Jornal Correio Braziliense

Cidades

Estacionar nas áreas públicas do DF fica mais caro 100%

Diante da carência de espaços, administradoras ditam as regras e elevam os preços como bem entendem. As vagas para veículos viram um grande negócio

Mais de 1,1 milhão de carros nas ruas e limitações físicas para expansão de estacionamentos públicos transformaram o Distrito Federal no paraíso das administradoras de garagens privadas. Com poucas despesas e liberdade para impor os valores que consideram justos, essas empresas encontraram terreno fértil e passaram a movimentar um mercado milionário. As construtoras também se atentaram ao negócio rentável. Alguns dos novos prédios comerciais da cidade estão sendo erguidos com espaços reservadas para vagas rotativas.

A cada ano, fica mais caro parar o carro em estacionamentos privados da capital do país. Levantamento feito pelo Correio em 15 pontos do DF mostra que, em oito deles, houve reajuste ao longo de 2010 ou no início deste ano. Os aumentos variaram entre 12,5% e 100%. Como o mercado é livre, os preços não podem ser controlados. Cabe aos motoristas decidirem se pagam até R$ 6 para estacionar o veículo por uma hora. O problema é que, diante da dificuldade de encontrar vagas públicas, em muitos casos não sobra alternativa.

Livres
Nem governo nem órgãos de defesa do consumidor podem intervir nos valores cobrados. Por se tratar de uma relação de consumo como outra qualquer, as empresas ajustam as tabelas como querem. O movimento costuma cair nos dias seguintes às alterações de preço, mas em pouco tempo volta ao normal. Na tentativa de amenizar os efeitos negativos dos aumentos, os empresários gostam de comparar a realidade da capital federal com a de outros centros urbanos, como São Paulo, onde usar estacionamentos privados custa bem mais.

Dos estabelecimentos que mexeram na tabela, todos elevaram os preços com percentuais pelo menos o dobro da inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S), que fechou 2010 em 6,24%. Os donos das empresas adotam o discurso de sempre e se dizem obrigados a repassar os custos ao consumidor. Justificam o tamanho dos percentuais com o argumento de que precisam investir em tecnologia e automação e não podem escapar de despesas com manutenção de equipamentos e impostos.

Os gastos com a folha salarial também aparecem entre as alegações que, para o setor, legitimam os reajustes. O presidente do Sindicato dos Empregados em Estacionamentos e Garagens do DF (Seeg-DF), Raimundo Domingos, se revolta com a explicação dos patrões. ;Eles estão colocando todo esse lucro no bolso deles. Aplicam esses reajustes para enriquecer ainda mais às custas dos funcionários;, comenta. A categoria pediu 12% de aumento no fim do ano passado e ganhou 8%. O piso salarial é de R$ 603,22 e o tíquete-alimentação, R$ 7,75 por dia.

Com menos de um ano de funcionamento, o Iguatemi dobrou o valor do estacionamento na última segunda-feira. Por nota, a gerência do shopping explicou que a alteração na tabela se deve aos reajustes de tarifas públicas. O projeto do Iguatemi não contemplou vagas públicas. No Conjunto Nacional, o preço das duas primeiras horas passou de R$ 4 para R$ 4,50 em novembro último, às vésperas do período de maior movimentação no shopping. O gerente de marketing, João Marcos Mesquita, destacou o alto custo com energia. ;A garagem é subterrânea, precisa de luz o dia inteiro.;

Em outubro de 2009, quando o ParkShopping começou a cobrar por estacionamento, as primeiras quatro horas custavam R$ 5 e cada hora ou fração adicional, R$ 1. Dois meses depois, em meio a muita reclamação por parte dos clientes, o shopping passou a cobrar R$ 0,05 o minuto, o que equivale a R$ 3 por hora. O Boulevard Shopping, no fim da Asa Norte, estuda como fará a cobrança.

As cancelas e os guichês estão prontos, mas a negociação com o hipermercado Carrefour, que ocupa o mesmo prédio do centro comercial, ainda não foi concluída.

Quanto custa parar o carro
Confira o preço cobrado nos principais
estacionamentos privados
do Distrito Federal:
; Onde houve reajuste
em 2010/2011

Shopping Iguatemi
Antes: R$ 3 as duas primeiras horas e R$ 1 por hora/fração adicional
Agora: R$ 3 a primeira hora e R$ 2 por hora/fração adicional

Liberty Mall
Antes: R$ 6 as duas primeiras horas e R$ 2 por hora/fração adicional
Agora: R$ 6 a primeira hora, R$ 3 a segunda e, a partir da terceira, R$ 2 por hora/fração adicional

Complexo Brasil 21
Antes: R$ 5 a primeira hora, R$ 3 a segunda e, a partir da terceira, R$ 1,50 por hora/fração adicional
Agora: R$ 6 a primeira hora, R$ 3 a segunda e, a partir da terceira, R$ 2 por hora/fração adicional

Conjunto Nacional
Antes: R$ 4 as duas primeiras horas e R$ 0,50 a cada 15 minutos adicionais
Agora: R$ 4,50 as duas primeiras horas e R$ 0,50 a cada 15 minutos adicionais

Alameda Shopping
Antes: R$ 2 as duas primeiras horas e R$ 1 por hora/fração adicional
Agora: R$ 2,50 as duas primeiras horas e R$ 1 por hora/fração adicional

Águas Claras Shopping
Antes: R$ 1 a hora
Agora: R$ 2 a hora

Hospital Anchieta (Taguatinga)
Antes: R$ 3 a hora
Agora: R$ 3,80 (garagem coberta) ou R$ 3,50 (garagem descoberta) a hora

Hospital Santa Lúcia
(Asa Sul)
Antes: R$ 2,50 a hora
Agora: R$ 3 a hora e R$ 3 por hora/fração adicional

; Onde não houve reajuste em 2010/2011

ParkShopping
R$ 0,05 o minuto nas duas primeiras horas. Na terceira, quarta e quinta horas, não há cobrança. A partir da sexta, é retomado o valor de R$ 0,05 o minuto.

Brasília Shopping
R$ 4 as duas primeiras horas e R$ 0,50 a cada 15 minutos adicionais

Taguatinga Shopping
R$ 3 as três primeiras horas e R$ 1 por hora/fração adicional

Terraço Shopping
R$ 3 as três primeiras horas e R$ 0,30 a cada 15 minutos adicionais

Pátio Brasil Shopping
R$ 6 as duas primeiras horas e R$ 2 por hora/fração adicional

Aeroporto
R$ 5 a primeira hora, R$ 3 a segunda, R$ 2 a terceira e, a partir da quarta, R$ 1 por hora/fração adicional

Hospital Santa Luzia
R$ 3 a hora


Memória
Negócio rentável
Em janeiro do ano passado, o Correio noticiou que uma vaga de garagem na região central de Brasília ou no Setor Hospitalar Sul chegava a ser vendida por
R$ 50 mil. Na época, o equivalente a duas casas em Águas Lindas de Goiás, município do Entorno. O metro quadrado das vagas mais caras valia R$ 4,1 mil, quase o dobro do que era cobrado em imóveis do segmento econômico e metade de preços no Setor Noroeste. A reportagem mostrou ainda que, em lançamentos de prédios, surgem compradores dispostos a arrematar 10 vagas de uma só vez, para investir em aluguel. Ter direito a um espaço de 12m para parar o carro pode custar entre R$ 120 e R$ 400 por mês, dependendo da localização. Apesar de ser prática difundida em cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, o comércio de vagas em Brasília começou há cinco anos.