Cidades

Arcebispo lembrou momento de crise no DF em missa antes da posse de Agnelo

postado em 02/01/2011 08:08
Fim da crise política e momento de recomeço. Esse foi o tom da missa em ação de graças pela posse do governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, celebrada pelo arcebispo de Brasília, Dom João Braz de Aviz. O eclesiástico falou com ares de vitória sobre a eleição democrática de um governante para a cidade após os episódios conturbados do ano de 2010, que deixaram o DF sob ameaça de intervenção. A celebração ocorreu no Santuário Dom Bosco, na 702 Sul, e foi o primeiro compromisso de Agnelo no dia de sua posse. O chefe do executivo chegou ao local pouco depois das 8h, acompanhado da mulher, Ilza Queiroz, e da mãe, dona Alaíde Queiroz. O vice-governador, Tadeu Filipelli, também compareceu com a filha, bem como parte do secretariado da nova gestão.

Agnelo chegou ao Santuário Dom Bosco acompanhado da mãe, Alaíde (E), e da mulher, Ilza: governador queria que missa fosse celebrada na Catedral, mas posse de Dilma atrapalhou planos;A gente está saindo de uma crise muito dura. Já pensou sermos comandados por alguém indicado pelo governo federal, como crianças? Mas estamos aqui, com um governador eleito pelo povo;, afirmou Dom João Braz, na homilia, momento nas celebrações católicas em que os sacerdotes pregam e interpretam as passagens bíblicas. ;Podemos fazer com que os mortos ressuscitem. Podemos sair de uma situação de crise para uma situação de esperança;, declarou em seguida. Ele também pediu para Agnelo Queiroz e os membros do governo recorreram à ajuda divina na tarefa de administrar o Distrito Federal. ;Que Deus abençoe o governador, o vice e todos que vão ocupar as secretarias. Que Deus proteja a Câmara Distrital;, disse.

Agnelo falou ao microfone nos momentos finais da missa, e fez um discurso afinado com do arcebispo. ;Aqui é o começo real de um novo caminho para Brasília. Sei que nossa população precisa ser mais cuidada. Será um trabalho primeiro de Deus, e depois de cada habitante do DF;, afirmou, dirigindo-se a pouco mais de uma dezena de fiéis. Minutos depois, ele deu a primeira entrevista do dia. ;A redução das desigualdades sociais será a marca do nosso governo;, declarou à imprensa.

O governador não foi o único participante da missa a ir para a frente do altar. Dona Alaíde Queiroz ajudou a abrir o culto, lendo o primeiro trecho do folheto de liturgia. Outro momento protagonizado por ela foi quando Dom João Braz dirigiu-se diretamente à mãe de Agnelo e à primeira-dama. ;Já tive notícias de que vocês puxam muito a parte religiosa dele. Cuidem bem do governador;, disse.

A intenção inicial de Agnelo Queiroz era que a missa dedicada à sua posse fosse realizada na Catedral Metropolitana de Brasília, na Esplanada dos Ministérios. A ideia, no entanto, teve que ser deixada de lado em razão do forte esquema de segurança montado na área para a posse da presidenta Dilma Rousseff.

O governador do Distrito Federal deixou sua casa, na QI 19 do Lago Sul, às 7h50. Ele foi para o Santuário Dom Bosco em um Toyota Corolla preto, seguido de três Astras prateados ocupados por sua equipe de segurança. Enquanto Agnelo assistia à cerimônia religiosa, a escolta foi engrossada por mais seis veículos da Polícia Militar.

Após a missa, encerrada às 9h40, Agnelo seguiu para a Câmara Legislativa do DF, para ser empossado pelos deputados distritais. Ele fez uma parada na casa da mãe, na 204 Sul, e, por isso, a solenidade começou atrasada.

