Renato Alves
postado em 07/01/2011 08:00
Para quem viaja em veículo pequeno ou médio, a BR-060 ainda é a melhor opção de rota entre Brasília e Goiânia, mesmo após a abertura de uma cratera em Alexânia (GO) (veja Memória). Impedidos de passar pelo desvio improvisado de 2km, os caminhões e ônibus estão destruindo as rodovias federais e estaduais das duas rotas alternativas. Além dos buracos provocados pelo intenso e pesado tráfego, outros antigos problemas dessas estradas colocam em risco as vidas de motoristas, passageiros e dos milhares de moradores dos povoados e municípios cortados por elas.O Correio percorreu os quase 500 km dos dois trajetos alternativos. Em nenhum ponto encontrou placa informando as condições das estradas. A reportagem constatou a degradação acelerada das pistas, em especial nos trechos urbanos, onde, para piorar, pedestres, motos, ciclistas e carros dos habitantes locais cruzam as rodovias a todo momento. Grande parte dos caminhos não tem acostamento nem a sinalização elementar, informando os obstáculos à frente, o que potencializa o risco de acidentes.
Quem parte de Brasília e escolhe a volta pela BR-070 se depara com os problemas logo no início da viagem. Em Águas Lindas, uma das pistas no sentido Goiânia do único viaduto da rodovia está interditada por causa de rachaduras. As fendas reabrem mesmo após duas operações para tampá-las, feitas pelo Departamento Nacional e Infraestrutura de Transportes (Dnit). A via afunda com o visível deslocamento da encosta. A opção de desvio, a pista marginal, não tem asfalto. Ele foi levado pelas águas das chuvas e o trânsito de veículos.
O asfalto também desapareceu no fim do perímetro urbano, onde termina a duplicação da BR-070. Mas não há placas alertando a redução de faixas, nem a falta de asfalto e a buraqueira nos próximos 800m. No mesmo trecho, veículos de todo tipo fazem retorno proibido. Uma carreta carregada com alimentos congelados tombou no local na madrugada de ontem e ficou atravessada nos dois lados da pista de mão dupla durante todo o dia, provocando congestionamento de quase 5km e obrigando motoristas a outro desvio, por Brazlândia (DF).
Dono de uma borracharia em Edilândia, distrito de Cocalzinho (GO), Pedro Batista da Silva, 39 anos, é um dos poucos satisfeitos com o aumento no fluxo de veículo na BR-070. ;Antes da cratera em Alexânia, eu recebia uns 50 clientes por dia. Hoje, são mais de 150;, ressalta. Trabalho triplicado graças também à buraqueira no trecho entre Edilândia e Corumbá, histórica cidade goiana. ;Os buracos nessa estrada eram do tamanho de um copo. Hoje, estão maiores que uma panela;, comenta o caminhoneiro Martinho Neto da Silva, 51, que há dois meses transporta minério de Goiás para Brasília.
Turismo ameaçado
A interdição parcial da BR-060 afeta não só quem faz o trajeto Brasília-Goiânia e os moradores dos desvios. No período de férias, turistas de toda parte do país e, em especial, os brasilienses enfrentam um tráfego incomum e inúmeras armadilhas nas estradas que levam aos principais destinos goianos. A BR-070, por exemplo, é uma das opções para se chegar às centenárias Pirenópolis e Cidade de Goiás, mais conhecida como Goiás Velho. Já a outra rota alternativa, que inclui a BR-040 e a GO-010, leva a Caldas Novas e Rio Quente, municípios famosos pelas águas termais.
Em Luziânia, a 57km de Brasília, onde o motorista deixa a BR-040 e pega a GO-010, os 8 km de rodovia estadual que cortam a área urbana são os mais danificados pelos caminhões e ônibus que antes usavam a BR-060. Metade do trecho está tomada por buracos e lama. Faixas da pista têm sido interditadas diariamente para reparos emergenciais feitos pela Prefeitura de Luziânia. No entanto, os próprios trabalhadores da operação tapa-buracos reconhecem a inutilidade do serviço, pois a chuva e os caminhões não dão trégua. Por lá têm passado, entre outros veículos pesados, todas as cegonheiras, carretas que transportam carros novos e antes usavam apenas a BR-060.
Entre tantas vítimas das péssimas condições da agora sobrecarregada GO-010, Abgail de Oliveira, 68 anos, esperava socorro à beira da estrada sem acostamento, ao lado de outras três mulheres e uma criança, na última quarta-feira. ;Caí em um buraco porque os caminhões que vinham atrás e pela frente não me deixaram desviar dele. Quando passei aqui da última vez, não tinha esse trânsito;, comentou ela, moradora de Taguatinga, que havia saído de casa 25 dias antes para passar férias em Caldas Novas.
A Polícia Rodoviária Federal (PRF) reconhece a precariedade e os riscos dos dois trajetos propostos pelo Dnit. Tanto que recomenda os donos de veículos pequenos e médios a continuarem usando a BR-060. ;Os caminhões e ônibus com três eixos não têm essa opção. Portanto, informamos a eles que a BR-070 tem menos curvas, mas está mais esburacada que a outra alternativa de desvio, que, além de maior em quilometragem, tem rodovias estaduais passando por grande número de cidades;, explica o inspetor André Luís Alves da Silva, da PRF.
Liberação na segunda
Ainda fechados para os transportadores de cargas e passageiros, os dois desvios que contornam a cratera de 60m de extensão na BR-060 devem ser liberados para ônibus e carretas de mais de 7 toneladas até a próxima segunda-feira. Segundo a assessoria de comunicação do Dnit, o reforço asfáltico que os atalhos recebem desde quarta-feira tem capacidade para suportar o peso desse tipo de veículo. Mas, enquanto as previsões não se concretizam, só passam pelo local carros de passeio, motocicletas e caminhões e ônibus não trucados.
Memória
Infiltrações comprometedoras
Os primeiros pedaços do asfalto do Km 24 da BR-060 desmoronaram no fim da tarde de 28 de dezembro. A proximidade de uma mina de água seria o principal motivo para a abertura do buraco, segundo técnico do Dnit. Análises preliminares apontaram infiltrações no subsolo. Elas comprometem a fundação da rodovia. A extensão inicial do buraco era de 40m, mas a cratera aumentou para 60m. As bordas do precipício viraram rampas. Responsáveis pelas obras descartaram riscos de mais deslizamento. Para resolver o problema, o Dnit assinou um contrato emergencial de R$ 10 milhões com uma empresa privada. A previsão é de que os trabalhos terminem em seis meses.