Luiz Calcagno, Roberta Machado
postado em 02/01/2011 08:35
Com Carolina Vicentin, Izabel Tosacano, Yale Gontijo, Naiobe QuelemA festa da posse de Agnelo Queiroz atraiu centenas de brasilienses. Muitos queriam prestigiar o petista no momento em que assumia oficialmente o comando do Distrito Federal. Para outros, o objetivo era aproveitar o evento para incrementar a renda com a venda de alimentos. Como não poderia deixar de ser, sobrou espaço para protestos irreverentes em várias cidades e na Câmara Legislativa (CLDF), local onde ocorreu a cerimônia.
Mesmo com toda a movimentação do lado de fora da CLDF, o público ficou abaixo da expectativa. O tempo fechado e a manhã fria de sábado espantaram as pessoas. Segundo estimativa da Polícia Militar, apenas 500 cidadãos se animaram para ver o novo governador. A estimativa era entre 10 mil e 20 mil pessoas. A PM mobilizou cerca de mil homens e 30 viaturas para manter a segurança na Casa e na Praça do Buriti.
Com muitos agentes de segurança para o público escasso, o efetivo policial não teve dificuldades em manter as pessoas atrás do cordão de isolamento, onde o grupo aguardou por até duas horas embalado ao som de sucessos nacionais interpretados pela banda dos Bombeiros Militares. Agnelo chegou à Câmara com quase uma hora e meia de atraso e subiu rapidamente a rampa para entrar no prédio.
Otimismo
O funcionário público Cacildo de Sousa, 48 anos, começou o ano otimista. Ele e a esposa, Valdelina dos Santos, 46, acordaram cedo para acompanhar a movimentação em frente à CLDF. Diferentemente da maioria que se aglomerava diante do prédio, o casal disse não ter ligação com militâncias políticas ou qualquer outro órgão de classe. ;Viemos depositar um voto de confiança no novo governador. Esperamos mudanças em relação ao governo passado. Espero que ele invista em saúde, educação e segurança. Brasília, como capital, deveria ser referência nacional nessas áreas;, declarou Cacildo.
Quem também se dirigiu até a Câmara para manifestar apoio ao novo governo foi a coreógrafa Gis;le Santoro, 71 anos. Viúva do maestro Cláudio Santoro (1919 ; 1989), a ex-bailarina dançou na rampa do Palácio do Planalto no dia da inauguração de Brasília, há 50 anos, e se disse muito decepcionada com a condição da cidade atualmente. ;Eu e o Claudio entregamos nossa alma por essa cidade. Chegamos aos 50 anos de forma trágica. Se Claudio estivesse vivo, estaria muito decepcionado. Tenho esperança que o novo governo dê um novo rumo para a capital, principalmente na área da cultura;, disse.
Ambulantes
Os ambulantes chegaram cedo à CLDF. Morador da Candangolândia, Júnior Campos, 28, vendia ;camisetas da posse;. Ele trabalha como segurança, mas quis ganhar um dinheiro extra no início do ano. Vermelhas e rochas, as vestimentas tinham como estampa a estrela do PT com os nomes de Dilma Rousseff e Agnelo. Júnior veio com os dois irmão e os três ficaram instalados na parada de ônibus, protegidos da chuva, oferecendo o produto a quem passava. ;Sempre fui petista, sempre fiz campanha, mas essas camisas fomos nós que fizemos. Primeiro eu procurei saber se já tinha gente vendendo. Como vi que não, aproveitei;, contou.
O pasteleiro Alexsander Levi, 20 anos, trabalhou no réveillon na Esplanada e emendou com a posse do governador Agnelo Queiroz. ;Dormi na Kombi mesmo, não vale a pena ir para casa;, disse o rapaz, que mora em Samambaia. Alexsander contou com ajuda da mãe e do pai nas vendas e espera lucrar quatro vezes mais do que em dias normais.
