Cidades

Obras da Caesb serão expandidas e alunos de escola têm destino incerto

Roberta Machado
postado em 13/12/2010 08:03
A escola fica em terreno que a Caesb reivindica para expansão da Estação de Tratamento de EsgotosDevido a uma obra prevista pela Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb), os alunos da Escola Classe Guariroba encerram no próximo dia 20 as aulas de 2010 sem saber onde irão estudar no próximo ano letivo. O impasse surgiu assim que a companhia informou à Secretaria de Educação que pretende expandir as instalações da Estação de Tratamentos de Esgotos (ETE) de Samambaia e Melchior, com a instalação de uma unidade de processamento de lodo. O que impede o início das obras são os ocupantes do terreno de 5 mil metros quadrados destinado à operação: 176 alunos de seis a 11 anos, que dependem da escola rural para concluir o ensino infantil.

Há mais de seis anos, os alunos convivem com o cheiro de esgoto que preenche as salas de aula, vizinhas da maior ETE do DF. Do pátio do colégio é possível ver as grandes instalações da Caesb, que devem ficar ainda maiores em breve. Segundo o vice-diretor da escola, Fernando Travassos, a ameaça da estação de tratamento existe há alguns anos, mas, até o pedido de remanejamento dos alunos feito à Secretaria de Educação, a apreensão era baseada somente em boatos. ;Desta vez, foi mais sério. Tentamos ficar tranquilos, pensando no projeto pedagógico de 2011, mas obviamente a comunidade escolar fica preocupada;, avalia. ;Parece que tem uma espada sobre a cabeça de cada um, principalmente por causa dos pais.;

O que mais ameaça a tranquilidade dos pais dos alunos é a falta de outras instituições de ensino na área rural. Caso o colégio seja transferido, alguns estudantes, que hoje vão a pé para a escola, não terão como comparecer às aulas. A maioria das crianças enfrenta um problema ainda maior: são vários os alunos que dependem de um ônibus cedido pela empresa alimentícia da região, onde trabalham seus pais.

Ambiente familiar
Além do problema de transporte, os alunos ainda devem ter de abrir mão do ambiente familiar da escola onde estudam há anos. ;Mais de 90% dessas crianças dependem do colégio. A gente faz de tudo por eles, damos aula de reforço, uma atenção que eles não vão encontrar em outra escola;, ressalta Eneide Lucena, professora do 2; ano. Além das salas de aula que não sofrem com a superlotação habitual do ensino público, os alunos contam com benefícios fundamentais aos pequenos moradores da área rural. Na Escola Classe Guariroba, as crianças recebem lanche e almoço diariamente, pois o colégio ainda oferece educação integral aos alunos dos 3;, 4; e 5; anos.

A escola classe atende à comunidade da Guariroba há 46 anos e já recebeu gerações de moradores da área rural, que criaram um vínculo com a instituição. ;Se fosse outro lugar, nem sei como faria. Aqui sempre teve ótimos professores e não tem violência;, preocupa-se Viviane Aparecida Pereira, 29 anos. A camareira, que também é presidente do Conselho Escolar, não sabe mais o que fazer para garantir a permanência do filho Ryan no colégio onde ela estudou no passado, assim como sua mãe. Viviane pediu que o Ministério Público fizesse uma denúncia contra a saída da escola e ainda enviou um ofício à Secretaria de Educação, mas não obteve resposta. ;A pior parte é a dúvida. Já ouvi mãe falando que vai tirar o filho da escola, ainda na educação infantil, porque não tem condições de mantê-lo em outro colégio;, lamenta.

Remanejamento
A Caesb garantiu que as obras estão suspensas enquanto não houver uma definição para onde irão os alunos da Escola Classe Guariroba, mas não definiu que tipo de medidas serão tomadas para compensar a retirada do colégio. Os professores e os pais ressaltam que a medida ideal seria o pagamento da construção de um novo prédio em troca da demolição do atual, em uma área doada pela comunidade. O terreno, mais de quatro vezes maior do que o pleiteado pela Caesb, foi oferecido gratuitamente. ;Aqui na associação temos um terreno que serve para a escola, nosso desejo é contribuir com a comunidade. Mas a Secretaria de Educação teria de ver a construção, a não ser que a Caesb se proponha a contribuir;, ressalta o professor Elvecio Diniz, 63 anos, da Associação dos Proprietários e Moradores da Fazenda Água Santa.

Mesmo que as obras não comecem em breve, a transferência dos alunos deve ser feita antes do início do próximo ano letivo. Enquanto a Caesb tramita a transferência do terreno ;as terras estão no nome da Terracap e terão de ser doadas pelo GDF ; a Secretaria de Educação espera remanejar até janeiro todos os alunos. ;Não podemos ficar esperando se vai ou não, a gente tem de fazer uma previsão para que esses alunos sejam atendidos, para que o ano deles não seja comprometido;, explica Líbia Rodrigues, diretora de Organização do Sistema de Ensino. Apesar de a escola pertencer à Regional de Ensino de Taguatinga, as crianças devem ser transferidas para Samambaia, cidade mais próxima da região de Guariroba.

A Secretaria de Educação espera conseguir remanejar todos os 176 alunos para uma só instituição, mas o plano depende do resultado da telematrícula, que irá dizer quais escolas poderão receber as crianças. Líbia Rodrigues não descarta a possibilidade da concretização do maior medo dos alunos e professores da Escola Classe de Guariroba: que os estudantes sejam enviados para diferentes colégios da região. ;Há possibilidade de atender esses alunos no Caic de Samambaia, mas não descartamos a transferência para as escolas rurais do Gama;, especula a diretora. Segundo a Secretaria de Educação, o impasse deve ser resolvido até o fim do mês. Qualquer que seja o destino das crianças, Líbia garante que elas poderão contar com o transporte gratuito para as aulas, mas a secretaria ainda não tem planos para a construção de uma nova escola.

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