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Distrito Federal tem índice de inflação menor do que o nacional

Em 2010, o índice local ficou em 5,43%, contra os 5,79% registrados no país. Aqui, como em todas as unidades da Federação, os alimentos foram os grandes vilões

postado em 05/01/2011 08:00
Marisa Tanaka, dona de um restaurante, disse que devido à alta da carne foi obrigada a aumentar os preços do cardápio em R$ 5Sobreviver custou mais caro para os brasilienses em 2010 do que no ano anterior. Entretanto, a inflação registrada no Distrito Federal ficou abaixo da nacional. É o que revela a medição do Índice de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), tendo por base os preços da primeira quinzena do último mês. No acumulado de 12 meses do ano recém-terminado, as despesas pressionaram 5,43% no DF, contra 5,05% e do perído anterior. No país, o peso inflacionário foi de 5,79%, contra 4,18% em 2009.

Tanto no Distrito Federal quanto no país, alimentos e bebidas foram os principais responsáveis pela elevação dos gastos rotineiros. Condições climáticas ; chuvas no início de 2010 e estiagem a partir do segundo semestre ; contribuíram para a escassez e o encarecimento de itens de consumo que fazem parte do dia a dia dos brasileiros. Tomate, batata-inglesa, leite, feijão, carne bovina, pão e derivados do trigo estão entre os produtos que tiveram altas acentuadas ao longo do ano que acabou.

;O excesso de chuvas afetou as lavouras. Já a seca, que foi mais prolongada do que o usual, teve efeitos sobre carne, leite e trigo. Prejudicou as pastagens e os rebanhos;, explica Irene Machado, técnica do IBGE e uma das responsáveis pelo IPCA.

Ela lembra que o clima não foi o único fator que contribuiu para preços mais salgados. No caso de alguns alimentos, a conjuntura econômica teve seu papel. O crescimento da demanda interna e o aumento das exportações de carne bovina, por exemplo, juntaram-se aos rigores do período seco e ajudaram a empurrar os valores do produto para o alto.

O economista Nilton Marques, professor do Centro de Estudos Avançados e Multidisciplinares (Ceam) da Universidade de Brasília (UnB), também chama a atenção para a dinâmica da oferta e da demanda. ;Os preços internacionais do açúcar, do trigo, da carne e outras commodities subiram. O produtor prefere vender lá fora do que aqui dentro. Simultaneamente, o poder de compra dos brasileiros cresceu e a procura no mercado doméstico também aumentou;, diz ele.

Marques diz que não é possível apontar uma das duas influências ; climática ou de movimentos de compra e venda ; como a principal responsável pelo encarecimento do custo de vida. ;É uma combinação de fatores. Não há como prever e não se sabe exatamente como a pressão inflacionária começou.;

Mudança no cardápio
No restaurante e lanchonete comandado pela empresária Marisa Tanaka, no Sudoeste, a elevação nos preços dos alimentos foi sentida no orçamento mensal ao longo de todo o ano de 2010. ;Feijão, tomate, batata, todos fazem parte da nossa lista de compras. Mas o que mais pesou foi o aumento da carne, principalmente a de primeira;, conta Marisa.

O custo mais alto acabou indo parar no cardápio. Os pratos executivos com filé mignon oferecidos pela casa, que custavam R$ 13,90 até a metade do ano, tiveram aumento de R$ 5 e atualmente são vendidos a R$ 18,90. ;Chegou uma hora que não teve jeito. A solução foi aumentar o preço;, afirma Marisa Tanaka.

Para o economista Júlio Miragaya, presidente do Instituto Brasiliense de Estudos da Economia Regional (Ibrave), o crescimento da inflação frente a 2009 no DF e no país não constitui motivo de alarme. Ele acredita em uma desaceleração da economia e em uma consequente acomodação dos preços no ano de 2011.

;Há uma previsão de que o PIB (Produto Interno Bruto) vai fechar com alta de 8% em 2010. Mas ele vem de uma recuperação, por causa da queda de 0,6% em 2009, ano de crise. Para 2011, o PIB deve subir de 4,5% a 5%, então não há por que se preocupar com a inflação;, afirma o economista. Ele teme que os temores na alta da inflação motivem elevação da Selic, a taxa básica de juros da economia brasileira. ;A inflação está dentro da meta de 4,5%, com dois pontos percentuais para cima ou para baixo. Juros altos podem acarretar um desaquecimento acentuado da atividade econômica;, defende.

Freio no consumo
Um mercado de consumo aquecido significa demanda elevada por bens e serviços, o que pode causar aumento da inflação. Para evitar que isso aconteça no Brasil, o Comitê Nacional de Política Monetária (Copom) do Banco Central controla os juros da economia brasileira, aumentando ou diminuindo a taxa básica. A Selic sofreu a última alta em julho, e atualmente está em 10,75%. Para janeiro, é esperado que o Copom faça uma nova elevação, a fim de conter o ímpeto do crédito e da demanda.

Variações em 2010
Confira o que contribuiu para elevar o custo de vida no ano passado

No Distrito Federal Alta
Alimentação e bebidas - 11,96%

Despesas pessoais** - 7,65%

Vestuário - 6,88%

Habitação - 6,13%

Educação - 6,07%

Saúde e cuidados pessoais - 5,35%

Comunicação - 1,33%

Artigos de residência - 1,07%

Queda
Transportes - 0,55%

Índice geral: 5,43%, contra 5,05% em 2009

No Brasil Alta
Alimentação e bebidas - 10,50%

Despesas pessoais - 7,32%

Vestuário - 6,85%

Educação - 6,21%

Habitação - 5,04%

Saúde e cuidados pessoais - 4,94%

Artigos de residência - 3,49%

Transportes - 2,39%

Comunicação - 0,69%

Queda
Nenhum item caiu de preço Índice geral: 5,79%, contra 4,18% em 2009

*Dados segundo Índice de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) acumulado em 12 meses, até 13 de dezembro último

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) **Inclui recreação, fumo, fotografia e filmagem

PARA SABER MAIS
Termômetro da produção
O Produto Interno Bruto (PIB) representa a soma em valores monetários de todos os bens e serviços finais produzidos numa determinada região ; quer seja, países, estados, cidades ;, durante um período determinado. O PIB é um dos indicadores mais utilizados na macroeconomia com o objetivo de mensurar a atividade econômica de uma região. Seu crescimento representa uma economia aquecida. Seu decréscimo, por outro lado, representa desaceleração e risco de estagnação.

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