Os ambulantes, que se concentraram em frente ao Palácio do Buriti, na manhã de ontem, dividiram espaço com militantes do PT e do PMDB, partido de Tadeu Filipelli, vice de Agnelo. O governador ganhou muitas faixas de apoio, mas também foi cobrado pelos eleitores. ;Nós vamos acompanhar a execução das propostas dele, estamos aqui para fiscalizar;, afirmou Cláudia Regina Carvalho, diretora de assistência social da Liga das Mulheres ; grupo independente que conta com uma representante em cada cidade do Distrito Federal.
Caixões dão o tom dos protestos
Por volta de 10h50, quando a posse dos deputados na Câmara chegava ao fim, uma van amarela estacionou na parada de ônibus em frente ao órgão. No veículo estavam uma bolsa e uma meia cheia de cédulas de mentira, além de um caixão azul e preto de quase cinco metros, com estrutura de bambu e revestido de papel. Para os curiosos que se aglomeravam em volta, uma faixa com dizeres em letras garrafais não deixava dúvida: ;Funeral da Desonra ; Ato Permanente por uma Brasília melhor: sem Rorizismo;.
A ideia foi de um grupo de 12 amigos. ;A inspiração veio de um editorial do Correio que falava sobre o Funeral da Desonra. Temos de fazer disso uma ação permanente. Afinal, não podemos nos esquecer da corrupção que tomou o DF nos últimos anos;, enfatiza o professor aposentado Dejair Rodrigues, 58 anos. A urna foi enfeitada com fotos do escândalo de corrupção que veio a público com a operação Caixa de Pandora e dizeres de adeus para Joaquim Roriz. A peça e o grupo que encenava o cortejo atraíam a atenção de curiosos. Quem passava não deixava de comentar ou de aplaudir o ato.
O casal de namorados Alessandro Silveira, 26 anos, e Laiane Furtado, 20, ambos funcionários públicos moradores de Águas Claras, estava entre os que aplaudiram a iniciativa do grupo. ;Achei a manifestação muito válida. Fica a torcida para que eles tenham realmente enterrado a corrupção;, alfinetou Alessandro. ;Espero que desse enterro possa nascer uma nova era;, completou Laiane.
Após a posse na Câmara, o grupo seguiu para o Palácio do Buriti, onde cerca de 3 mil pessoas aguardavam a transferência de faixa de Rogério Rosso para Agnelo. Os professores efetivos aprovados no último concurso da Fundação Educacional também aproveitaram a posse para reivindicar a contratação. E, assim como os 12 amigos, também levavam um caixão. ;Nós temos 4 mil pessoas aprovadas, mas há um edital aberto para a contratação de professores temporários. Queremos que Agnelo resolva essa situação;, destacou o professor Samuel Fernandes da Silva.
Descontentamento
Protestos contra Agnelo também marcaram o evento. Por volta das 8h, cerca de 10 moradores da Estrutural se posicionaram no canteiro central, ao lado da Câmara, por onde passavam políticos e convidados para a posse do atual governador. Com faixas de protesto, os manifestantes pediam a Agnelo que ouvisse a comunidade: ;Nós aceitamos e confiamos na volta do PT. Cristovam Buarque pediu para o governador eleger alguém da cidade. Mas empurraram a Dona Socorro, que é professora lá, mas não mora na Estrutural;, disse o presidente da Associaçao Comercial, Raimundo Braga.
Na praça em frente ao Palácio do Buriti, outro grupo protestava sobre o mesmo motivo. Desta vez, moradores de São Sebastião também carregavam um caixão, como símbolo da morte da democracia. ;O governador nomeou Janine Barbosa como administradora, que nem conhecemos e não é moradora da cidade;, disse professora Milce Maria de Souza, 44 anos. Ela ressaltou que desde a última sexta-feira a comunidade faz protestos. ;E, a partir de segunda-feira, se Agnelo não nos atender, invadiremos a Administração;, ameaçou.