postado em 11/01/2011 07:41
A maior e mais problemática unidade de saúde pública de Brasília, o Hospital de Base do Distrito Federal (HBDF), deve receber nos próximos dias uma dose extrade investimentos. Ontem pela manhã, o governador do DF, Agnelo Queiroz (PT), o vice, Tadeu Filippelli (PMDB), e o secretário de Saúde, Rafael Aguiar Barbosa, visitaram as dependências do centro hospitalar ; algumas das quais malconservadas, como a farmácia ; e anunciaram um pacote de medidas na tentativa de melhorar o atendimento no local. A primeira ação é a liberação imediata de R$ 3,1 milhões para acelerar a conclusão das obras do terceiro e do sétimo andares no prédio de internação, que passam por reparos há mais de quatro anos (leia Memória).
Com o investimento suplementar, Agnelo calcula que 130 novos leitos de enfermaria serão oferecidos à população. Além disso, quatro leitos de UTI serão abertos. No projeto original, a previsão é que a benfeitoria seja entregue até o fim de junho, mas o petista espera encurtar esse prazo. O chefe do Executivo local também pretende dar mais agilidade à reforma do subsolo e dos blocos administrativos. ;Com isso, vamos facilitar o trânsito de pacientes e servidores e acabar com esse transtorno, porque uma obra dessa magnitude interfere demais na rotina do hospital;, frisou o governador.
Outro problema que Agnelo prometeu resolver em breve se refere à instalação de equipamentos no Centro de Materiais Esterilizados (CME). O setor opera com máquinas obsoletas, porém, o mais grave é que existem dezenas de aparelhos modernos encaixotados há mais de dois anos e empilhados nos corredores do HBDF, que só não estão em uso porque a logística do CME é inadequada para receber essas autoclaves (estufas poderosas que podem funcionar a vapor ou com produtos químicos). As mudanças no CME, segundo o secretário de Saúde, Rafael Barbosa, já estão licitadas e as obras devem começar na próxima semana.
Descredenciado
De acordo com o chefe da pasta, a precariedade do setor responsável pela limpeza dos materiais usados em procedimentos cirúrgicos fez o hospital perder o credenciamento no Ministério da Saúde para fazer transplantes. Sem o crivo ministerial, a unidade não recebe nenhum centavo do Sistema Único de Saúde (SUS) ao realizar esse tipo de procedimento. ;A obra do CME é prioridade total. Por conta disso, há cerca de um ano, o Hospital de Base foi descredenciado para fazer transplantes. Isso nos dá um prejuízo anual de quase R$ 2 milhões. Ou seja, estamos fazendo transplantes e não recebemos nada por isso;, disse o secretário.
Outro grande revés do hospital, lembrou Barbosa, foi a perda do título de ;hospital de ensino;, há cerca de 20 dias. Se nada for feito para mudar o cenário, a unidade ficará sem uma receita mensal de R$ 500 mil. ;Trataram o HBDF com uma irresponsabilidade muito grande nos últimos anos, e essa visita de hoje (ontem) é para restabelecer o verdadeiro papel que esse hospital tem na nossa rede, o de referência de medicina em Brasília;, afirmou Rafael Barbosa.
Servidora há mais de 10 anos do HBDF, a técnica em enfermagem Maria Ferreira, 45, acredita que as coisas não se resolverão do dia para a noite. ;O hospital tem problemas que só se resolvem com uma profunda mudança. Acho que o Agnelo vai conseguir melhorar alguma coisa, mas fazer com que o Base volte a ser referência, isso vai levar tempo;, analisou Maria.
Radiografia
Além de maior, o Hospital de Base do Distrito Federal é o mais antigo do DF ; completou 50 anos em 2010. Distribuídos nos seus mais de 50 mil metros quadrados, trabalham cerca de 4 mil servidores, que atendem uma média de mil pacientes por dia em 36 especialidades.
A cada ano são realizadas aproximadamente 12 mil cirurgias no local.
Memória
Reestruturação não cumprida
Em 2007, o então governador José Roberto Arruda também escolheu o Hospital de Base do DF, no início de sua gestão, para anunciar medidas a fim de melhorar o atendimento no local. Entre as ações estavam a recuperação total do prédio, que incluía reforma dos banheiros, reestruturação da parte elétrica e elevadores novos, além do reabastecimento da rede. Tudo isso ao custo de R$ 60 milhões e com previsão de entrega em dezembro de 2008.
