Cidades

Posse de Agnelo ocorreu em clima de amizade

Acompanhado de familiares, colegas e correligionários, o novo governador discursou e se emocionou na Câmara e no Palácio do Buriti. Mas brasilienses que tentaram acompanhar as solenidades acabaram frustrados: o telão queimou quando Agnelo recebia a faixa

Guilherme Goulart
postado em 02/01/2011 08:30
A cerimônia na Câmara Legislativa foi acompanhada por 500 convidados: palavras de progressoO governador Agnelo Queiroz (PT) tomou posse ontem rodeado de companheiros. Em clima de confraternização e protegido de possíveis manifestações, o novo chefe do Executivo local deixou a emoção fluir nas duas cerimônias que marcaram a posse do Governo do Distrito Federal (GDF). Tanto na solenidade ocorrida na Câmara Legislativa quanto na de transmissão de cargo, no Palácio do Buriti, os discursos do petista foram marcados por agradecimentos, palavras de progresso e a necessidade de combater a corrupção na capital do país.

O primeiro compromisso oficial, no entanto, registrou atraso de quase uma hora. Os deputados distritais abriram os trabalhos às 10h44, e Agnelo se apresentou para a posse como governador do DF às 10h58. Foi recebido por mais de 500 convidados no auditório da Câmara Legislativa, no Setor de Indústrias Gráficas (SIG). Amigos e colegas de partido, além de apoiadores e futuros funcionários do governo, se revelaram a maioria dos presentes. Tanto que o momento mais aplaudido ocorreu em um elogio de Agnelo ao PT.

A emoção fez com que o novo governador interrompesse por várias vezes o discurso direcionado a uma plateia bem-vestida. A maioria optou por trajes discretos e alinhados. A primeira-dama, Ilza Maria Queiroz, chamou a atenção pela elegância e pela simplicidade. Usou um conjunto branco e sapatos de salto alto pretos. Os filhos do casal, Guilherme e Fernanda, também acabaram assediados pelos participantes da cerimônia de posse. Acostumado a se vestir de maneira despojada, o jovem trajava um terno claro, mas sem abrir mão de um piercing no nariz e do cabelo devidamente arrepiado. Fernanda também seguiu a linha das cores claras.

O clima de fraternidade seguiu para o Palácio do Buriti, onde, por volta das 12h30, Agnelo recebeu a faixa do ex-governador Rogério Rosso. A solenidade ocorreu no Salão Branco, que estava cheio de representes do primeiro e do segundo escalões do governo local, além de familiares. Mais uma vez, apenas quem tinha convite participou da programação. O governador reiterou os compromissos de campanha e o resgate da moral e da ética. Houve apenas uma quebra de protocolo. Rosso deixou que a ex-vice-governadora do DF, Ivelise Longhi, também discursasse.

Frustração
Das 10 mil pessoas esperadas para festejar a posse, porém, cerca de 3 mil, segundo a Polícia Militar, compareceram à Praça do Buriti. Entre eles, o servidor público e morador de Taguatinga Saulo Cardoso Silva, 60 anos, que se destacou pelo traje: calça e chapéu brancos, camisa vermelha e uma enorme bandeira do PT. ;Eu votei, no primeiro e no segundo turnos da eleição, vestido dessa mesma forma. O povo não aguenta mais corrupção;, afirmou.

Vencer a chuva que caía de forma intermitente não foi suficiente para garantir um festejo completo. O único telão disponível para que o público pudesse acompanhar ao vivo a solenidade foi posicionado de frente para o Tribunal de Justiça do DF, o que obrigava os presentes a ficarem de costas para o Buriti. E, ainda assim, não funcionou. O equipamento alternava problemas de imagem e de som, deixando todos na expectativa sobre o que estava ocorrendo dentro do Palácio. Por fim, na hora em que Agnelo recebeu a faixa, o telão queimou. Só era possível ouvir o discurso, mas em um volume baixo.

A servidora pública Márcia Regina da Paz, 37 anos, toda de vermelho ; vestido, óculos, sapatos de salto e sombrinha ;, não escondeu a frustração. ;Não vimos nada. Ficamos na expectativa. E aí eu pergunto: ;Que democracia é essa que não nos permite ficar perto nem ver nem ouvir quem elegemos?;;, indagou a moradora do Cruzeiro Velho. Por volta das 13h45, o público foi avisado de que Agnelo seguiria direto para a cerimônia de posse da presidente Dilma Rousseff. E, portanto, não cumprimentaria quem o aguardava do lado de fora do Palácio do Buriti.

