguatinga, salta para R$ 500, em média. O aluguel de um galpão de mil metros quadrados no SIC custa em torno de R$ 6 mil. Em outros pontos, como no SIA, o valor mensal de um espaço de mesmo tamanho pode chegar a R$ 30 mil.

Participação
Em café da manhã oferecido a Agnelo, semana passada, na sede da Fibra, os industriais enumeraram os pedidos para os próximos quatro anos. O setor quer a ajuda do governo para cumprir a meta de elevar, até 2015, a participação da indústria no Produto Interno Bruto (PIB) local de 10% para 14h,1%.

Cenário Vantagens

* Proximidade com a BR-070 facilita o escoamento dos produtos
* A distância do centro urbano permite que carretas e caminhões escapem do trânsito lento
* Mão de obra acessível nas áreas residenciais perto do setor, o que permite redução de despesas com vale-transporte
* Lotes maiores em comparação com os de outros polos industriais do DF
* Terrenos disponíveis a preços muito abaixo do mercado


O que falta

* Policiamento
* Asfalto e duplicação de vias
* Água e esgoto, em algumas quadras
* Iluminação pública
* Construção de calçadas

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