Depois de ter o cargo cassado pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE-DF) e de ser preso ; fatos
decorridos dos desdobramentos da Operação Caixa de Pandora, o ex-governador deixou um hospital que mais lembra um canteiro de obras, problema que não foi resolvido pelo governador-tampão Rogério Rosso (PMDB), durante seus oito meses de mandato. Por todos os lados do HBDF, é possível ver tapumes, escadas, telhas fora do lugar, poeira e sujeira. Outro grave problema que Arruda prometeu e não conseguiu resolver completamente foi a troca dos elevadores. Hoje, pelo menos sete não funcionam e outros dois operam em condições precárias.
Samu terá um posto
O atendimento do Serviço de Atendimento Móvel Urbano (Samu) do DF também deve sofrer alterações nos próximos dias. Agnelo Queiroz pretende criar um posto do Samu na emergência do Hospital de Base, mais especificamente no Centro de Politraumatizados. A ideia é que os socorristas do Samu não apenas deixem o paciente na porta do hospital, como é feito hoje. Com o novo modelo, eles vão acompanhar a vítima de trauma até a emergência, até que a pessoa esteja totalmente supervisionada por uma equipe médica do hospital. Para não sobrecarregar o Samu, mais profissionais serão contratados. ;Hoje, o Samu não entra no hospital. Não existe essa interface, que é muito importante na continuidade do tratamento. Para esse trabalho funcionar, vamos chamar mais gente da área de enfermagem para atuar no hospital;, destacou o secretário.
Buraco
Na visita, Agnelo e sua equipe percorreram o Bloco de Internação, o Centro de Hemodiálise, o CME, o Pronto-Socorro, a Unidade de Neurocirurgia e a Farmácia Central, onde o estado das instalações chamou a atenção. Logo na entrada, o governador observou um buraco imenso no teto ; o gesso caiu em virtude de uma infiltração. O petista também comentou as ações para não deixar a rede desabastecida, como a volta da Central de Compras da SES, que deixará mais célere o processo de aquisição de remédios. Essa medida foi anunciada ainda no primeiro dia da nova gestão no GDF, quando decretou-se estado de emergência na área da saúde.
Agnelo criticou com veemência a forma como os medicamentos são armazenados na farmácia. ;Vamos introduzir uma logística para fazer a distribuição mensalmente, de acordo com as necessidade dos hospitais. Nossa metodologia vai fazer com que a falta de medicamentos seja uma coisa do passado e também evitar o que vocês (jornalistas) viram lá dentro: como não se deve conservar medicamentos. Tudo sem controle, armazenado em condições precárias, fora da temperatura ideal, enfim, um absurdo completo;, criticou o governador. (SA)
Espera por atendimento no HRG foi longa na segunda-feira
>>Noelle Oliveira
A segunda-feira foi de muita espera para os pacientes que buscaram atendimento no Hospital Regional do Gama (HRG). Mesmo após a visita do governador Agnelo Queiroz, na última semana, a unidade continua em situação precária. Segundo os pacientes, durante todo o dia, apenas um médico atendia no pronto-socorro. A informação repassada a quem aguardava, era de que a equipe de atendimento só receberia reforço às 19h, quando outros quatro médicos trabalhariam no atendimento. Às 20h, no entanto, a fila de espera permanecia enorme. Desde as 17h, apenas pacientes com prioridade, como idosos e crianças, eram chamados para as consultas. A dona de casa Iraci Maria da Conceição, 63 anos, aguardava na fila desde o início da tarde. ;Meu remédio para problemas na tireoide acabou e eu passo muito mal sem ele, preciso de uma receita. É uma coisa simples, mas já faz horas que espero aqui e nada.;
Quem não estava na relação de prioridades, por sua vez, esperava desde a manhã o plantão noturno começar. O autônomo Rosivaldo Benício, 41 anos, não conseguia mais andar devido à dor que sentia na barriga. Ele está com uma infecção. Morador do Gama, ele chegou às 11h30 ao hospital acompanhado da mulher e, às 18h, ainda não havia sido atendido. ;Ele está só piorando e nem sabemos se será atendido hoje (ontem). Essa situação é um absurdo;, indignou-se Antonina Neta, mulher do paciente. O Correio procurou a direção do hospital, mas não obteve retorno.
Durante visita ao HRG, em 4 de janeiro, a equipe do novo governo prometeu construir uma nova unidade hospitalar na cidade. A situação atual do hospital foi considerada ;de calamidade pública; pelo secretário de Saúde, Rafael Aguiar Barbosa. Também foi constatado deficit no quadro de funcionários, bem como de medicação. Na ocasião, a secretaria informou que o edital do concurso da pasta para novos profissionais será lançado até o início da próxima semana, para que, em março, os novos funcionários já estejam trabalhando.