postado em 29/12/2010 08:19
A febre da construção civil que tomou conta do país, levando às alturas a oferta de imóveis recém-terminados ou ainda na planta, teve consequências sobre o mercado de usados. No Distrito Federal, o valor médio de venda de unidades antigas ou seminovas caiu, conforme mostra o Boletim do Mercado Imobiliário de outubro, encomendado pelo Sindicato da Habitação do DF (Secovi-DF) à Econsult, empresa júnior de consultoria econômica da Universidade de Brasília (UnB). No caso de apartamentos de dois quartos, houve recuo de 3% a 11,5% no patamar de preços para comercialização na comparação com setembro, dependendo da localidade. Um contraponto é que a tendência é compensada por maior rentabilidade do aluguel nas regiões distantes do centro da capital federal. A presença de novos empreendimentos tem tornado essas áreas atraentes para se morar.Atualmente, o investimento que mais garante retorno no DF é a compra de quitinetes em Águas Claras. Em outubro, elas renderam aos seus proprietários 0,5% sobre o valor de aquisição ao mês. Em se tratando do aluguel de outros tipos de imóveis ; apartamentos de um, dois e três quartos ;, a cidade também ultrapassou Brasília no quesito rentabilidade (veja quadro). Além disso, apresentou variação positiva de 2,4%, no valor do aluguel de unidades de dois quartos frente a setembro. O mesmo se deu com Samambaia, onde alugar imóveis ficou 3,8% mais caro no período. Em Taguatinga, houve elevação nos custos de 3,6%. Em Brasília e Guará, regiões mais centrais, não foi registrada alteração de preços.
O Boletim do Mercado Imobiliário de outubro foi feito a partir dos preços de 18.164 unidades comerciais e residenciais disponíveis no mercado, para venda e aluguel. Ovídio Maia, vice-presidente do Secovi-DF, informa que a entidade começou a encomendar o levantamento em junho deste ano. Nas primeiras medições, a amostra utilizada era muito reduzida, de pouco mais de mil unidades. Entretanto, o escopo da pesquisa foi ampliado a partir de setembro, quando os valores de 12.105 imóveis foram analisados. Por isso, nos próximos meses, o sindicato espera ter um retrato cada vez mais confiável da dinâmica do mercado de usados e seminovos no Distrito Federal.
Acomodação
;A oferta de unidades novas está maior com o momento aquecido da construção civil. Os preços estão se acomodando, principalmente nas cidades que estão recebendo mais construtoras e empreendimentos. É o caso de Samambaia, Taguatinga, Águas Claras. Mas o que mais nos chama a atenção nisso tudo é a taxa de retorno do aluguel;, afirma Ovídio Maia. Ele diz ainda que a possibilidade de análises comparativas entre os boletins encomendados pelo Secovi-DF é recente. ;É preciso esperar, porque passamos a trabalhar com uma amostra maior há pouco tempo. Em meados de março, poderemos apontar tendências com maior segurança;, pondera.
O estudante de economia João Vítor Rêgo Costa, diretor de projetos da Econsult e um dos responsáveis pela pesquisa, chama a atenção para o deslocamento do interesse em unidades imobiliárias do eixo central para as regiões mais periféricas do DF. ;O foco está mudando. A gente pode atribuir isso, entre outras coisas, ao aumento do poder aquisitivo nas classes C e D. O Plano Piloto continua inacessível para elas, mas imóveis em regiões como Águas Claras e Taguatinga já estão ao alcance;, destaca. Ele acredita que os preços em recuo dos imóveis usados e seminovos alcançarão um equilíbrio. ;Com a proximidade do fim do ano, há mais lançamentos de imóveis novos. Quando houver um retorno ao nível regular, as unidades usadas serão afetadas também.;
A corretora de imóveis Ivone Oliveira Silva, 24 anos, conhece de perto o mercado de Águas Claras, já que a imobiliária onde trabalha fica na cidade. Ela conta que os preços na região para venda de fato desaceleraram a partir do segundo semestre deste ano. ;Em regiões como Taguatinga e Samambaia, com mais espaço para novas construções, há mais margem para valorização;, afirma ela, que, no auge da expansão da construção civil em Águas Claras, adquiriu um imóvel seminovo, de dois quartos, por R$ 160 mil. ;Vendi este ano por R$ 235 mil, porque precisava ter um dinheiro guardado. Comprei um mais barato em Taguatinga, que provavelmente vou conseguir vender com lucro;, conta.
Cálculo
O índice de rentabilidade imobiliária corresponde a quanto um imóvel rende ao seu proprietário levando-se em conta o valor pelo qual foi adquirido. Ele será maior ou menor conforme a dinâmica dos aluguéis na região onde fica. Se uma unidade foi comprada por R$ 100 mil e seu índice de rentabilidade é 1%, por exemplo, significa que o mercado local permite ao dono cobrar do locatário um aluguel no valor de 1% de 100 mil.
MERCADO BRASILIENSE
Valor médio para venda
Setembro - Outubro - Variação
Águas Claras - R$ 260 mil - R$ 240 mil -7,69%
Brasília - R$ 520 mil - R$ 460 mil - 11,5%
Guará - R$ 240 mil - R$ 220 mil - 8,3%
Taguatinga - R$ 165 mil - R$ 160 mil - 3%
Samambaia - R$ 160 mil - R$ 150 mil - 6,25%
VALOR MÉDIO DA LOCAÇÃO
Setembro - Outubro - Variação
Águas Claras - R$ 1.025 - R$ 1.050 2,4%
Brasília - R$ 1.700 - R$ 1.700 ;
Guará - R$ 750 - R$ 750 ;
Taguatinga - R$ 650 - R$ 675 3,8%
Samambaia - R$ 550 - R$ 570 3,6%
*Valores referentes a um apartamento de dois quartos
Cidades onde o aluguel rendeu mais em outubro
Tipo de 1 quarto 2 quartos 3 quartos Quitinete apartamento
Águas Claras - 0,47% - 0,44% - 0,38% - 0,50%
Guará - 0,39% - 0,34% - 0,36% - 0,35%
Brasília - 0,36% - 0,37% - 0,33% - 0,42%