Cidades

Olimpíada internacional seleciona projeto criado em São Sebastião

Ação organizada por uma bailarina voluntária, será a beneficiária deste ano. Com isso, futuras bailarinas terão condições de investir em sua carreira

postado em 03/12/2010 08:00
Sandrynne Rodrigues (em primeiro plano) e Daniella Macedo: destaque na escola e no GaratujaQuando a música começa, o silêncio toma conta do galpão construído sobre piso de cimento. As risadas são substituídas pela concentração e pela seriedade, para mais um ensaio da turma de balé clássico. Rapidamente, as 20 bailarinas tomam posição. Antes que a ópera encha o salão, elas aproveitam os segundos restantes para ajustar a saia rosa e o collant, trajes confeccionados pela mãe de uma delas, e as sapatilhas de pano. Com braços erguidos, pernas levemente arqueadas e um sorriso, elas recebem a si mesmas, refletidas no espelho da sala, como se estivessem em pleno espetáculo.

A professora de dança e ex-bailarina Daniela Pereira Couto, 32 anos, acompanha o ensaio de perto. Marca o passo, cobra postura, dedica-se a cada aluna enquanto sonha com um futuro melhor para as 30 meninas assistidas pelo Projeto Garatuja. Criado por Daniela em 2007 com o objetivo de diminuir a evasão escolar em São Sebastião, o projeto é tocado com o apoio de seis professores voluntários que ensinam dança contemporânea e clássica a jovens de 10 a 15 anos, além de aulas de reforço escolar e acompanhamento pedagógico do desempenho delas nas escolas. Este ano, o Garatuja será o beneficiado pela Olimpíada Solidária de Estudo. O evento internacional promovido pela Ekloos, ONG de incentivo ao voluntariado e educação, reúne 34 bibliotecas participantes no Brasil, distribuídas em 12 cidades. O objetivo é converter em reais as horas de estudo acumuladas pelos visitantes das bibliotecas durante o mês de novembro. O valor contabilizado até o próximo dia 5 será doado pelas instituições participantes para o projeto social.

Rodrigo deposita um vale na urna  do Iesb: apoio  ao projetoPara o Garatuja, ter sido escolhida a única instituição beneficiada pela olimpíada significará um grande salto para o projeto ; além de várias piruetas e giros na ponta do pé. Com o valor arrecadado (que até ontem havia chegado a R$ 25,2 mil), a equipe pretende construir a sede do grupo. ;Desde 2007, é um desafio garantir a permanência do Garatuja. Todos os anos, nos mudamos para um novo lugar, sempre emprestado;, conta Daniela. Desde janeiro, as aulas de dança ocorrem no Centro de Múltiplas Atividades de São Sebastião, durante a semana, e as aulas de reforço, em salas cedidas por uma escola de ensino fundamental, aos sábados. No novo prédio, as aulas de reforço poderão ser ministradas diariamente, sonho da professora de dança. ;Desde o início, o objetivo é investir no talento dessas crianças e mostrar que elas são capazes. Mais do que formar bailarinas, eu sonho em ajudar a construir sua moral, afastá-las das ruas, formar filhas com ideais maiores do que os de seus pais;, conta.

Determinação
Ela vinha com os olhos brilhantes, como a fantasia azul recém-arrematada. ;Eu não sei o que seria da minha vida sem o balé;, afirma Sandrynne Ferreira Rodrigues, de 11 anos. Quando ouve os primeiros acordes da música anunciar sua entrada no palco improvisado, limitado no chão com as sandálias das meninas, a bailarina respira fundo, os olhos marejados. Ao seu lado, está a amiga Daniella Úrsula Macedo, 12. As duas marcam o piso frio com toques leves e saltos vibrantes, como se fossem uma só estrutura de força e leveza. Rodopiam e a música termina, enquanto Daniella imagina seus giros no Teatro Bolshoi. ;Essa é minha maior meta: me formar em balé na Rússia e chegar aos melhores palcos do mundo;, conta.

Por se destacarem no Garatuja e na escola, as duas jovens são monitoras do grupo e alunas bolsistas em uma conceituada companhia de balé de Brasília ; vagas conquistadas com apoio da professora Daniela Couto. ;Quando via minha irmã dançando, eu achava muito lindo e queria fazer igual;, lembra Sandrynne. Muito nova para entrar no Garatuja, a jovem não desistiu. ;Eu tinha só 8 anos e as alunas começam com 10. A professora Dani me visitou e achou que eu levava jeito.; No balé do Garatuja desde 2008, Sandrynne sempre contou com o apoio da mãe. ;Meu pai não mora conosco. Minha mãe se esforça para compensar, de todas as formas. Ela é pai e mãe para mim, está ao meu lado sempre.;

A determinação das alunas inspira a professora e ex-bailarina, pois suas histórias são semelhantes. Filha de empregada doméstica, Daniela Couto começou a dançar aos 5 anos. Aos 10, decidiu bater de porta em porta nas academias de dança, ao lado da mãe, em busca de apoio. ;Nunca desisti do Garatuja para que essas meninas tenham mais oportunidade do que eu. Em vez de bater à porta da oportunidade, eu mesma quis levar a elas o sonho da dança;, resume.

Olimpíada
Em Brasília, três instituições estão participando da Olimpíada Solidária de Estudo: as duas bibliotecas do Instituto de Ensino Superior de Brasília (Iesb) ; da Asa Sul e da Asa Norte ; e a Biblioteca Lajedo, da 704 Norte. A biblioteca do Iesb Norte está em primeiro lugar no ranking nacional, com 4.265 horas de estudo acumuladas. Matheus Duarte, 18 anos, e Rodrigo Ferreira Cruz de Lima, 19, são alunos de administração e fizeram questão de contribuir. ;É período de provas na faculdade e é comum montarmos grupo de estudo. Esta semana fizemos questão de preencher o ;vale R$ 1; a cada hora em que passamos na biblioteca;, conta Matheus. Para Rodrigo, o projeto é triplamente eficiente. ;Nós ajudamos uma instituição, somos incentivados a estudar e as empresas que participam mostram como é importante ser voluntário;, defende o estudante.

A olimpíada começou em 5 de novembro passado e termina no próximo domingo. Este ano, 15 países participam do evento. A cada hora de estudo ou leitura dos voluntários nas bibliotecas credenciadas, os patrocinadores do projeto doam R$ 1 para ajudar um projeto social, na área de educação. Agora, o escolhido foi o Projeto Garatuja. As horas excedentes vão para a construção de quatro escolas no Haiti.

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