O fim de ano chegou, e, como de hábito, grande parte dos moradores do Distrito Federal vai viajar. Para quem deseja sair da cidade mas deixou para a última hora garantir passagem e hotel, a boa notícia é que ainda dá tempo de planejar um bom passeio. A má é que será quase impossível fugir de desembolsar bem mais do que há alguns meses.
A diferença no valor das passagens aéreas é a que mais assusta: a variação vai de 73,3% ;voo para Florianópolis ; a 576%, caso do bilhete para Miami (veja quadro). Se a compra for efetuada por meio de uma agência de viagem, as chances de um custo mais em conta são maiores. Os pacotes encareceram até 50% nesses locais. Outro aspecto positivo é que funcionários dessas empresas passam o dia rastreando a internet em busca do bilhete aéreo de valor mais acessível para o cliente.
;Começou-se a vender com bastante antecedência este ano. Com a melhora na renda e na atividade econômica, o brasileiro pôde se planejar. Desde maio as pessoas estão procurando garantir sua viagem ao melhor preço possível;, afirma Carlos Vieira, diretor da Associação Brasileira das Agências de Viagem no DF (Abav-DF).
De acordo com ele, os destinos mais procurados para o fim de ano estão sendo as praias do Nordeste e do Sul, além de cidades dos Estados Unidos como Nova York e Miami. Nesse último caso, o fenômeno da depreciação do dólar ; que chegou à casa de R$ 1,70 em setembro e bateu no patamar de R$ 1,60 este mês ; foi determinante para o aumento da procura.
Restrições
;O consumidor que quiser viajar para qualquer desses lugares pode até conseguir, mas vai enfrentar uma série de restrições. Além do preço maior, vai ter dificuldade em voar no dia e no horário que quer. Pode passar muitas e muitas horas preso em conexões;, avalia.
Vendedor de uma agência de viagens da capital, Adson Figueiredo conta que os pacotes fechados ; aqueles com passagens aéreas adquiridas há meses e reservas em hotéis feitas com antecedência ; estão se esgotando. ;Já está acontecendo de termos que montar pacotes para o cliente. E, quando você monta, trabalha com preços atuais, mais elevados;, relata. Adson afirma que, na empresa onde trabalha, os pacotes mais populares da temporada ; cruzeiros, viagens para o Nordeste e para os EUA ; estão de 30% a 50% mais caros.
O encarregado de limpeza Serapião Amaro Costa, 44 anos, deu sorte. Ele marcou férias há pouco tempo, e comprou no último instante uma passagem para visitar os pais no Recife. O bilhete, que está custando entre R$ 480 e R$ 700, saiu pela módica quantia de R$ 280. ;Recorri a uma agência. Ouvi falar que eles conseguem preços mais legais. Ainda não defini o dia da volta, mas pretendo usar o serviço de novo na hora da compra;, diz Serapião, que embarca no próximo dia 14.
Tatiana Viola de Queiroz, advogada da Associação Brasileira de Defesa do Consumidor (ProTeste), lembra que o consumidor não deve se preocupar somente com o bolso na hora de planejar uma viagem. ;Ele tem que ficar de olho em seus direitos. Muita gente de má-fé tenta se aproveitar da euforia do período. O mais importante é a pessoa ver o que está contratando e com quem, para que o lazer não se transforme em pesadelo;, afirma (veja quadro com dicas de segurança).
Câmbio
A queda do dólar afeta a inflação brasileira ao tornar mais baratas as peças importadas, usadas na produção de eletrônicos, e ao facilitar a importação de produtos como roupas, vinhos e bacalhau. Por outro lado, a desvalorização prejudica as exportações. Os produtos nacionais ficam mais caros no exterior
O FANTASMA DA GREVE
; As viagens de Natal e de ano-novo dos brasileiros podem ser tumultuadas por uma eventual paralisação dos funcionários de empresas aéreas. A categoria reivindica reajuste salarial e ameaça entrar em greve. Nos últimos dias, os aeroviários fizeram protestos e paralisações relâmpago nos terminais de Congonhas (SP), Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro e Aeroporto Santos Dumont (RJ).
FIQUE ATENTO
Cuidados na hora de comprar pacotes de viagem e passagens
; Tudo que a agência de viagem repassar ; folhetos, e-mails ; deve ser guardado. O que foi ofertado vincula o fornecedor, e deve ser cumprido.
; Exija a confecção de um contrato e leia-o cuidadosamente
; Esteja atento à questão do seguro viagem, exigido em algumas localidades. Ele cobre despesas médicas, entre outras.
; Cheque se há reclamações contra a empresa em órgãos de defesa do consumidor. Você pode ligar para o 151, telefone do Instituto de Defesa do Consumidor (Procon), ou fazer uma pesquisa no site do Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC), do Ministério da Justiça. O endereço é www.mj.gov.br/dpdc
; Toda agência de viagem deve ter registro no Sistema de Cadastro de Pessoas Físicas e Jurídicas que atuam no Setor do Turismo (Cadastur). Verifique no endereço www.cadastur.turismo.gov.br
; Empresas aéreas não podem praticar overbooking.
; No caso de atraso superior a quatro horas, os passageiros devem ser acomodados com a maior rapidez possível em um voo da companhia aérea ou de terceiros. Despesas com alimentação e hospedagem devem ser cobertas.
PASSAGENS MAIS CARAS*
Confira a diferença de custo para tíquetes aéreos comprados com antecedência e em alta temporada. Foram selecionados quatro destinos, e os valores dizem respeito a ida e volta, com saída em 23 de dezembro e retorno em 5 de janeiro de 2011
Destino - Preços até meados de agosto - Preços atuais
Miami - US$ 699 (R$ 1.118,30) - US$ 4,5 mil (R$ 7.560)
Lisboa - US$ 997 (R$ 1.649) - US$ 2,4 mil (R$ 4.080)
Fortaleza - R$ 500 a R$ 600 - R$ 1,6 mil
Florianópolis - R$ 500 a R$ 600 - R$ 1.040
*Estimativa feita pela Associação Brasileira das Agências de
Viagem no DF (Abav-DF), a pedido do Correio Braziliense
MEMÓRIA
Dissabores dos golpes
26 de dezembro de 2008 a 2 de janeiro de 2009. O período foi um pesadelo para 400 moradores do DF que compraram um pacote das empresas Mix Turismo e Impacto Turismo para passar o réveillon em Arraial d;Ajuda (BA), com direito a festa, shows e hospedagem em pousadas da região. Os turistas, que pagaram até R$ 2,2 mil pelos serviços, enfrentaram toda sorte de problemas. Na viagem para a Bahia, um ônibus do comboio de oito quebrou. Chegando ao destino, eles descobriram que não havia vagas nas pousadas porque as agências não tinham efetuado o pagamento. O mesmo se deu em relação às entradas para shows de axé music, que não foram adquiridas. O grupo ficou pulando de pousada em pousada, e alguns tiveram que dormir no chão. O calote dado pelas empresas, judicialmente acionadas, foi estimado em R$ 200 mil.
Em 1998, um grupo de aproximadamente 100 pessoas decidiu passar a virada para 2009 no Chile. Contrataram os serviços da agência Dream Tour, que ficou responsável pelas passagens e pelos passeios no país. A empresa, entretanto, não pagou a companhia aérea nem os guias chilenos. A proprietária desapareceu. Os turistas conseguiram evitar o prejuízo total e salvar a viagem comprando os tíquetes com a Varig. Cada um embarcou em um dia diferente.