Discurso afinado
Embora não tenha havido uma recomendação formal da Arquidiocese de Brasília, os escândalos de corrupção e a esperança em torno do novo governo foram tema da homilia nas missas de ano-novo de muitas igrejas do DF na sexta-feira. Foi o caso da paróquia de Santo Expedito, na 303/304 Norte, e da de Nossa Senhora do Carmo, na 913 Sul. O Frei Geraldo D;Abadia Pires Maciel, pároco da igreja de Nossa Senhora do Carmo, conta que pediu para os fiéis fazerem uma prece por Brasília na celebração das 20h30, em 31 de dezembro. ;A cidade está muito descuidada e tem muita expectativa em torno do Agnelo e também da Dilma Rousseff;, justificou o sacerdote.

Em vez de briga, muito diálogo
>> Ricardo Taffner

O novo governador do Distrito Federal é natural de Itapetinga, Bahia. De fala mansa e tranquila, como o estereótipo do bom baiano, Agnelo dos Santos Queiroz Filho não é do tipo de entrar em intrigas. Pelo contrário. Em vez dos rachas e das quedas de braço, situações comuns no universo político, ele prefere agregar e levar as pessoas para perto de si. Tramita em diferentes grupos, sem distinção, e, dificilmente, fala algo que desagrade o interlocutor. É avesso a dizer "não" e prefere alongar uma conversa para explicar um ponto de vista a rejeitar a ideia contrária. No fim de um longo papo com Agnelo, não é raro sair sem saber o resultado prático do diálogo, devido ao nível de abstração.

Seguindo a receita do político paciente e amistoso, Agnelo construiu nos últimos anos um caminho vitorioso que o levou a assumir, ontem, o principal cargo da capital da República. O primeiro passo foi mudar do PCdoB para o Partido dos Trabalhadores. A antiga sigla deu a ele a oportunidade de ser o ministro do Esporte do governo Lula, mas não foi capaz de tornar real o sonho de concorrer ao GDF em 2006. Na época, Agnelo perdeu a indicação para a petista Arlete Sampaio e teve de enfrentar Joaquim Roriz (PSC) na corrida pelo Senado Federal, ficando em segundo lugar, com mais de meio milhão de votos.

Foi recebido no PT, em julho 2008, com status de preferido para ser o principal nome da legenda nas eleições do último ano. Entretanto, precisou disputar com o deputado federal Geraldo Magela (PT) a indicação. A batalha não era prevista, uma vez que os acordos haviam sido costurados nos meses anteriores. Mas a deflagração da Operação Caixa de Pandora ; sobre o suposto esquema de corrupção no governo de José Roberto Arruda (sem partido) ; mudou as perspectivas para 2010. Em meio à guerra interna pela preferência da militância, Agnelo foi criticado por ter assistido, previamente, aos vídeos que incriminavam o então governador e não ter tomado qualquer providência para denunciar o caso.

A disputa foi apertada, mas o neopetista conseguiu o apoio da cúpula nacional do partido e venceu as prévias com 56% dos votos. Depois disso, o caminho foi liberado para se formar a maior coligação local para o pleito pelo GDF. O perfil aglutinador do ex-ministro atraiu para a chapa antigos adversários, como o PMDB ; sigla que havia abrigado anteriormente o ex-governador Roriz. A aliança foi duramente criticada, principalmente pelos militantes mais conservadores. A previsão era que as rusgas entre as legendas atrapalhassem a eleição. Mas as divergências deram lugar ao pragmatismo político e as siglas se entenderam bem durante a campanha.

Atento a uma situação de calamidade nos serviços públicos, o médico cirurgião adotou como principal ponto a promessa de resgatar o Sistema de Saúde do DF. Na bagagem, Agnelo carrega o fato de ter sido chefe de cirurgia do Hospital do Gama e diretor da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Do outro lado da disputa, a equipe da mulher do ex-governador Joaquim Roriz, Weslian Roriz (PSC), apresentou o testemunho de duas pessoas sobre um suposto esquema de desvio de recursos do programa Segundo Tempo - investigado pela Operação Shaolin, que teria sido patrocinado por Agnelo na gestão do Ministério do Esporte.

