postado em 03/12/2010 08:24
Sem chamar a atenção, a delegada Mabel de Faria começou a fazer a reconstituição do triplo assassinato da 113 Sul. A fase da apuração tenta reproduzir os fatos com base nas declarações dos três suspeitos presos. O primeiro a refazer os passos feitos em 28 de agosto de 2009 foi o ex-porteiro do Bloco C Leonardo Campos Alves, 44 anos. A chefe da Coordenação de Investigação de Crimes Contra a Vida (Corvida) deve fazer o mesmo com Paulo Cardoso Santana, 23 anos, e Francisco Mairlon Barros Aguiar, 22.A simulação ocorreu por volta das 17h de ontem. Leonardo chegou ao Bloco C da SQS 113 em um carro da Polícia Civil descaracterizado. O suspeito de participar dos assassinatos de José Guilherme Villela, 73 anos, Maria Carvalho Mendes Villela, 69, e Francisca Nascimento da Silva, 58, estava acompanhado de seis agentes da Corvida, todos à paisana. A reconstituição durou aproximadamente 40 minutos. Sem algemas, Leonardo não subiu ao apartamento onde ocorreu o crime, o 601/602, ficou apenas no pilotis do prédio. No primeiro depoimento que prestou, ele chegou a dizer que tinha dado uma facada em José Guilherme. Depois, mudou a versão, alegando que os autores dos golpes foram os comparsas.
A reconstituição despertou a curiosidade dos moradores. Alguns chegaram a sair dos apartamentos para ver o acusado. Uma mulher que reside no Bloco C acompanhou a cena: ;Eles chegaram bem discretos e Leonardo estava calmo. Queremos que esse crime seja solucionado para que nós possamos ficar sossegados;.
O ex-porteiro gesticulava bastante. Mesmo com ele falando em voz baixa com os policiais, algumas pessoas conseguiram ouvir o que o acusado dizia. Ele teria indicado com o braço por onde Paulo e Francisco subiram até o apartamento das vítimas. Seguindo o que falou na Corvida, Leonardo voltou a afirmar que ele, Paulo e Francisco entraram no Bloco C pela portaria de serviço e foram até o 6; andar. Os dois mais jovens ingressaram na residência pela porta dos fundos. Depois de a dupla matar as vítimas, o trio se dirigiu ao ponto de ônibus do Eixinho L, na altura da 213 Sul. Eles teriam então se separado: Leonardo e o sobrinho Paulo seguiram para a Rodoviária e depois para a Rodoferroviária, de onde fugiram até chegar a Minas Gerais; Francisco voltou para casa, no Pedregal, no Entorno do DF.
Faróis
Antes de estacionar o carro na quadra da tragédia, os policiais haviam passado por outra parada de ônibus, a do Eixinho W na altura da 113 Sul. O ensaio teria começado lá, pois foi o local onde Leonardo afirmou ter se encontrado com Adriana Villela, filha do casal assassinado, para receber o sinal que iniciaria a ação criminosa. A indicação do momento para o trio agir seria com os faróis do carro que Adriana conduzia. Segundo Leonardo, ela ainda lhes disse: ;É agora;. De acordo com o depoimento do ex-porteiro ao ex-coordenador da Corvida Luiz Julião Almeida, em 22 de novembro, Adriana o teria contratado para forjar um assalto à residência dos pais. Porém, acrescentou o acusado, ela teria decidido ordenar a execução das três pessoas. Em troca, Leonardo alegou ter recebido R$ 27 mil e várias joias da família.
Em seu depoimento, ele afirmou ter ido ao Bloco C um dia antes do crime e mostrou ao sobrinho Paulo quem eram as vítimas a serem assaltadas. Outro papel de Leonardo no planejamento do roubo era de elo entre Paulo e Francisco e a suposta mandante do triplo homicídio. A acusação contra a filha do casal Villela foi mantida na acareação entre os três homens detidos, realizada na tarde da última quarta-feira. A acareação ocorreu durante duas horas na Corvida.
Roupas
Uma fonte da polícia explicou que a reconstituição serviu para esclarecer alguns pontos obscuros que a investigação encontrou pelo caminho. O policial, porém, não quis antecipar quais foram eles. Apesar de Paulo ter confessado que ele e Francisco executaram as três pessoas no imóvel, não há qualquer digital dele no apartamento. A esperança dos peritos é que houvesse vestígios dos criminosos nas roupas das vítimas. Porém, as vestes de José Guilherme, Maria Carvalho e Francisca foram queimadas pelo Instituto de Medicina Legal (IML), quando o caso ainda estava sob responsabilidade da 1; Delegacia de Polícia (Asa Sul).
Os investigadores tentam confirmar o testemunho dos presos com base em outras duas ações. A primeira é o cruzamento de dados a partir da quebra do sigilo telefônico do trio. Além de verificar a passagem deles pelo trajeto até a 113 Sul, o confronto de informações também vai servir, segundo os policiais, para vincular os homens detidos à suposta mandante dos homicídios. Segundo a mesma fonte ouvida pelo Correio, a delegada Mabel de Faria já dispõe de alguns relatórios com as ligações feitas pelos acusados, mas a maior parte ainda não foi enviada pelas operadoras de telefonia.
A defesa de Adriana nega todas as acusações e qualquer ligação da filha dos Villelas com o ex-porteiro do Bloco C Leonardo Alves. A reportagem procurou o advogado Rodrigo de Alencastro ontem, mas ele não retornou as ligações.
Rota de fuga
Nos primeiros depoimentos prestados após serem presos, Leonardo Alves e Paulo Cardoso contaram que, na hora da fuga, caminharam até o Eixinho e pegaram um ônibus até a Rodoviária. De lá, entraram em outro coletivo e rumaram para a Rodoferroviária, de onde se dirigiram para a Bahia e, só depois, para Montalvânia, em Minas Gerais, onde moravam. Ambos acabaram detidos no município mineiro ; Leonardo em 15 de novembro último, e Paulo ainda em julho, por outro crime.
Segredo
; O juiz do Tribunal do Júri de Brasília Fábio Francisco Esteves ainda não se pronunciou sobre a recomendação do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) de recolocar o processo do triplo assassinato da 113 Sul sob segredo. O promotor Maurício Miranda entrou com o pedido na segunda-feira passada. A explicação é que o caso teria recebido publicidade demasiada. Os advogados de defesa de Adriana reclamam da recomendação do MP e avisam que entrarão com recurso se o magistrado acatar o pedido de Miranda.