Cidades

Há 50 anos, um repórter do Correio recebia pela primeira vez o Prêmio Esso

O repórter José Leão Filho, do Correio Braziliense, recebeu o prêmio mais importante do jornalismo brasileiro por uma série de reportagens sobre a inauguração da nova capital

postado em 22/12/2010 08:00
Uma greve de aeroviários impediu que o repórter José Leão Filho participasse do almoço de entrega do Prêmio Esso, no Rio de Janeiro, em 22 de dezembro de 1960. O Correio Braziliense ainda não havia completado um ano e já era premiado por uma série de reportagens sobre a construção e a inauguração da nova capital. Brasília e os Homens foi publicada no dia da inauguração da cidade em três suplementos especiais, que circularam também em O Jornal, no Estado de Minas e na Folha de Goiás, todos eles dos Diários Associados.

A série recebeu o Prêmio Regional 3, e o premiado pôs no bolso 50 mil cruzeiros, mais de cinco vezes o seu salário, de 9 mil cruzeiros. Goiano de Mineiros, José Leão Filho, o Leão ou o Leãozinho dos amigos, cursou administração na Fundação Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro, segundo informou a filha Patrícia, brasiliense, chefe de cozinha e dona de um restaurante no Plano Piloto. A necessidade premente de um salário e o dom da palavra fizeram José Leão chegar ao jornalismo. Estava em O Jornal, no Rio, quando foi pautado para a cobertura da inauguração de Brasília, se instalou no Correio Braziliense, fez a matéria premiada e nunca mais voltou.

Durante 18 dias, José Leão entrevistou os solenes e os anônimos, esteve nos gabinetes, nos canteiros de obras e nas nascentes cidades-satélites. Ouviu centenas de operários e foi a Planaltina, o que naquele tempo era considerado uma viagem, para entrevistar um guia da Missão Cruls. Andou de carona em caminhão, peregrinou a pé, tomou chuva e aguentou o sol para escrever 75 laudas, folhas do tamanho de papel ofício nas quais se datilografavam as matérias.

O prêmio provocou uma emoção retumbante no recém-inaugurado Correio Braziliense. ;Éramos um jornal pequeno, que dependia da consolidação da cidade;, lembra-se Ari Cunha, Vice-Presidente Institucional dos Diários Associados. Ele diz que José Leão ;fez uma reportagem com um senso humano extraordinário;.

Para a série premiada, o repórter entrevistou o presidente Juscelino Kubitschek, que revelou a Leão ter guardado na memória de infância o desenho do quadrilátero Cruls grifado no mapa do Brasil. Ali seria a nova capital, imaginava Nonô, o filho da professora Júlia. Na entrevista, JK defendeu Brasília ardorosamente, mas, quando o repórter lhe perguntou qual a cidade preferida, ele deu uma resposta surpreendente: ;A cidade que eu mais amo é Belo Horizonte (MG), onde cheguei quase descalço num carro de segunda classe. A capital mineira me abrigou e me deu incentivos para todos os sucessos de minha vida até me tornar presidente da República.; Nas 75 laudas datilografadas estavam também o perfil do presidente da Novacap, Israel Pinheiro, e uma longa conversa com o diretor administrativo do órgão, Ernesto Silva.

Entre os milhares de anônimos que construíram Brasília, Leão entrevistou um negro de 42 anos, forte como um atleta de luta livre, o primeiro candango a chegar a Brasília. Nascido em Vila Isabel, no Rio, Agripino Pereira Lins veio trazendo os primeiros três caminhões de material de construção destinado às obras do Catetinho. Quando chegou, não acreditou que uma cidade seria construída em lugar tão distante e isolado. ;Sua fé nasceu, verdadeiramente, quando ficou pronto o Catetinho e começaram as visitas, cada vez mais frequentes, do chefe do governo e de outras importantes personalidades, além de turistas e pessoas interessadas no florescimento da nova cidade;, escreveu o repórter.

Duas premiações
A cobertura da inauguração de Brasília mereceu dois prêmios Esso. Além de José Leão Filho, o jornalista Perseu Abramo, de O Estado de S. Paulo, ganhou na categoria Regional I. O júri do Esso 1960 era composto por nomes de peso no jornalismo pátrio. Faziam parte do corpo de jurados Alberto Dines, à época no Diário da Noite, criador do Observatório da Imprensa, atuou como editor-chefe do Jornal do Brasil e diretor da sucursal da Folha de S. Paulo no Rio de Janeiro; Mauro Salles, à época em O Globo, depois vice-presidente das Organizações Globo; Herbert Moses representando a Associação Brasileira de Imprensa; Luiz Alberto Bahia, do Correio da Manhã; João de Scantimburgo, que representava o Correio Paulistano; Ewaldo Dantas Ferreira, da Folha de S.. Paulo, um dos fundadores do Museu da Imagem e do Som de São Paulo; e Luiz Ernesto, da Tribuna da Imprensa.

O organizador do Prêmio Esso, Ruy Portillo, informa que a iniciativa inaugurada em 1955 já premiou mais de 500 jornalistas individualmente e mais de 200 equipes, números que incluem os que ganharam mais de um prêmio. Perto de 20 mil produtos jornalísticos se inscreveram na mais tradicional e desejada premiação do jornalismo brasileiro. O Correio Braziliense ganhou 15 prêmios Esso.

O repórter José Leão Filho, do Correio Braziliense, recebeu  o prêmio mais importante do jornalismo brasileiro por uma série de reportagens sobre a inauguração da nova capital

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