O ex-ministro desqualificou os denunciantes e destacou, durante os programas eleitorais, a falta de provas para sustentar as acusações. Essa e as demais táticas eleitorais deram certo e Agnelo venceu as eleições com 66,1% dos votos válidos. Com o cargo nas mãos, a dificuldade passou a ser repartir a estrutura administrativa do DF. Para os peemedebistas, cedeu as áreas de obras, infraestrutura e transportes. Já os correligionários levaram setores estratégicos, como a Casa Civil e a Secretaria de Governo, além das pastas sociais, como Saúde, Educação e Desenvolvimento Social.

Agnelo completou 52 anos em 9 de novembro. Mudou-se para Brasília no início da década de 1980 para fazer residência médica. Na capital federal, casou-se com Ilza Maria, com quem tem dois filhos. O primeiro cargo público do baiano foi conquistado em 1990, com a vitória na estreia da Câmara Legislativa do DF. Quatro anos depois, foi eleito para a Câmara dos Deputados, reelegendo-se em 2002.

De adversário a um improvável aliado
O segundo homem mais poderoso do GDF foi, por muito tempo, adversário político do superior imediato, Agnelo Queiroz (PT). O empresário paulista Nelson Tadeu Filippelli (PMDB) entrou na vida pública pelas mãos do ex-governador Joaquim Roriz. Em pouco mais de um ano, rompeu com o antigo aliado, assumiu o controle do partido e aproximou-se de Agnelo para fazer a imprevisível dobradinha, unindo petistas e peemedebistas em Brasília. A aposta deu certo. Além de tornar-se o vice-governador, Filippelli volta a ter influência direta na área que dominou no governo Roriz: obras e infraestrutura.

Formado em engenharia elétrica pela UnB e administração pelo UniCeub, o peemedebista começou a história política em 1988, ao dirigir a Secretaria de Habitação e Interesse Social. Um ano depois, assumiu a presidência do órgão responsável pelo controle da doação de lotes no DF. Foi o primeiro administrador de São Sebastião. Em 1994, conseguiu quase 10 mil votos para a Câmara Legislativa e, quatro anos depois, foi eleito deputado federal. O Legislativo, entretanto, ficou em segundo plano. Por quase oito anos, Filippelli comandou a área de obras do governo Roriz. O relacionamento entre os dois começou a se desgastar no último ano de governo, em 2006. O peemedebista queria ser candidato a vice-governador na chapa liderada por Maria de Lourdes Abadia (PSDB). No entanto, Roriz cedeu a vaga a Maurício Corrêa.

Com vistas ao processo eleitoral de 2010, Filippelli se aproximou do governo de José Roberto Arruda. Entretanto, Roriz havia renunciado ao Senado e queria lançar a candidatura para o Buriti. Na última legislatura, ocupou os cargos de vice-líder do PMDB na Câmara e de presidente da Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania(CCJC). Diante disso, conseguiu impedir uma intervenção federal na legenda local. Roriz saiu derrotado, deixou o partido e tentou concorrer ao governo pelo PSC. Do outro lado, com a eclosão da Operação Caixa de Pandora, a associação com o grupo de Arruda foi descartada pelo PMDB.

Filippelli passou a ser, então, personagem fundamental na articulação para formar uma chapa capaz de derrotar Roriz. Alçado a condição de vice, conseguiu atrair outras siglas para a coligação e levar a candidatura de Agnelo a redutos inacessíveis aos petistas. Com a vitória, foi um dos principais negociadores na partilha do GDF. Indicou os secretários de Obras, deputado federal eleito Luiz Pitiman, e de Transporte, José Valter Vasquez. Sob o domínio do PMDB também deverão ficar empresas ligadas à infraestrutura, como a Caesb, o DER-DF, a Emater-DF e a Novacap. (RT)

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