Colaborou Helena Mader


Personagens da história
>> Helena Mader


A história política do Distrito Federal começou a mudar há exatos 20 anos. Com a conquista da autonomia política, os brasilienses ganharam o direito de escolher seus próprios governadores (veja arte), por meio do voto direto. Ao tomar posse, Agnelo Queiroz terá seu retrato pendurado junto às imagens dos outros 34 políticos que já comandaram o Executivo local. Essa trajetória começou com Israel Pinheiro, prefeito da capital logo após a inauguração, passou por Hélio Prates, nomeado como primeiro governador do DF, em 1969, e por Joaquim Roriz, que foi o primeiro chefe do Buriti eleito por voto popular. Agora, será a vez do petista assumir a escrita dessa história de sucessos e turbulências.

Conhecido como um dos mais ativos participantes da construção de Brasília, Israel Pinheiro foi nomeado por Juscelino Kubitschek como primeiro prefeito da cidade. A missão, porém, durou pouco: de maio de 1960 a janeiro de 1961. Pouco depois, virou governador de Minas Gerais e deixou a cidade que ajudou a erguer. Depois de Israel Pinheiro, Brasília teve mais 11 prefeitos. A Prefeitura do Distrito Federal, criada pela Lei n; 3.751, de 13 de abril de 1960, vigorou até 17 de outubro de 1969. Nessa data, a Emenda Constitucional n; 1 transformou a prefeitura em governo. Assim como acontecia anteriormente, o primeiro governador também teve indicação do presidente da República, que à época era o militar Emílio Médici. Hélio Prates da Silveira foi o primeiro dos 11 governadores indicados para comandar a capital federal.

O governador seguinte foi Elmo Serejo, que governou a nova capital por cinco anos. Aimé Alcibíades Lamaison e José Ornellas de Souza Filho ficaram, cada um, cerca de três anos à frente do GDF. Em 1985, o mineiro José Aparecido de Oliveira recebeu a indicação do então presidente José Sarney e virou governador do DF. Foi durante a sua gestão que Brasília ganhou o seu mais importante título: o de Patrimônio Mundial da Humanidade, concedido pela Unesco. Também indicado por José Sarney, o governador seguinte se transformou em um dos principais nomes da política do Distrito Federal. Em setembro de 1988, o empresário goiano Joaquim Roriz surgiu na cena da capital federal, depois de uma carreira política em Goiás. Seu sucessor ficou no cargo menos de um ano: Wanderley Vallim foi o último governador biônico da cidade.

Em 1991, uma nova página da história política do DF começou a ser escrita. A autonomia plena, assegurada pela Constituição Federal, garantiu aos brasilienses o direito de escolher o novo chefe do Executivo local. Ao todo, 776.739 eleitores compareceram às urnas há duas décadas e escolheram democraticamente Joaquim Domingos Roriz. Como nas eleições de 1994 ainda não existia a possibilidade de reeleição do governador, o candidato rorizista ao GDF foi Valmir Campelo (PTB), que foi derrotado no segundo turno por Cristovam Buarque. Quatro anos depois, com a aprovação da emenda que permitiu a reeleição, Cristovam tentou permanecer no GDF, mas acabou derrotado por Joaquim Roriz, que conquistou seu terceiro mandato ; o segundo pelo voto direto.

Em 2002, Roriz foi reeleito e permaneceu à frente do Palácio do Buriti até abril de 2006. Como o governador queria disputar uma vaga para o Senado Federal, teve que se licenciar e entregar o poder à sua vice, Maria de Lourdes Abadia. Ela ainda tentou ganhar a vaga de governadora no pleito de 2006, mas acabou derrotada pelo ex-senador e ex-deputado federal José Roberto Arruda. A trajetória do primeiro governador do DEM e as idas e vindas da política brasiliense desde então ainda estão bem vivas na memória dos brasilienses. Caberá a Agnelo Queiroz curar as feridas e recuperar a autoestima dos moradores da capital federal.


"Que democracia é essa que não nos permite ficar perto nem ver nem ouvir quem elegemos?"
Márcia Regina da Paz, 37 anos, moradora do Cruzeiro Velho

Acompanhado de familiares, colegas e correligionários, o novo governador discursou e se emocionou na Câmara e no Palácio do Buriti. Mas brasilienses que tentaram acompanhar as solenidades acabaram frustrados: o telão queimou quando Agnelo recebia a faixa

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