postado em 06/12/2010 08:31
A população de Brasília será presenteada, hoje, com a inauguração de um espaço cultural digno de abrigar obras e acervos do antropólogo visionário e fundador da Universidade de Brasília (UnB), Darcy Ribeiro. O memorial dedicado a seu idealizador está instalado no complexo da Praça Maior, entre a Reitoria, o Minhocão e a Biblioteca Central, e vai abrir as portas, a partir das 15h, em uma solenidade com a presença do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e do presidente do Uruguai, José Pepe Mujica. São esperadas cerca de mil pessoas para o evento de apresentação do Memorial Darcy Ribeiro, mais conhecido como Beijódromo.Ontem, cerca de 60 pessoas cuidavam de todos os detalhes para que cada pedacinho do último presente de Darcy para a UnB fosse entregue em perfeitas condições. Eles deram a última mão de pintura onde havia falhas, instalaram computadores, trocaram cadeiras de lugar, montaram um palco especialmente para a ocasião, entre outros. ;A obra foi concluída em 30 de novembro e a inauguração seria em 15 de dezembro, mas tivemos que antecipar para atender ao pedido do Mujica de participar do evento. O presidente do Uruguai se tornou amigo íntimo de Darcy, quando o antropólogo foi exilado e morou no Uruguai;, conta o presidente da Fundação Darcy Ribeiro (Fundar) e sobrinho do idealizador da UnB, Paulo Ribeiro.
Chegando a Brasília, o presidente do Uruguai conhecerá um espaço de dois andares, projetado pelo arquiteto João Filgueiras Lima, o Lelé, amigo de Darcy. Em uma área de 2 mil metros quadrados de puro charme e aconchego, Mujica e todos os convidados encontrarão salas de aula e de vídeo; uma biblioteca com mais de 30 mil livros, sendo 165 publicações de Darcy e todo o acervo guardado pela primeira esposa dele, Berta Gleizer Ribeiro, também antropóloga. O local também terá um centro de documentação, onde serão feitas a produção e a exibição de vídeos sobre os projetos da Fundar, a respeito da antropologia e de outros temas.
Além disso, há espaço disponível para estudos, computadores e um anfiteatro com instalações para 200 pessoas, destinado ao lazer dos estudantes. ;Mudamos o projeto 10 vezes para adequar às necessidades de hoje. Na ideia inicial, o espaço de lazer, ou beijódromo, como chamava Darcy, era a céu aberto. Transformamos em anfiteatro, com cobertura e uma acústica própria para shows no intuito de oferecer mais conforto aos visitantes e proporcionar momentos culturais com maior qualidade;, explica a coordenadora geral do Memorial Darcy Ribeiro, Adriana Bittencourt.
História e arte
Em meio a tantas formas de explorar a história, a exposição Utopias de Darcy Ribeiro vai mostrar de forma criativa toda a contribuição do cientista social para as causas étnicas, a educação e a cultura do país. Em formato de cobra, representando as ;diversas peles; de Darcy, a mostra é dividida em quatro etapas. A primeira tem o título de Índios, e traz fotos do próprio antropólogo. Depois, vem a parte de revolução na educação e as visões de futuro para setor. O terceiro nicho da exposição conta um pouco da atuação política de Darcy, e a quarta e última etapa mostra vídeos com depoimentos dele sobre diversos assuntos.
Segundo a curadora da mostra permanente, Isa Ferraz, foi difícil selecionar todos os trabalhos de Darcy em tão pouco espaço. Mas o material pronto vai conseguir explicar de forma clara e sintética os maiores feitos dele. ;Gostaríamos que escolas viessem visitar o memorial para conhecer tudo o que apresentamos aqui. A linguagem ficou clara e boa parte do material é exclusivo. Temos objetos de índios coletados por ele, fotografias, cartas e outros;, enfatizou a curadora.
E o espaço não ficará estático. Hoje será lançada a Coleção de Bolso Darcy Ribeiro e, em breve, uma coletânea de 20 obras com material inédito de pesquisas antropológicas e estudos de campo de Darcy e Berta deve ser divulgada pela Fundar.
Memória
Um homem à frente do seu tempo
Nascido em Montes Claros (MG), em 26 de novembro de 1922, Darcy Ribeiro é um dos cientistas sociais brasileiros mais conhecidos no mundo pela contribuição que deu à defesa da causa étnica e à educação. Começou sua vida profissional como antropólogo e dedicou 10 anos às comunidades tribais da Amazônia, trabalhando no Serviço de Proteção ao Índio (SPI).
Conhecido como homem à frente do seu tempo, passou a investir em projetos na área de educação e meio ambiente. Além de ter uma produção intensa de livros que o levou a ocupar, em 1993, a cadeira número 11 da Academia Brasileira de Letras.
Em 1955, organizou o primeiro curso de pós-graduação em antropologia, na Universidade do Brasil (Rio de Janeiro), onde lecionou etnologia até 1956. No ano seguinte, trabalhou no Ministério da Educação e Cultura. Lutou em defesa da escola pública e fundou a Universidade de Brasília (UnB), onde foi reitor por dois anos. Em 1961, foi ministro da Educação no governo Jânio Quadros.
Mais tarde, como chefe da Casa Civil no governo João Goulart, desempenhou papel relevante na elaboração das chamadas reformas de base.
Com o golpe militar de 1964, Darcy Ribeiro teve os direitos políticos cassados e foi exilado. Nessa época, viveu em países da América Latina defendendo a reforma universitária.
No retorno ao Brasil, em 1976, dedicou-se à educação pública. Quatro anos depois, recebeu anistia e, em 1982, se elegeu vice-governador do Rio, em chapa encabeçada por Leonel Brizola. Em 1990, assumiu uma vaga no Senado, pelo PDT-RJ.
Darcy Ribeiro sofreu de um câncer generalizado e morreu em 17 de fevereiro de 1997, no Hospital Sarah Kubitschek, em Brasília.