Jornal Correio Braziliense

Cidades

Crianças e adolescentes têm poucas opções de esporte e lazer no DF

As pedras espalhadas em meio à terra atrapalham o jogo e desviam a bola. Com a chuva, o que era poeira vira lama e impossibilita a organização de um campeonato de fim de ano ou de férias. Driblando tudo isso, crianças moradoras de Ceilândia Norte insistem em brincar e arrumam maneiras para superar a falta de estrutura e se divertir em uma simples partida de futebol. Esse é apenas um retrato da falta de opções de esporte e lazer para meninas e meninos de todo o DF. Parques e quadras malcuidadas e equipamentos abandonados estão entre as principais reclamações da comunidade.


Mesmo sem um campo sintético ou um local coberto para jogar bola, as crianças e adolescentes da QNQ 5, em Ceilândia Norte, improvisam em nome da diversão. ;Antes um treinador até dava aula de graça para a gente aqui, mas ele desistiu. Esse campo é péssimo. Fica alagado e também cheio de lixo. As pessoas jogam um monte de sujeira aqui;, reclama Leonardo Martins, 15 anos. As redes presas às travas do campo estão furadas e o que era para ser uma arquibancada, para os pais assistirem e cuidarem das crianças, já não existe mais. ;É ruim pra gente, principalmente nessa época de férias. Nós não temos lugar para levá-los para brincar. Tenho medo de deixá-lo (o filho) na rua, de ele se envolver com o que não presta, principalmente com drogas;, diz Rosângela Martins, 35, mãe de Leonardo.


O microempresário Jefferson Vinícius, que mora na região, bem que tentou por diversas vezes arrumar a quadra, mas desistiu por falta de incentivos. ;Agora está aí, tudo abandonado. Dávamos aulas, organizávamos campeonatos, mas agora tudo acabou. Não há uma estrutura para a prática de lazer aqui e também falta uma conscientização dos moradores sobre a importância de lugares como esses para as crianças;, explica Jefferson. Quem vive próximo à quadra também tem reclamações. ;As crianças não brincam direito, a poeira invade as nossas casas e, como as redes de proteção estão destruídas, a bola derruba as telhas dos barracos próximos. Eles precisam ter o espaço, mas tem que ser algo organizado;, reclama o agente de limpeza Francisco Gonçalves, 63 anos.


A poucos metros da quadra, uma Vila Olímpica está em construção desde 2008. A obra tem cerca de 70% de sua estrutura pronta, mas só será concluída no próximo governo. Em todo o DF, são sete vilas ainda em construção. Outras três ; em São Sebastião, Samambaia e no Parque Vaquejada, em Ceilândia ; já estão funcionando. As duas últimas foram inauguradas na última semana. A previsão inicial era de que até a comemoração dos 50 anos de Brasília, que ocorreu em abril deste ano, 10 vilas já tivessem sido inauguradas em todo DF. O cronograma, porém, não foi cumprido.

Ideia inicial
A meta do ex-governador José Roberto Arruda era construir 20 vilas olímpicas em todo o DF. Na estrutura, piscinas semiolímpicas, pista de atletismo, quadras, campos, salas de ginástica e espaço para musculação foram planejados. Pela meta inicial, 15 vilas estariam prontas até o fim desse ano, e as demais teriam as construções iniciadas também até este mês. Cada uma das unidades custa aproximadamente R$ 10 milhões e é administrada por uma organizações sociais sem fins lucrativos, conveniadas à Secretaria de Esporte. A ideia é colocar funcionários que sejam moradores das comunidades para trabalhar nas vilas. Os prazos, no entanto, ficaram no papel, e a maioria dos moradores onde as unidades estão previstas pede a estrutura prometida.


De acordo com o secretário de Esporte, Hebert Félix, as construções estão adiantadas, mas caberá ao próximo governo dar prioridades ao projeto. ;Temos sete vilas que já estão com 70% ou até 90% das obras concluídas. O governador Agnelo (Queiroz, do PT) terá que tomar a decisão. Se as obras foram priorizadas, tenho absoluta certeza que todas as vilas poderão ser entregues em funcionamento até dezembro do próximo ano;, afirmou.


Em São Sebastião, onde são escassas as opções de lazer, crianças e adultos fizeram a festa com a inauguração da vila na última quinta-feira. ;Antes, brincava no quintal de casa. Agora, eu vou vir para cá. Nem conseguia brincar direito;, diz André Neres de Jesus, 8 anos. A mãe dele, que tem outros dois filhos, de 7 e 11 anos, também comemorou. ;É muito bom saber que eles estarão aqui e não nas ruas, aprendendo o que não deve;, disse a auxiliar de cozinha Aldenir Neres. Nas demais cidades, no entanto, persiste a queixa. ;Falaram que iam construir, até hoje nada de inaugurar e vamos ficando assim;, afirma o morador de Planaltina Álvaro Figueiras, 30 anos.

Custo
A manutenção de uma vila olímpica custa ao governo cerca de R$ 300 mil por mês. Com a quantidade de crianças atendidas em São Sebastião, por exemplo ; 4,5 mil , sendo 6 mil pessoas aos fins de semana ; o custo é de uma média de R$ 93 por mês para cada pessoa atendida. Um total de 200 pessoas foram empregadas para trabalhar na unidade.

Concepção

As vilas olímpicas do DF foram inspiradas em casos de sucesso do estado do Rio de Janeiro. Lá, são oito unidades, também administradas por organizações sociais. No DF, a gestão da vila de Samambaia está por conta do Instituto Amigos do Vôlei, criado pelas jogadoras Leila Barros e Ricarda Negrão. A ONG Eu Acredito é a responsável pela unidade de São Sebastião, enquanto a do Parque da Vaquejada, em Ceilândia, funciona sob a supervisão do Centro de Treinamento de Educação Física Especial.

O que está previsto

Cidades que deveriam receber vilas olímpicas:

Ceilândia ; duas vilas olímpicas e uma minivila. A do Parque da Vaquejada foi inaugurada na
última quinta-feira. A de
Ceilândia Norte, no entanto, permanece em obras. A previsão inicial era de que fosse concluída
em abril de 2010

Samambaia ; uma vila
olímpica inaugurada em
outubro de 2009

São Sebastião ; uma vila olímpica inaugurada na última quinta-feira
Santa Maria ; uma vila olímpica
Brazlândia ; uma vila olímpica
Recanto das Emas ; uma ila olímpica
Planaltina ; uma vila olímpica
Estrutural ; uma vila olímpica
Gama ; uma vila olímpica
Cruzeiro ; uma vila olímpica
Itapoã ; uma vila olímpica e uma minivila olímpica
Taguatinga ; uma vila olímpica e uma minivila olímpica
Riacho Fundo 1 ; uma vila olímpica
Riacho Fundo 2 ; uma vila olímpica
Núcleo Bandeirante ; uma vila olímpica
Águas Claras ; uma minivila olímpica
Sobradinho 1 ; uma minivila olímpica
Sobradinho 2 ; uma minivila olímpica