Cidades

Denúncias apontam que HBDF e HRSam recorriam a soro artesanal

Roberta Machado
postado em 08/01/2011 08:00
Ivan Rodrigues, do HBDF, afirma que a solução encontrada pelos enfermeiros aumentava o risco de contaminaçãoA Secretaria de Saúde do Distrito Federal comprou, como medida emergencial, 3.800 bolsas de soro glicosado a 5% para repor os estoques dos hospitais públicos. O custo da medida não foi divulgado. Segundo depoimentos de funcionários de dois hospitais, enfermeiros e técnicos de enfermagem têm contornado a falta do medicamento, nas últimas semanas, com a mistura de água destilada e glicose. As denúncias são do Hospital de Base (HBDF) e do Hospital Regional de Samambaia (HRSam).

O soro glicosado é usado especialmente para reposição de nutrientes de pacientes que sofrem choques e traumas ou distúrbios metabólicos. Para manipular a substância, os funcionários dos hospitais adicionavam a um saco de 500ml de água destilada cinco ampolas, de 1ml cada, de glicose. Para a produção do soro a 5%, era usada a glicose a 5%.

O enfermeiro Ivan Rodrigues, do Hospital de Base, explicou que a direção do centro de saúde foi alertada sobre a baixa do medicamento nos estoques. Segundo ele, a administração do hospital sempre esteve ciente das dificuldades enfrentadas pelos médicos e enfermeiros, assim como da solução encontrada para suprir a necessidade do soro. ;A direção falou que tem de ser feito dessa forma. Ninguém assume a responsabilidade;, acusa o enfermeiro.

Segundo o profissional, o maior risco que os pacientes sofrem é o de contaminação. Mesmo usando luvas, os enfermeiros e os técnicos de enfermagem não contam com ambientes apropriados para fazer a manipulação do soro. Ivan ainda ressalta o perigo de troca de ampolas por distração ou por despreparo profissional. ;As pessoas já são passíveis de errar. Nessa situação, o risco aumenta;, ressalta. O erro poderia levar a mudar a concentração do medicamento, ou até mesmo à mistura de uma substância indesejada no soro. O risco é maior ainda para pacientes que precisam usar grandes quantidades do medicamento.

Um enfermeiro do HRSam, que preferiu não se identificar, ressalta que a situação emergencial também prejudicou os profissionais do centro. ;Eles estão num estresse muito grande porque têm de usar material que não têm. Pegar as ampolas de glicose, diluir, aspirar e colocar no soro dá muito mais trabalho que usar o soro pronto. É lógico que aumenta muito mais a carga de trabalho;, denuncia. Em ambos os casos, os enfermeiros ressaltam que a iniciativa partiu dos próprios funcionários, que não sabiam o que fazer para tratar os pacientes sem o medicamento essencial.

Situação caótica
Para o diretor do Conselho Regional de Farmácia, Claudio Chaveiro, o uso da técnica inaprorpiada não é prova de irresponsabilidade dos enfermeiros, e sim da situação caótica da saúde no DF. ;Mas é uma medida muito perigosa, uma vez que o enfermeiro pode colocar uma quantidade errada, e ele não tem habilitação técnica para fazer esse soro;, afirma o diretor. Segundo Cláudio, para manipular o medicamento, o hospital precisa ter uma câmara esterilizada e uma máquina de diluição apropriada, além de também contar com um farmacêutico.

As 3.800 bolsas de soro compradas em caráter emergencial pela Secretaria de Saúde chegaram à central de medicamentos do DF na tarde de quinta-feira e foram distribuídas de acordo com a necessidade de cada hospital ao longo do dia de ontem. Somente ao HBB, foram entregues 500 bolsas. ;Meu entendimento é de que está faltando tudo na rede;, enfatizou o secretário de Saúde do DF, Rafael de Aguiar Barbosa. ;Encarei a situação com tranquilidade. Se misturaram as substâncias, é porque houve alguma prescrição médica. Agora, quero saber quem morreu por falta de soro;, declarou Barbosa. Segundo nota distribuída pela secretaria, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) vai apurar as denúncias de manipulação do soro.

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