postado em 24/12/2010 07:49
Parece desnecessário perguntar a uma criança o que ela quer de presente de Natal. Mas por trás do óbvio ; videogames, bonecas, objetos da moda ;, estão desejos que passeiam entre a mais pura ingenuidade e aqueles que, de tão reais ou adultos, espantam o interlocutor quando ditos em voz alta. Uma pergunta basta para descobrir que crianças de 6 anos querem tanto um notebook quanto o direito à casa própria e, por que não, um mundo mais limpo. Deixam a imaginação aproveitar a liberdade de desejar qualquer coisa; é Natal, a ocasião o permite.O Correio sondou as vontades, materiais e abstratas, de 50 crianças de diversas cidades do Distrito Federal e distintas classes sociais. A lista de presentes não foi muito diferente: os meninos vibram com brinquedos de desenhos animados famosos e videogames; as meninas querem bonecas e seus derivados eletrônicos. Ambos sonham com computadores e câmeras fotográficas. A quantidade varia. ;O Papai Noel está lascado com a minha prima;, certifica José Eduardo Ribeiro Filho, 9 anos, sobre a extensão de presentes pedidos por Ana Carolina de Faria Alves Silva, 7 anos. ;Uma boneca, uma piscina e uma bicicleta;, elenca Sofia Lima do Prado, 8. ;Algo mais?;, pergunta a reportagem. ;Muito mais, mas não lembro o resto;, explica a garota.
Quando a questão acampa na subjetividade, o terreno é mais acidentado. Em cidades onde a população é menos favorecida, é impressionante o número de crianças que toca em um assunto que não consta da tradição do vocabulário infantil: o sonho de morar em uma casa própria. ;Queria ganhar uma casa para a minha mãe não pagar mais aluguel. A gente poderia comprar um monte de coisa com esse dinheiro;, diz Thaís Monte da Silveira, 9 anos, moradora de Ceilândia. ;Uma das coisas mais importantes da minha vida é conseguir viver na minha própria casa;, concorda Daniele Carvalho, 10 anos, que vive na Estrutural em um imóvel alugado.
Ninja
Acidentado, mas também vasto é o terreno. O humor, proveniente da franqueza inerente das crianças, quase sempre cadencia a fala. O que faria Igor de Magalhães, 11 anos, feliz? ;Primeiro, uma bicicleta, porque a minha foi roubada. Segundo, que as pessoas parassem de assaltar os outros. E, por fim, alguém poderia vir tapar os buracos de Ceilândia.; Ele ri da própria resposta. Gabriel de Sousa Martins é engraçado falando sério, muito sério. Questionado sobre o que realizaria os seus sonhos além do presente que vai ganhar ; chuteiras novas, luvas e meias de goleiro ;, ele replica, do alto dos seus 8 anos: ;Queria ser um ninja. Realizaria várias missões;. A realidade, no entanto, já bateu à porta de Gabriel e resta a ele, assumindo ares sisudos, completar a informação: ;Já pedi isso ao Papai Noel várias vezes, mas, infelizmente, não vai dar;.
Além de humoristas, os pequenos sabem ser conselheiros, como André Souza Brito, 6 anos, que gostaria que os pais ;parassem de brigar;. Eles também têm consciência ambiental. ;Podiam parar de jogar lixo na rua;, alerta Naiely Romeiro, 9 anos. Desejam um mundo ;onde as crianças não pagassem por nada;, como diz Juliana Martins, 7. Querem abundância em saúde e em dinheiro, seja para ir à Disney, como sonha Luciano Correia Júnior, 13 anos, ou para uma mochila bacana, aspiração de Ruth Marques Macedo, 11. Sonham por todos.
Que ninguém se engane. As crianças sabem bem que o excesso de trabalho deve deixar o Papai Noel de barba em pé. Logo, assumem que ele conta com uma boa equipe de assistência. ;Eles são duendes?;, pergunta ao pai o pequeno Pedro Gale Gusmão, 4 anos, após dizer à equipe do Correio quais eram suas preferências de presentes para o Natal. Ele tem bons motivos para desconfiar.
PARA SABER MAIS
Um bispo como inspiração
O Papai Noel foi inspirado no bispo Nicolau Taumaturgo, que viveu na cidade de Myra, na Turquia, no século 4. Ele costumava ajudar, anonimamente, famílias em dificuldades financeiras colocando um saco de moedas de ouro na chaminé das casas. Nicolau foi declarado santo depois que muitos milagres lhe foram atribuídos. O bispo se transformou em um símbolo natalino na Alemanha. No século 19, o escritor Clement Moore escreveu um conto para seus seis filhos sobre um bom velhinho chamado São Nicolau que morava no Polo Norte e, com seu trenó, distribuía presentes. A história se popularizou e correu o mundo. A imagem do Bom Velhinho, assim como a conhecemos hoje, é obra do cartunista norte-americano Thomas Nast, que retratou, em 1876, São Nicolau como um senhor gordinho e de barbas brancas, ilustração publicada na revista Harper;s Weekly. As roupas vermelhas e o trenó puxado por renas foram acrescentados depois, num comercial da marca de refrigerantes Coca-Cola que foi ao ar em 1931.