Jornal Correio Braziliense

Cidades

Supremo Tribunal Federal mantém freio nos gastos da Câmara Legislativa

Decisão do Supremo impede distritais de contratarem mais servidores comissionados até que se enquadrem na Lei de Responsabilidade Fiscal. A Casa vai recorrer

O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu manter a liminar que impede a Câmara Legislativa de contratar servidores comissionados até que retome o reequilíbrio de suas finanças. O presidente da Corte, Cezar Peluso, acatou parecer do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, recomendando a manutenção da decisão que proíbe a Casa de fazer compromissos financeiros na área de pessoal até que volte a apresentar patamares de gastos com servidores dentro do limite permitido pela Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). Se a situação perdurar, poderá causar sérios problemas aos distritais eleitos em outubro e que tomam posse mês que vem, pois esses políticos também serão afetados com a condição restritiva do órgão. Um dispositivo na LRF diz, inclusive, que a Câmara fica proibida de fazer substituições (leia mais Entenda o caso).

A decisão de Cezar Peluso contraria recurso apresentado pela Procuradoria-Geral da Câmara Legislativa, que tenta derrubar na Justiça a medida em caráter emergencial conquistada pelo Sindicato dos Servidores do Legislativo e Tribunal de Contas (Sindical). Em 12 de agosto último, o Sindical conseguiu uma liminar que freiou as nomeações de deputados distritais com base numa realidade fiscal preocupante. Entre janeiro e abril, por exemplo, a Câmara excedeu os gastos com pessoal em R$ 4,1 milhões. Depois as despesas diminuíram, mas ainda continuaram acima do teto considerado aceitável.

Na tentativa de reformar a decisão judicial, a Câmara alega prejuízos de ordem administrativa, já que a depende também de servidores comissionados para funcionar. Mas a tese da Casa não foi acolhida no Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJDFT) e encontrou resistência também no Supremo. ;Quanto ao suposto risco de grave lesão à ordem administrativa, consistente na impossibilidade de contratação de novos funcionários para gabinetes dos futuros deputados distritais, verifico que a situação envolve, na verdade, perigo de dano inverso, não admitido por esta Corte;, afirmou Peluso.

Receita líquida
A Lei de Responsabilidade Fiscal define que o Poder Legislativo ; formado pela Câmara e o Tribunal de Contas do Distrito Federal (TCDF) ; pode gastar, no máximo, 3% da Receita Corrente Líquida (toda a riqueza que circula no DF) com pagamento de pessoal. Por força de uma decisão do Tribunal de Contas ; a de número 4056 de 2009 ; ficou definido para a Câmara o limite de 1,7% das despesas da RCL com contracheques de funcionários. A diferença de 1,3% refere-se ao teto aplicado ao próprio Tribunal. Mas desde junho, o relatório de gestão do DF demonstrou que a Câmara chegou a 1,74% no percentual possível para a quitação dos compromissos com servidores.

O último relatório quadrimestral da Câmara, publicado em setembro, revelou que foi gasto 1,67% da RCL, o que ainda estaria em desconformidade com a legislação. Na tentativa de reverter a situação que se torna cada vez mais grave quanto mais próxima fica a posse dos novos distritais, a Câmara Legislativa apresentou ontem um relatório parcial que, segundo alega a assessoria jurídica da Casa, indicaria que o Poder Legislativo estaria dentro da marca permitida de 1,6% de gastos com pessoal. O relatório refere-se a dados coletados até novembro e indica que a Câmara gastou em pagamento de salários R$ 191,6 milhões, o que daria percentualmente 1,62% dos R$ 11,2 bilhões que correspondem à Receita Corrente Líquida. Com base nesse documento, os deputados vão recorrer mais uma vez na Justiça.

Mas, para a direção do Sindical, o cálculo não tem valor legal, pois não leva em conta o último quadrimestre do ano, que incluiria também o mês de dezembro. ;Trata-se de mais uma manobra da direção da Câmara na tentativa de voltar a contratar mesmo sem ter atingido os limites da Lei de Responsabilidade Fiscal;, afirmou Adriano Campos, presidente do Sindicato dos Servidores da Câmara.

SALÁRIOS NA CONTA
O pagamento do salário dos servidores remunerados com verba do Tesouro do Distrito Federal foi feito na noite de terça-feira, segundo informou a assessoria de imprensa do governador Rogério Rosso. Os valores referentes ao mês de dezembro, o 13; salário, o adiantamento de férias e as diferenças relativas aos reajustes salariais concedidos este ano atrasaram em três dias o pagamento de 30 mil funcionários públicos. De acordo com os assessores de Rosso, a demora se deu em virtude da aprovação tardia do crédito pelos deputados distritais. A votação, prevista para ocorrer na última quinta-feira, só foi aprovada depois das 22h da última sexta-feira.


Presidente do Supremo manteve a liminar que impede as contratações